Pescadores do litoral catarinense estão em contagem regressiva para o início da safra da tainha. Para quem pesca na praia, a temporada começa no dia 1º de maio. Quem trabalha embarcado com rede de anilha poderá pescar a partir de 15 de maio, e a pesca industrial estará liberada no dia 1 de junho.
Santa Catarina tem 42.136 pescadores, mas somente cerca de 2.000 trabalham com a captura da tainha. O problema é que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento liberou apenas 70 licenças para embarcações no ano passado e a expectativa é de que sejam 62 este ano – Santa Catarina tem 112 embarcações cadastradas para a pesca da tainha.
Aos 47 anos, Luciano Nildo Agostinho é o último pescador da família. “Meu filho não tem motivação para pescar, porque vê os problemas que enfrentamos com a concorrência desleal das indústrias e pelos obstáculos impostos pelo próprio governo. Queremos trabalhar e eles não liberam a licença. O correto era ter uma cota de dez toneladas por pescador, assim todos conseguiriam trabalhar e a tradição seria mantida”, sugere o pescador da Barra da Lagoa, que pegou 30 toneladas na última temporada.
A pesca da tainha é concentrada nos municípios de Florianópolis, Palhoça, Laguna, Garopaba, Imbituba e Passos de Torres, segundo o presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina, Ivo da Silva. Em 2016, o Estado teve a maior safra das últimas três décadas, com a captura de 3.500 toneladas do pescado.
Ivo informou que já pediu para que as colônias cadastrem os pescadores e as embarcações. “Estamos aguardando a publicação da portaria e estamos tentando a ampliação no número das licenças. Se não for possível chegarmos a um acordo, a solução será buscar os direitos do pescador através de uma ação judicial. Em 2015, trabalhamos com uma liminar”, diz.
Na próxima terça-feira, a partir das 10h, no Sesc Cacupé, será realizado o Encontro das Colônias de Pescadores das Federações do Sul do país. Entre diferentes temas, a pesca da tainha também será debatida.
Peixe foge do frio e chega com o vento sul
Para uma boa temporada de tainha é essencial que aconteçam duas situações climáticas: frio e vento sul. Os cardumes partem da Lagoa dos Patos (RS) e sobem o litoral atrás de águas mais quentes. Luciano Agostinho espera manter a equipe de nove pescadores com a ajuda do vento. “Chamamos o vento sul de ‘o vento do dinheiro’, porque os peixes aparecem com mais frequência com essa condição do clima”, diz.
Ivo da Silva não acredita que o recorde de 2016 seja batido nesta temporada. “Para conseguimos equiparar a mesma quantidade pescada no ano passado é necessária uma condição climática especial e que dificilmente acontece dois anos seguidos”, observa.
Gilmar Rozário, 27 anos, é da quarta geração de pescadores. Ele trabalha exclusivamente com a pesca. Para o morador da Barra da Lagoa, os pescadores embarcados deveriam ter a liberação também no dia 1º de maio. “Quem vive somente da pesca precisa esperar até o dia 15, mas os funcionários públicos, comerciantes e outros trabalhadores de carteira assinada têm privilégios. Isso deveria ser proibido, porque estão acabando com o pescador profissional”, lamenta.
Leia na íntegra em Notícias do Dia Florianópolis, 22/04/2017.
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