Lilian Cantarelli, 38, apressa o fechamento dos trabalhos para sair dez minutos antes na empresa de tecnologia onde trabalha, no Corporate Park, em Santo Antônio de Lisboa. Esse é o tempo calculado para pegar o ônibus de 16h55, e que economizará até 30 minutos no final da viagem de volta para casa até Ponta das Canas. Ela vai chegar por volta das 18h se tiver sorte de conseguir fazer a integração imediata quando chegar ao Tican (Terminal de Integração de Canasvieiras). Se tiver muito mais sorte conseguirá completar o trecho sentada — o que raramente ocorre.
Do outro lado da cidade, no Campeche, Gabriel Meireles, 35, acorda às 9h. Até pegar o ônibus das 10h, passar pelo Ticen (Terminal de Integração do Centro) e descer na Trindade, onde trabalha como gerente de loja no Mercado São Jorge, serão 11h. De carro, o trajeto de 11,4 km levou 19m53s para ser percorrido. Mas de ônibus a viagem ficou mais longa, quase o dobro do trajeto, 21 km, e demorou cinco vezes mais, 1h4min, para chegar ao mesmo lugar.
“É um sistema ruim, tem poucos horários e é muito demorado para se chegar ao destino”, arrisca uma opinião Gabriel Meireles sobre o sistema de transporte que conhece há pouco mais de três anos, quando trocou Rio Grande (RS) por Florianópolis. Lilian ataca a falta de gestão: “Nós deveríamos convidar o prefeito e as pessoas que pensam o transporte a andar de ônibus”.
A situação pode ser pior ainda para quem mora ou trabalha na Região Metropolitana. “Eu normalmente vou de São José para a Lagoa. Como não existe integração, tenho que ter dois cartões, descer no terminal e pagar outra passagem para seguir viagem. Essa falta de integração é muito ruim, além do preço alto que pagamos por um serviço que não é bom”, emenda Samela Mayara Florença de Melo, 20, que mora em São José.
O principal critério para medir a eficiência da mobilidade urbana das cidades é o tempo de deslocamento entre um ponto e outro. Corredores exclusivos, tarifas baixas e sistemas mais abrangentes de integração, normalmente, facilitam a melhora desses índices. Mas é justamente a falta desses critérios que atrapalha a mobilidade em toda a Grande Florianópolis, segundo especialistas. Em 2006, um estudo publicado pelo pesquisador Valério Medeiros, da UNB (Universidade de Brasília), apontou que Florianópolis tinha o segundo pior índice de mobilidade do mundo e o deslocamento mais complicado entre 21 das principais capitais brasileiras.
Mais de dez anos após a publicação do estudo, pouca coisa mudou. Na prática, o número de usuários do transporte coletivo diminuiu e o número de carros nas ruas aumentou. A licitação de 2014, que prometia melhora no serviço, também não obteve avanços significativos. Manteve o controle do sistema com as mesmas cinco empresas que operam desde 1926, quando começaram a circular os primeiros ônibus com a inauguração da ponte Hercílio Luz.
Leia na integra em ND, 10/06/2017
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