Os ecossistemas de inovação em Santa Catarina vêm se desenvolvendo de formas muito distintas entre si – e isso se deve às realidades locais, algumas muito mais avançadas que outras. Esta é a avaliação que um dos responsáveis pela criação do modelo dos Centros de Inovação catarinenses, o espanhol Josep Piqué, fez em Florianópolis três anos depois de iniciar um trabalho junto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e a Rede Catarinense de Inovação (Recepeti) para estimular a nova economia no estado.
Piqué é uma autoridade mundial na área. Atualmente preside a Associação Internacional de Parques de Ciências e Áreas de Inovação (IASP) e, à frente da Rede Catalã de Parques Científicos e Tecnológicos, ajudou a região de Barcelona a se tornar uma referência internacional no desenvolvimento de TI e inovação com o programa 22@Barcelona.
De volta a Florianópolis para uma palestra promovida pela Recepeti, a Clear Inovação e o Sebrae/SC no dia 7 de agosto, Piqué respondeu ao SC Inova sobre como ele avalia o modelo de desenvolvimento que ele próprio ajudou a construir e também sobre como empresas podem estimular a inovação e mudar um pouco a forma tradicional de pensar e fazer negócios.
SC Inova – Como o sr. avalia o crescimento dos ecossistemas de inovação em Santa Catarina? Por aqui, percebemos que algumas regiões se desenvolvem mais rápido que outras.
Josep Piqué – De fato, os ecossistemas de inovação estão se desenvolvendo de maneira diferente nas cidades catarinenses devido a várias realidades. É necessário que cada território entenda a situação em que está nas iniciativas de inovação: primeiro mapear a realidade existente, a partir daí aplicamos o Metamodelo (planejamento desenvolvido em conjunto com o governo de SC para o desenvolvimento dos centros regionais) que envolve inovação, internacionalização e informação combinados com os talentos locais, as características sociais e setoriais, além da conexão com as redes internacionais e também catarinenses.
A criação dos Centros de Inovação é um passo importante porém, a forma de estimular os processos não se acaba na construção de edifícios, tem que haver uma orquestração com todo o ecossistema inovador regional, com universidades e empresas.
“O ponto chave é que cada centro de inovação que se cria em SC deve responder e estar orientado ao potencial de seu entorno”, afirmou Piqué, em palestra na Capital. Foto: Recepeti/Divulgação
SC Inova – E como estimular outras cidades a se desenvolverem nesse sentido?
Josep Piqué – Santa Catarina é um estado bastante heterogêneo, há entornos bastante desenvolvidos e outros menos. No geral, o perfil do estado é de uma economia industrial bem desenvolvida e com pouco desemprego. O ponto chave é que cada centro de inovação que se cria deve responder e estar orientado ao potencial de seu entorno, seja em Lages, Chapecó, Blumenau ou Joinville. Em comum, eles precisam dar apoio não só à inovação econômica mas à inovação social, tem que ter inovação tecnológica vinculada ao seu potencial econômico e ter uma coordenação junto com outras regiões.
“A forma de estimular os processos não se acaba na construção de edifícios, tem que haver uma orquestração com todo o ecossistema inovador regional” – Josep Piqué, presidente da IASP
SC Inova – O modelo de Centros de Inovação baseado em recursos públicos é o ideal neste momento que o Brasil passa por uma crise econômica?
Josep Piqué – Os modelos de inovação podem ser tanto públicos quanto privados, mas o melhor, na minha opinião, é que sejam público-privados. Ainda assim, há muitos modelos que começam a partir do dinheiro público. Contudo, o importante é combinar as universidades que tenham recursos, não somente econômicos, mas de alunos e professores e também empresas que possam financiar a inovação ou startups que nasçam dentro destes ambientes de inovação. Portanto, minha aposta é numa lógica público-privada, onde se combina os recursos de ambos os lados.
No conceito de Tripla Hélice, a inovação é um processo dinâmico normalmente estimulado pela administração pública, depois entra a academia e as empresas. Quando a administração pública não estiver liderando, a universidade pode ser um centro de inovação, pois está muito ligada ao território. Em outros casos são as empresas que funcionam como agentes de inovação, liderando programas de corporate innovation.
SC Inova – Quais são as mudanças culturais necessárias no mundo corporativo para ser efetivamente inovador?
Josep Piqué – O mundo corporativo passa por um momento crítico e por isso precisa ouvir as startups. A melhor forma de mudar o mindset de inovação das empresas grandes e maduras é combinarem-se com startups e fazer ações e projetos conjuntos – formalizarem esta relação para que seja oportuna para ambos os lados.
(SCinova, 08/08/2017)
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