(Por Rafael Martini, Diário Catarinense, 08/03/2017)
Esperando Godot, de Samuel Beckett, é um dos maiores clássicos mundiais do teatro do absurdo. Na narrativa, o tempo parece estático. E como a vida imita a arte, Brasília nestes dias modorrentos de março parece protagonizar a peça Esperando Janot. Está tudo parado no tablado do Planalto Central à espera da lista, ou listas, do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com os nomes dos políticos citados na Lava-Jato. A expectativa é sobre quando Janot irá encaminhar a documentação ao Supremo Tribunal Federal.
Nesta quarta circulou informação na imprensa nacional (jornal Folha de S. Paulo e site O Antagonista) de que quatro governadores estariam na segunda lista que será entregue ao STF e depois remetida ao Superior Tribunal e Justiça. Por não terem foro privilegiado, cabe ao STJ julgar eventuais ilicitudes cometidas durante as campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin (SP), Fernando Pimentel (MG), Luiz Fernando Pezão (RJ) e o catarinense Raimundo Colombo (PSD). Haveria indícios de caixa 2.
O Centro Administrativo tem acompanhado o assunto com lupa. Emissários de Brasília com trânsito nos bastidores estão otimistas com a perspectiva de que o caso de Colombo será arquivado por falta de provas e até mesmo pelo conteúdo das delações.
Também afirmam que a primeira lista a ser divulgada não será dos governadores, mas de nomes com foro privilegiado (ministros, parlamentares). Pode-se incluir aí também a tão esperada cereja do bolo com ex-presidentes e, quiçá, o atual. Mas tudo, por enquanto, está no campo da especulação.
Entre os 77 executivos da Odebrecht ouvidos pela Lava-Jato, dois teriam relatado a tentativa de aproximação com então candidato ao governo do Estado, mas sem sucesso nas negociações.
Desde o ano passado, quando passaram a circular hipotéticas listas envolvendo o nome de Colombo, o PSD catarinense adotou o discurso, mesmo que reservadamente, de admitir que poderia ter ocorrido doação à campanha, mas nunca pagamento de propina ou qualquer contrapartida do Estado – no caso, seria a privatização da Casan.
O mote de defesa, a exemplo de outros partidos envolvidos na Lava-Jato, é tratar a doação por caixa 2 como um “problema corriqueiro e menor”.
Vale lembrar que durante o famoso episódio do Mensalão, a hoje presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, foi categórica ao classificar o caixa 2 como crime. Foi durante um depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares que adotou a mesma tese do “todo mundo faz isso desde sempre no Brasil”.
Na terça-feira, o STF reafirmou posição de que dinheiro não declarado pode ser tipificado como crime eleitoral. A diferença é que, agora, caberá ao Ministério Público provar a origem e destino destes recursos. As delações não serão consideradas provas cabais por si só.
Colombo está em missão oficial no exterior. Sua assessoria disse que ele não irá se manifestar sobre suposições. Mas ninguém esconde que, mesmo longe, estão todos esperando Janot.
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