Diagnóstico mostra quem são e como vivem as pessoas em situação de rua na Grande Florianópolis

Em pé nas imediações da Superintendência Regional do Trabalho, no Centro de Florianópolis, Fábio Luiz Ribeiro, 41 anos, está há 10 deles morando nas ruas da Capital. Ele se enquadra em muitos dos dados extraídos do Diagnóstico Social Participativo da População em Situação de Rua, projeto que transformou homens e mulheres em pesquisadores da própria condição, para conhecer quem são e como vivem pessoas que moram na rua. A situação dele e de outras centenas de pessoas será apresentada nesta segunda-feira, às 18h30min, no Plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Fábio trabalha, assim como 70,1% das 938 pessoas entrevistadas entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017 que disseram exercer alguma atividade remunerada. Seus ofícios são cuidador de carros (ou flanelinha), pintor, catador de materiais recicláveis e às vezes carregador. Menos de 30% responderam que sobrevivem apenas do ato de pedir/achar bens e recursos. Dentre as atividades informais que fazem para viver as que mais aparecem são construção civil, flanelinha, vendedor ambulante e catador de materiais recicláveis. Como o trabalho de entrevistas foi feito há alguns meses, pesquisadores acreditam que o número de pessoas nessa situação aumentou bastante de lá para cá.

— Aumentou bastante o número de pessoas em situação de rua na Grande Florianópolis. E no trabalho a gente não ouviu pessoas que estão nos centros de acolhimento, e sabemos que aqui em Florianópolis são ao menos 140 pessoas nessa situação. O trabalho foi feito com quem estava na rua, com a metodologia que coloca os próprios moradores como pesquisadores. É algo da rua para as pessoas que estão na rua — destaca Mariane Maier Nunes, gerente executiva do Instituto Comunitário da Grande Florianópolis (Icom), que promoveu a pesquisa junto com o Movimento Nacional da População de Rua e organizações de base comunitária que apoiam a Causa na Grande Florianópolis.

Para André Scheifer, pesquisador de campo e integrante do Movimento Nacional da População de Rua, o principal ganho com a iniciativa foi a construção participativa e a confiança depositada nos próprios moradores de rua. O processo de pesquisa de campo três meses e teve acompanhamento diário do Icom.

Nos próximos cinco meses, os voluntários participarão de atividades dentro do instituto e nos territórios onde há maior concentração de pessoas em situação de rua em Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. O objetivo, destaca, é criar uma rede de autoajuda especialmente referente às relações afetivas, pois quando as pessoas estão sozinhas sua vulnerabilidade aumenta. E 41% dos 938 entrevistados relatam não possuir nenhum vínculo familiar ou afetivo, vivendo sozinho nas ruas. Apenas 35% citaram ter contato com filhos e companheiros(as).

Drogas, violência e omissão: outras das realidades de quem vive na rua

Fábio é usuário de crack. No diagnóstico, 327 pessoas disseram consumir ou já ter consumido a droga. Ao lado de Fábio, seu primo, Fabiano Luiz da Conceição, que também morou anos nas ruas, mas delas conseguiu sair com a ajuda da família. Hoje, Fabiano abandonou o crack, dá conselhos para o primo, porém sabe da dificuldade de largar a droga.

— As pessoas não devem olhar para o usuário de crack como vagabundo, mas sim como um doente. O usuário de crack precisa de ajuda, porque essa droga é terrível e foi feita para deixar os pobres mais pobres — aponta Fabiano.

Álcool – 371 pessoas -, maconha – 341 – e crack foram citadas como as drogas de maior preferência pelos entrevistados. Sobre remédios, 79% relataram não fazer uso, enquanto 88% consomem ou alguma vez já consumiram drogas.

Outro dado que chama atenção é a quantidade de pessoas, 60%, que relatam já ter sofrido violência em situação de rua, sobretudo violência institucional, que é aquela exercida pelos próprios serviços públicos, por ação ou omissão. A prévia do relatório pode ser acompanhada AQUI.

Centro Pop passará a abrir nos fins de semana

O Centro de Referência e atendimento à População de rua (Centro Pop) passará a abrir nos finais de semana e oferecer cursos profissionalizantes, palestras e oficinas aos moradores de rua, informa o Grupo Permanente em Defesa das Pessoas em Situação de Rua. No local, será elaborado um cadastro informatizado, interligado com a Delegacia de Pessoas Desaparecidas, dos cidadãos que frequentam o local.

Também há previsão de se realizar no Centro Pop mutirões periódicos de cidadania e inclusão social, com a oferta de serviços como confecção de cédulas de identidade, corte de cabelo e aplicação de vacinas. Em reunião na semana passada, o grupo discutiu a união com outras entidades, principalmente religiosas, com o objetivo de organizar e planejar a distribuição de alimentos aos moradores de rua no Centro Pop.

(Hora de Santa Catarina, 10/07/2017)