O trânsito intenso de veículos, o maior número de imprudências em todo o Estado, entradas e saídas sem espaço para desaceleração ou ganho de velocidade, e a urbanização do entorno fazem da SC-401, em Florianópolis, uma “combinação explosiva”. A avaliação é do próprio Comando de Policiamento Rodoviário de Santa Catarina (CPRv), responsável pelo monitoramento e fiscalização de 4.800 quilômetros de malha viária em todo o estado.
No mês da campanha Maio Amarelo, que visa chamar a atenção para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo, a Hora se debruçou sobre os problemas que levaram a SC-401 a registrar, entre 2011 e 2016, 3.721 acidentes, 1.326 feridos e 52 mortes. Hoje, ela é considerada uma das rodovias mais perigosas de todo o estado. Nos cinco primeiros meses deste ano, quatro pessoas morreram em acidentes na rodovia. Se projetarmos a média anual, a tendência é de que 2017 seja o ano com maior número de mortes na SC-401 desde 2011, podendo passar de 11 óbitos. A rodovia nunca passou um ano sem registro de mortes: o recorde é de 210 dias consecutivos.
É do centro de operações no bairro Capoeiras que o tenente-coronel do CPRv Fábio José Martins avalia a situação da via, em especial o trecho de 19 quilômetros que liga o Itacorubi a Canasvieiras.
— Esse trecho tem algumas características que exigem mais atenção. Mais de 60 mil veículos transitam por dia, as margens estão urbanizadas, com muitas entradas e saídas, e há um grande número de imprudências, principalmente excesso de velocidade, ultrapassagem forçada e uso de celular. Tudo isso compõe uma combinação explosiva — afirma Martins.
A SC-401 é a principal ligação entre o Centro e o norte da Ilha, sendo fundamental para a mobilidade da cidade. Construída na década de 1970, colaborou para a urbanização de Canasvieiras, Ingleses e outros balneários. No entanto, os investimentos em infraestrutura não acompanharam esse crescimento.
Rodovia com cara de avenida
Para a doutora em Engenharia de Tráfego e membro do Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC, Lenise Grando, o grande problema é que a SC-401 tem características urbanas, mas a gestão é de uma rodovia como qualquer outra.
— O projeto da SC-401 é de rodovia, não é pensado como uma via urbana. Sem semáforos ou redutores de velocidade e com acostamentos precários, aliados ao alto volume de tráfego de veículos e pedestres, temos grandes probabilidades de acidentes. Se houvesse um atenção maior, principalmente com controle da velocidade, poderíamos minimizar o problema — avalia.
Por ser uma rodovia, a jurisdição é do governo estadual, por meio do Departamento de Infraestrutura (Deinfra). O órgão reconhece toda a problemática que envolve a SC-401, mas também se vê de “mãos atadas”.
— Para o Deinfra, a concepção do trânsito, o limite de velocidade, a largura das faixas e as interseções são de rodovia, mas para os moradores do entorno a concepção é de avenida. Isso é uma situação complicada. Podemos pensar e tomar ações que melhorem a segurança, mas certas coisas não são possíveis. A SC-401 é uma rodovia, não uma avenida — afirma o presidente do Deinfra, Wanderley Agostini.
A Secretaria de Mobilidade Urbana de Florianópolis, por sua vez, afirma que, mesmo que a rodovia seja de responsabilidade do Deinfra, está atenta aos problemas de segurança.
— Essa é uma via fundamental para o escoamento da mobilidade, porque temos vários polos de demanda na região. Entendemos que há necessidade de melhorar e dar mais segurança, principalmente dando prioridade ao transporte coletivo e aos pedestres, bem como buscando a criação de ciclofaixas e ciclovias onde as pessoas consigam se deslocar com tranquilidade — comenta o secretário Marcelo Silva.
(Diário Catarinense, 29/05/2017)
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