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Guarda do Embaú espera título de única Reserva Mundial do Surfe no Brasil

É um tesouro tão grande que tem que ser protegido, guardado em baú. Essa é uma das teorias para a origem do nome da Guarda do Embaú, um paraíso que fica a menos de 50 km de Florianópolis. A comunidade sabe o valor que esse lugar tem. Por isso, está mobilizada para conquistar o título de Reserva Mundial do Surfe.

A praia fica grudada em um costão que avança para o mar e tem a faixa de areia recortada pelo Rio da Madre. Essa geografia produz ondas excelentes que atraem surfistas do mundo inteiro. Desde 2013, ela é a única brasileira que concorre à distinção dada pela Save The Waves Coalition. A entidade internacional é formada por cientistas, jornalistas, empresários e instituições ambientais e concede um título por ano; a Guarda seria a nona praia.

Desta vez, os moradores estão mais confiantes. A honra pode destacar ainda mais a Guarda do Embaú no cenário internacional do surfe e trazer uma maior proteção e consciência para o local. Os moradores do pequeno vilarejo, cerca de mil pessoas que vivem basicamente da pesca e do turismo, estão mobilizados pela distinção. Banners estão espelhados pelas ruas e sempre aparece alguém vestindo a camiseta da campanha.

A iniciativa é da Associação de Surfe e Preservação da Guarda do Embaú, e quem está encabeçando a campanha é empresário Marcos Gungel, o Kito. A expectativa dele é que, com esse título, a comunidade consiga chegar mais perto do gestores quanto a políticas ambientais.

— Dentro dos critérios para escolha estão a qualidade da onda, o meio ambiente que a cerca, e aqui nós temos um ecossistema muito rico, rio, mar, costões, praia. Outro critério é cultura e história do surfe, e a Guarda do Embaú é conhecida no Brasil desde os anos 70, quando os surfistas profissionais vieram aqui para treinar. E o último quesito é o apoio da comunidade. Nós temos apoio do governo do Estado, Assembleia, Câmara e Prefeitura de Palhoça, a Bandeira Azul Nacional, UFSC, então a gente está com bastante esperança — destaca Kito.

O diretor executivo da Save The Waves, Nik Strong-Cvetich, elogiou o trabalho feito pelo ativista. “Sim, eu recebi seu pacote de documentos e está extremamente bem feito!”, disse em troca de emails com Kito.

Campanha mundo afora

Quem estava fortemente envolvido com essa campanha era o surfista Ricardo Santos, o Ricardinho. Ele levava a bandeira da candidatura pelos campeonatos que disputava ao redor do mundo. Com a morte dele, outros surfistas da aldeia passaram a cumprir esse papel. Entre eles, está a jovem promessa do esporte Tainá Hinckel, de 13 anos e que no mês passado foi campeã brasileira sub-18 no Peru. É ela que vai representar o Brasil no Mundial Pró Júnior em janeiro na Austrália. Se a escolha não sair até lá, a expectativa é que o veredito seja dado ainda em novembro, a menina promete promover na Oceania a praia onde foi criada.

— Eu tenho participado de vários campeonatos ao redor do mundo e sempre levo isso junto comigo. A galera pergunta onde eu moro, e eu sempre mostro fotos, falo sobre a candidatura. E todos se interessam muito e apoiam também — conta a adolescente.

A expectativa de pescadores e barqueiros 

Pra chegar até a praia da Guarda, a não ser que você vá nadando, é preciso pegar uma bateira – um barquinho de madeira para até seis pessoas. O custo é de R$ 3 o trecho, e esse serviço movimenta a economia de muitos moradores. Quem trabalha com isso também torce para que o título venha.

— O turismo forte que veio para cá é em função do surfe. Um tempo atrás, a gente tinha conflito entre nativos e surfistas. Hoje o negócio está muito melhor, o pessoal tem uma visão diferente, que dá para conciliar. Isso (o título) só vai ajudar a trazer cabeças mais abertas para o nosso lugar e uma visão sempre ampla de que preservar é importante — lembra o barqueiro Arno Lagarto, que diz nunca trocar o Guarda por nenhum lugar do mundo.

O presidente da associação de pescadores, Gabriel Correa, está na torcida, mas Diz que muitos colegas estão com um pé atrás.

— Em nível de saneamento e preservação, para nós é perfeito. Só que alguns pescadores ainda têm receio de achar que não vão mais poder pescar, mas isso é uma questão de explicar direito. Eu acho que tem que reforçar o lado da pesca, que é a cultura que tinha aqui antes do surfe — pondera o pescador.

Até agora, A Save the Waves já deu o título a oito Reservas Mundiais de Surfe no planeta: Santa Cruz e Malibu (USA), Bahia de Todos os Santos (México), Ericeira (Portugal), Huanchaco (Peru), Manly Beach e Gold Coast (Austrália) e Punta Lobos (Chile). A entidade não divulgou que outras praias estão concorrendo com a Guarda. Caso, a praia catarinense seja escolhida, um membro da organização virá até aqui para oficializar a escolha.

( Diário Catarinense, 04/11/2016)

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