Florianópolis é mais uma vez a vice-líder no país entre as cidades mais empreendedoras, revela o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) Endeavor divulgado nesta quinta-feira. O ICE analisa o ecossistema dos principais municípios do país e aponta os que possuem as condições mais propícias para o desenvolvimento de empresas. A Capital chegou a liderar a lista em 2014, mas perdeu para São Paulo em 2015, como ocorreu neste ano.
Mesmo repetindo vários bons resultados das últimas edições, Florianópolis vem perdendo fôlego, como ocorre no índice de inovação, no qual agora é vice-líder. O pior índice de Florianópolis é mercado, no qual perdeu 14 posições e ficou em 30º na lista de 32 cidades. Essa categoria avalia PIB, potencial de mercado, empresas exportadoras e compras governamentais.
Para Henrique Tormena, coordenador da Endeavor em SC, a crise afetou mais a Capital nesse último aspecto. Faz todo sentido, já que a cidade fechou as contas devendo R$95 milhões no ano passado.
— O PIB de Florianópolis nunca foi expressivo na comparação com as outras cidades (da pesquisa), mas vemos que em compras públicas houve uma queda grande – diz Tormena.
As cidades do interior catarinense, contudo, têm subido no ranking. Foi o que aconteceu com Joinville, que passou da nona para a quarta posição, e com Blumenau, que foi da 20ª para a 13ª posição. Além de melhorias específicas feitas em cada um desses municípios, as empresas, em ambos, captam até três vezes mais crédito (via BNDES e Finep) que a média das cidades da lista.
Capital humano é o melhor de SC
Os profissionais bem preparados são o bem mais valioso de Santa Catarina. E o maior destaque nisso é Florianópolis que, desde o começo da pesquisa, em 2014, ocupa a primeira posição no índice geral de capital humano, puxada especialmente por suas boas universidades e escolas. A nota no Enem é a melhor entre todos os municípios do ranking.
Também pesa o fato de Santa Catarina ter a melhor nota para ensino fundamental no país, segundo o Ideb, índice no qual se destacam Joinville e Blumenau.
Em ensino superior, a capital catarinense é a única do estudo a ter mais da metade dos seus formandos de graduação em cursos de alta qualidade (a média do Sul é 26%, empatado com o Sudeste), o que acontece desde a primeira edição da pesquisa.
Além de ter gente qualificada para trabalhar nas empresas, os custos por aqui são menores. Em Florianópolis, o salário de um dirigente do setor de tecnologia é, em média, de R$ 5 mil. Em São Paulo, apenas 20ª colocada no quesito capital humano, o valor é duas vezes maior, superior a R$ 10 mil.
Destaque para cidades do interior do país
Não foi só em SC que o interior teve mais destaque. O interior do Sul, de forma geral, e do Sudeste, aparecem mais fortes. Neste ano, Campinas (SP) é a terceira melhor, São José dos Campos (SP) aparece em sexto e, entre as 10 melhores, estão também Sorocaba (SP), Maringá (PR) e Ribeirão Preto (SP). De acordo com a pesquisa, a qualidade de vida e os custos mais baixos, com níveis também avançados de capital humano e inovação, favorecem esses municípios.
Ao mesmo tempo, grandes capitais tiveram perdas significativas. Enquanto São Paulo domina o ICE pelo segundo ano consecutivo, o mesmo não acontece com outras grandes capitais brasileiras. Em especial Rio de Janeiro (14ª), Curitiba (15ª) e Recife (18ª), que perderam 4, 7 e 14 posições, respectivamente, em relação ao estudo de 2015.
Os empreendedores cariocas penam com seu péssimo ambiente regulatório (aparece na última posição do pilar), custos altos e a pior mobilidade urbana do levantamento. Problemas no trânsito também aparecem em Recife, na 29ª posição do indicador. A capital pernambucana ainda fechou 26 mil vagas no ensino técnico e as compras públicas municipais caíram 25%.
No Paraná, a capital aparece atrás de Maringá. Além da cultura empreendedora mais favorável no interior, Curitiba tem impostos mais altos (só está à frente do Rio no quesito Ambiente Regulatório) e teve o maior recuo na oferta de crédito. São capitais com grandes mercados consumidores, mas precisarão fazer mais para se tornarem polos do empreendedorismo e competir com São Paulo.
Burocrática, Porto Alegre virou o jogo
Em 2014, o ICE mostrou que registrar uma empresa em Porto Alegre levava mais de 240 dias – oito meses, portanto. Mas, um projeto implantado há quinze meses mudou o cenário. O resultado: o tempo de abertura passou para 82 dias, sendo 49 dias para empresas de baixo risco de incêndio, que representam cerca de 80% dos pedidos de abertura de empresas da cidade. Até o final do ano, com as mudanças concluídas, essas empresas de baixo risco poderão ser regularizadas em apenas 5 dias.
O que mudou o jogo na capital gaúcha foi o Simplificar, iniciativa da Endeavor em parceria com o governo gaúcho, a prefeitura de Porto Alegre, o Sebrae, além de outras instituições. O objetivo do projeto Simplificar era facilitar a abertura de empresas e tornar a cidade referência no assunto. Para isso, foi preciso rever os processos dos órgãos envolvidos na abertura de empresas e eliminar os gargalos processuais, passando a usar mais o meio digital.
Um dos grandes entraves era a Lei 14.376,conhecida como Lei Kiss, criada em 2014, após o incêndio na boate de Santa Maria. Para obter um alvará, todas as empresas deveriam ser vistoriadas pelo Corpo de Bombeiros, criando uma enorme fila de espera. Com uma alteração feita neste ano, as empresas de baixo risco de incêndio não precisarão passar pela vistoria, deixando o foco nas empresas com alto risco.
Como é feita a pesquisa
Para conseguir medir os ecossistemas de cada cidade, a Endeavor avalia os pilares que mais afetam a vida do empreendedor: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora.
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