A falta de integração no transporte público de Florianópolis é um gargalo que obriga, muitas vezes, o usuário que transita entre dois pontos do continente a pegar um ônibus que vai até Ilha e, lá, trocar por outro que retorna à região continental.
O sistema metropolitano, liderado pela Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (Suderf), pretende acabar com isso. Entre as opções para solucionar o problema, o projeto prevê trazer BRTs (Bus Rapid Transit ou Ônibus de Transporte Rápido) para a região, um esquema de faixas exclusivas de ônibus (veja a definição de BRT ao final da matéria).
– Hoje, para ir de Palhoça até o centro (da Capital), leva-se 15 minutos sem trânsito e mais de uma hora com trânsito. O objetivo é que com o novo sistema sejam sempre 15 minutos – diz o professor Werner Kraus, do Observatório de Mobilidade Urbana da UFSC, que faz parte do projeto.
A Suderf estima que todas as linhas estarão prontas até 2021, mas já em 2017 alguns trechos deverão ser entregues.
– Espera-se que os primeiros trechos do BRT interligando São José via Estreito até o Terminal Integrado do Centro (Ticen), em Florianópolis, bem como a racionalização dos itinerários das redes e linhas intermunicipais, entrem em operação até o final de 2017 – diz Cassio Taniguchi, superintendente da Suderf.
Projeto prevê três linhas de BRT
O projeto metropolitano planeja duas linhas saindo de Palhoça e outra de São José, todas terminam no centro da Capital. No total, serão 57 quilômetros de vias e de faixas exclusivas, 36 estações e quatro terminais de integração para este modal.
Além disso, como explica Taniguchi, estão previstas faixas exclusivas para ônibus comuns e a remodelação dos percursos dentro dos municípios. A outra linha de BRT, dentro da Capital, é tocada pela prefeitura, fora do âmbito da Suderf, e já está em obras desde maio, com dinheiro da Caixa.
Para o sistema metropolitano, o investimento, de R$ 1,1 bilhão, deverá contar com aportes do governo do Estado por meio de financiamentos de bancos de desenvolvimento (BNDES, principalmente) na proporção de 50% do poder público e 50% do parceiro privado.
O sistema está sendo tocado por meio de parceria público-privada (PPP). De um lado, o consórcio Triunfo toca a parte de infraestrutura. De outro, a Suderf, em convênio com o Observatório de Mobilidade da UFSC, faz a parte de inteligência operacional.
Um dos pontos atacados será o excesso de linhas intermunicipais que saem de Biguaçu e São José em direção à Capital. Por não terem integração entre si, acabam trafegando com poucos passageiros, formando filas nos corredores de ônibus, além de atenderem poucos trajetos dentro dos municípios. O mesmo não ocorre em Palhoça, onde já há integração quase completa.
Mas para que novo sistema dê certo é preciso que os prefeitos das cidades envolvidas concordem em seguir adiante com o projeto de forma integrada. As prefeituras de São José, Palhoça e Biguaçu, procuradas pela reportagem, mostraram-se favoráveis. Em todas elas, os prefeitos foram reeleitos.
Veja o que dizem os candidatos à prefeitura da Capital sobre os BRTs:
Angela Amin (PP)
“Como eu venho afirmando durante toda a campanha, nos meus pronunciamentos e debates, vou liderar o processo de integração metropolitana proposto pelo Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (Plamus), sob coordenação da Suderf. Certamente, o projeto dos BRT1 e corredores exclusivos são parte importante disso e vamos implementá-los. O município fará a sua parte, garantindo as obras e os investimentos que lhe competem, porém é preciso encadear essas ações com o Estado e a União e é nisso que precisamos agir de maneira intensa. A integração não pode ser apenas um conceito, tem que estar respaldada em práticas que a concretizem. O governo Raimundo Colombo corrige um erro histórico ao retomar a região metropolitana, extinta há 12 anos e que impôs um atraso considerável a todos os municípios que não puderam concretizar seus macroprojetos. Quando eu fui prefeita, eu presidi a região metropolitana com o entendimento da importância de se planejar a região conjuntamente. Não só no âmbito da mobilidade. Hoje, com os problemas que se impõem às cidades, essa integração tem que se refletir em outras áreas, como a estruturação de consórcios metropolitanos em saúde, saneamento, meio ambiente e gestão de resíduos sólidos. Sem nos esquecermos de outro ponto fundamental: o plano diretor metropolitano, que terá um papel essencial na construção de uma integração regional efetiva.¿
Gean loureiro (PMDB)
“O desafio da mobilidade em Florianópolis é complexo e não se resolve apenas com obras viárias e ações estanques. É preciso um novo olhar para o espaço urbano. A solução passa por questões como o incentivo à descentralização da cidade, induzindo o desenvolvimento dos bairros, e pela urgência de que seja um projeto efetivamente encampado por toda a região metropolitana e gerido de forma conjunta. Não pode ser só uma decisão do prefeito de Florianópolis, mas deve ter no prefeito da Capital, sim, o seu maior incentivador. O BRT é comprovadamente uma alternativa contra o caos do trânsito nas cidades e, por isso, é destaque no Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis). Mas junto com os ônibus rápidos, modernos, que circulam em canaletas exclusivas e reduzem o tempo de viagem e os gargalos do tráfego, é urgente a inversão da lógica atual de uso do espaço. O que defendo é um transporte coletivo moderno, rápido e eficiente, que integre vários modais – BRT, marítimo, rotas cicloviárias. Afinal, em nenhum lugar do mundo o uso de apenas um modal resolveu.Somos uma ilha, mas não podemos continuar no erro de nos planejar de forma isolada.”
O que é BRT?
Bus Rapid Transit ou Transporte Rápido por Ônibus é um sistema de transporte coletivo de passageiros com base em ônibus com faixas exclusivas. Para ser considerado um BRT, é preciso que o sistema tenha cinco características:
1) faixa exclusiva;
2) alinhamento das faixas no corredor central da via;
3) pagamento da tarifa na estação, não dentro do veículo;
4) passagem livre para ônibus nas interseções;
5) plataformas de embarque em nível, alinhadas com o piso dos ônibus.
O BRT é uma tecnologia brasileira, desenvolvida na gestão do ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, na década de 1970. Embora já existissem faixas de ônibus em vários lugares no mundo antes disso, foi Lerner quem idealizou o sistema da forma como é conhecido hoje.
(DC, 25/10/2016)
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