Dentro de 10 dias, as cores, os sotaques e os jeitos de Florianópolis vão mudar. Por isso, não estranhe se for tomar um café no Mercado Público e encontrar moçambicanas com suas capulanas, aquele pano que tradicionalmente é usado como saia ou mesmo para cobrir o tronco e a cabeça, andando na rua. Nem se ver alguma agricultora vinda do Oeste catarinense correndo atrás do chapéu de palha carregado pelo vento sul. É que a cidade estará recebendo as milhares de pessoas que vão participar do Congresso Mundos de Mulheres (Women¿s Worlds Congress) que, entre 30 de julho e 4 de agosto, vai reunir na capital dos catarinenses gente dos quatro cantos do mundo.
Até hoje são cerca de 8 mil inscritos, especialmente acadêmicas de todos os continentes e ativistas dos movimentos sociais do Brasil e países da América Latina e da África. A iniciativa mundial está na 13ª edição e discute gênero e femininos. O evento é conjunto com o Seminário Internacional Fazendo Gênero 11, organizado pelo Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Encontro semelhante já se realizou em Israel, Holanda, Irlanda, Estados Unidos, Costa Rica, Austrália, Noruega, Uganda, Coreia, Espanha, Canadá e Índia. Na capital catarinense a temática é Transformações, Conexões, Deslocamentos. A proposta é tornar um espaço de diálogo entre academia e ativismo entre pessoas de todas as partes do mundo sobre questões de gênero, feminismo e suas relações com os demarcadores de diferenças, como raça/etnia, classe, nacionalidade, religião.
— São duas questões que marcam o congresso, que é acadêmico e tem a preocupação com o campo de estudos de gênero, das mulheres, da sexualidade e também com as reivindicações para melhorar para a vida dessas pessoas — diz a professora Cristina Scheibe Wolff, que faz parte da coordenação geral.
A professora lembra que a escolha por Florianópolis é consequência do trabalho na área de estudos e cita o Fazendo Gênero, que ocorre desde 1994, já com nome nacional e na América do Sul. Em 2013, por exemplo, foram 5 mil inscritos no evento da UFSC. Por fim, a professora chama a atenção para o momento político do país.
— Estamos negociando desde 2012 para sediar o Congresso Mundo de Mulheres, mas é bem verdade que o momento atual nos coloca também a marchar contra os retrocessos que ameaçam os direitos da mulheres conseguidos ao longo dos anos. É muito importante tanta gente junta para marcar uma posição acerca dos retrocessos.
Mulheres de todo o mundo vão marchar pelas ruas de Florianópolis
Um dos momentos que irá mostrar à cidade a força do evento é a Marcha Mundos de Mulheres por Direitos, dia 2 de agosto, a partir das 17h. A expectativa é que 5 mil pessoas participem da caminhada pelas ruas da cidade. A manifestação pretende ser um espaço de representação das diversidades das mulheres no mundo. Estão organizadas indígenas, quilombolas, agricultoras. Estarão presentes representantes do Movimento de Mulheres Camponesas, do Movimento Sem Terra, da agricultura familiar, assalariadas e da Marcha das Margaridas.
Além das que chegam de espaços urbanos, como das Marchas das Vadias de diferentes lugares, Marcha Mundial de Mulheres e Articulação de Mulheres Brasileiras. Assim como dos grupos LGBTT e de Transidentidades, de diferentes movimentos negros, as mulheres que pedalam, estudantes, mães, mulheres que fazem outras mídias. Além de algumas ONGs que têm contribuído na luta feminista, como Themis (RS), SOS Corpo (Recife), Católicas pelo Direito de Decidir (SP)e CFEMEA (Brasília).
Evento inclui conferências, mesas-redondas, apresentações artísticas
A programação é composta por atividades tradicionais de eventos acadêmicos, como conferências (4), mesas-redondas (33), simpósios temáticos (160), exposição de pôsteres, oficinas (95), minicursos (17), e também por atividades organizadas em conjunto com ativistas de coletivos e movimentos sociais, como os fóruns de debate (130 intervenções), as tendas – Tenda Mundo de Mulheres, Tenda Feminista e Solidária e Tenda da Saúde. Há participação de debatedores dos movimentos feministas e de mulheres em todas as mesas-redondas.
Além disso, o evento terá mais de 40 apresentações artísticas previstas para espaços diversos do campus da UFSC, sendo uma delas o show de Linn da Quebrada no dia 02 de agosto, no Auditório Garapuvu, no Centro de Eventos da UFSC, às 21h, após a Marcha Mundos de Mulheres por Direitos. Também contaremos com as presenças do Cores de Aidê, La Clínica, Elas por Elas com o pocket show Odara, entre outras apresentações cênicas, de dança e performance. Durante o encontro também acontecerá a II Exposição Arte e Gênero, a Mostra Audiovisual, a Mostra Fotográfica, os roteiros de passeios temáticos em comunidades e projetos da região de Florianópolis e as atividades do Crianças no Fazendo Gênero, que tem como objetivo trabalhar exclusivamente com as crianças que virão, junto às mães e pais, para o evento, contando com oficinas e programação cultural.
Serviço
O quê: 13º Congresso Mundos de Mulheres (Women¿s Worlds Congress)/Seminário Internacional Fazendo Gênero 11
Data: 30 de julho e 4 de agosto de 2017
Local: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
Mais informações pelo site oficial e na página do Facebook.
(DC, 19/07/2017)
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