“Segurança se faz com estratégia e prosperidade”. O momento não poderia ser mais oportuno. Em 2017, o número de homicídios cresceu 11,4% em Santa Catarina. Florianópolis, em Joinville e Itajaí, a taxa de mortes violentas é superior a 10 para cada 100 mil habitantes. A Capital vive a pior onda de violência dos últimos cinco anos, acumulando mais de 100 mortes no primeiro semestre do ano. Sem pudor e sem rodeios, José Mariano Beltrame, ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, foi direto ao apontar os caminhos para conter o avanço da criminalidade: planejamento e cidadania.
Responsável pela implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), Beltrame não hesitou ao comparar, dadas as proporções, o avanço da criminalidade em Florianópolis com o que ocorreu no Rio de Janeiro ao palestrar na noite desta quinta-feira (2) na Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina), em evento promovido pela Escola do Legislativo.
“Você vem do aeroporto até aqui e vê como a Mata Atlântica dos morros está sendo desmatada para dar lugar a ocupações. Isso se cobra de quem, da polícia? Não, é do prefeito e do governador”, disse enquanto apontava que o abandono do Estado nas regiões mais carentes é uma das principais centelhas para o crescimento acelerado da criminalidade.
Para chegar ao modelo implantado das UPPs, Beltrame diz ter estudado a origem histórica do Rio de Janeiro e as transformações que a cidade passou, desde a chegada da Coroa portuguesa, em 1808, até a mudança da capital para Brasília. “Desde o princípio a polícia no Rio de Janeiro existia para servir o rei, não a população, e essas coisas estão no DNA da cidade”, afirmou. Ele ainda fez um paralelo sobre a vocação da cidade, que com a mudança da capital federal deixou de ter uma função administrativa para surgir o advento do turismo. “Vieram as drogas e muita gente ganhou dinheiro, ficou rica. Essas pessoas foram para os morros, porque é onde o Estado não está, alguém impera. E criaram seu próprio estado de direito. Eles criam as regras, punem e executam as penas”.
Recepcionado pelo deputado Gelson Merísio (PSD), que representou a Escola do Legislativo no ato, e de frente para o secretário de Segurança César Grubba, Beltrame não se intimidou ao falar que a classe política no país precisa rever suas políticas de relação com as classes sociais menos assistidas. E disse que na conjuntura atual, os morros e a sua população são “vacas sagradas” para garantir votos com políticas assistencialistas.
“Enquanto não se acabar com esse negócio de o político dizer para o cara construir que ele leva água e luz daqui a alguns anos vocês não vão mais querer ficar aqui. Imagina, quem vai respeitar o meio ambiente sabendo que o outro desmata para ocupar e nada acontece?”, disparou.
Enquanto esteve à frente da Secretaria de Segurança do Rio, entre 2007 e 2016, Beltrame disse que muitas vezes precisou resistir aos apelos políticos. Os primeiros atos da sua gestão levaram quase nove meses para serem aplicados, período que, segundo ele, foi pressionado realizar “pelo menos uma operação” para mostrar serviço: “A segurança pública não é prioridade no Brasil. Não se quer atacar a causa e foi isso que buscamos. Tem que ter planejamento e estratégia”, explicou.
(Leia na íntegra em Notícias do Dia, 02/08/2017)
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