Instrumento que orienta a expansão urbana, o Plano Diretor da capital catarinense, em vigor desde 2014, está sendo rediscutido. Na semana da audiência de conciliação entre o Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura, marcada para sexta (28), o G1 publica a série “Florianópolis no papel”, com três reportagens especiais sobre as principais questões que envolvem diferentes regiões da cidade.
A primeira reportagem engloba as áreas mais populosas dos distritos do Sul da Ilha e da região da Lagoa da Conceição – Campeche e da Barra da Lagoa. Limites para a proteção da natureza, medidas para um contorno viário e restrições ao crescimento da população estão entre as principais preocupações apresentadas pelos moradores durantes as audiências públicas do Plano Diretor de Florianópolis.
Veja abaixo as propostas do Plano Diretor em discussão para os distritos do Campeche e da Barra da Lagoa:
O Campeche é o distrito do Sul da Ilha com o maior número de novos habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Censo de 2000, a população era de 18.570 habitantes. Dez anos depois, aumentou para 30.028.
Em um estudo de Paulo Campanário citado na audiência pública distrital, a previsão é de que o distrito tenha 53.937 habitantes em 2025, quando terminar a vigência do Plano Diretor. Esse número aumenta para 73.409 durante a alta temporada. O distrito do Campeche engloba também o Rio Tavares e o Morro das Pedras.
Para o superintendente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Ildo Rosa, entre as principais propostas estão mudanças no zoneamento para restrições à verticalização, “para que as APPs [Áreas de Preservação Permanentes] sejam respeitadas”.
Houve também mapeamento das áreas inundáveis do bairro. “A partir dessa definição, será desestimulada a ocupação do solo [nesses locais]”, afirmou o superintendente.
Além disso, Ildo Rosa citou a questão do tamanho dos prédios. “Há um entendimento e preocupação dos representantes [distritais] que a ocupação seja de até dois andares. É uma postulação da comunidade que está sendo atendida pela nossa equipe do Ipuf”, disse.
O representante distrital do Campeche, Ataíde Silva, mostrou-se insatisfeito com o plano apresentado na audiência pública. “Não existe plano diretor sem primeiro analisar o recurso natural que tu tens. A estrada é feita pelo homem, a natureza não. Água não se fabrica. A cidade de Florianópolis não pode ter um plano diretor contra isso”, afirmou.
“Não pode fazer um plano diretor para 1,5 milhão [de pessoas]. Não tem mobilidade, não tem saneamento, não tem área de lazer, colégio, é um absurdo”, continuou. Ataíde também enfatizou a questão ambiental: “APP não pode virar APL [Área de Preservação com Uso Limitado]. Tem que dar um laudo técnico dizendo por que fez isso. Vai ter que assinar embaixo que uma restinga não é restinga”.
A população da Barra da Lagoa aumentou em 1.343 moradores em 10 anos. Pelo Censo feito em 2000, eram 4.331 pessoas. Em 2010, eram 5.614 habitantes. De acordo com o estudo de Paulo Campanário citado pelo Ipuf na audiência pública da Barra da Lagoa, o distrito terá 9.402 residentes em 2025, quando terminar a vigência do Plano Diretor. Essa população aumenta para 24.052 na alta temporada. O distrito da Barra da Lagoa engloba também a Fortaleza da Barra.
Confira propostas do plano diretor para a Barra da Lagoa:
Sobre o que foi proposto para o distrito, o superintendente do Ipuf falou sobre a limitação para construções. “Um zoneamento claro, de no máximo dois pavimentos, que não fomente nenhum tipo de verticalização na Lagoa”, afirmou.
“Tem que balizar a ocupação daquele território”, completou. Rosa também falou sobre a importância da preservação da natureza local: “As condicionantes ambientais têm que ser levadas em conta. O plano para a Lagoa está razoável. Crescimento bastante reduzido com a preservação da paisagem”.
Outra mudança de zoneamento foi atendida pelo Plano Diretor, conforme o representante. “Na base da SC-401, onde tem a igreja, nos anos 1990 já foi uma área residencial e passou a ser APL com ocupação consolidada”, declarou.
Porém, nem todos os moradores estão satisfeitos. “Ainda tem um grupo do loteamento Cidade da Barra que acha que tem que ser área residencial exclusiva. O plano prevê centralidades, tu podes colocar um escritório, um pequeno comércio”, explicou.
Atualmente, o plano diretor em vigor é o da lei complementar 482, de 17 de janeiro de 2014. Enquanto ele ainda estava em discussão, em 2013, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública pedindo que a tramitação fosse trancada. O MPF argumentou que não houve participação popular efetiva, da forma recomendada pela lei.
A Justiça Federal chegou a conceder liminar que trancava a tramitação, porém essa decisão foi anulada em segunda instância.
Após a aprovação do projeto, contudo, a Justiça Federal julgou o pedido do MPF, em março de 2014, e determinou que outras 13 audiências públicas e uma audiência final sobre o Plano Diretor fossem feitas. A prefeitura recorreu, mas, dessa vez, a decisão foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em julgamento no final de maio de 2015.
A partir dessa decisão, o MPF entrou com uma ação de cumprimento de sentença na Justiça Federal em dezembro de 2015. Desde então, houve o cancelamento da audiência final por duas vezes. A decisão mais recenteda Justiça Federal marcou para 28 de julho uma audiência de conciliação entre MPF e prefeitura, para que acordem em uma data para a audiência final.
Para a elaboração da minuta em discussão do Plano Diretor, foram formados núcleos em cada região da cidade, com representantes do poder público, de movimentos sociais, culturais, ambientalistas e de acessibilidade, de entidades de classe e sindicatos, entidades empresariais e conselhos de segurança. No Plano Diretor, a cidade é dividida em 13 distritos.
(G1, 26/07/2017)
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