Desde segunda-feira (15) não é possível se inscrever para a visita guiada às obras da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. “As inscrições estão suspensas e não há prazo para abertura de novas turmas”, informou Lauren Piana, coordenadora de mídias da Secretaria de Comunicação, que destacou que há 500 inscritos na fila. “Estes serão chamados para fazer o passeio”, garantiu a servidora, que conversou com a Agência AL na tarde de terça-feira (16), enquanto a equipe de repórteres do Legislativo acompanhava um grupo de visitantes, todos com uma ligação particular com o cartão postal barriga-verde.
“Eu acho que passei na ponte em 1971 ou 1972, quando vim de São Paulo a Florianópolis de ônibus. A Telesc me convidou para trabalhar, mas preferi ir para a Bahia, hoje moro aqui”, afirmou o aposentado Cláudio Garcia, paulista radicado há cinco anos em Florianópolis. Joel Hollow, servidor público em Biguaçu, era um dos mais entusiasmados. “O Hercílio Luz ainda era candidato, estava esperando a balsa no lado do Estreito, como o serviço era ruim, ele prometeu: ‘se eu for eleito, vou construir uma ponte’”, contou.
Fernando Zucatto atravessou a ponte em 1991. “Passei de bicicleta, tinha dez anos”, declarou o lageano. Mirian Alves, estudante de Pedagogia da Uniasselvi, nasceu em Mato Grosso, mas conheceu Florianópolis quando era criança, no final da década de 1990. “Ficou a imagem da ponte Hercílio Luz”, revelou Mirian. Andressa Possenti Zucatto, assim como todos no grupo, curtiu a visita. “Muito legal, pena que não vai até o fim”, lamentou Andressa, referindo-se ao fato de que o passeio termina no limite entre a ilha e o Oceano Atlântico.
Um lugar histórico
A ponte Hercílio Luz foi construída no local onde a Ilha de Santa Catarina está mais próxima do continente. O lugar ficou mundialmente conhecido no século XVI, quando Hans Staden, um alemão com ganas de Marco Polo, citou-o no livro “Duas viagens ao Brasil”, um dos maiores best-sellers da época. “Vocês estão em Jureremirim (boca pequena), como os nativos (carijós) o chamam, ou no porto de Santa Catarina, como os que o descobriram batizaram-no.” Era 25 de novembro de 1550, casualmente o dia consagrado à Santa Catarina de Alexandria.
Chuva na inauguração e pedágio para a manutenção
No dia da inauguração, em 13 de maio de 1926, uma “chuva torrencial caiu impertinente”, diminuindo o brilho da festa comandada pelo governador em exercício, Antonio Vicente Bulcão Vianna. Depois que o reverendo Jayme Câmara benzeu a obra, o governador, segundo registrou o jornal “O Estado”, determinou que naquele dia não fosse “cobrada passagem a pessoa alguma ou veículos”.
Em 21 de agosto de 1926, Vianna enviou mensagem à Assembleia explicando que “a renda do pedágio e de trânsito de veículos nos primeiros meses tem dado para fazer face ao cumprimento do contrato (de conservação, guarda e limpeza) sem ônus para o estado”. No ano seguinte, o sucessor, Adolpho Konder, sancionou lei determinando à polícia apreender os veículos “que procurassem eximir-se do pedágio”, além do pagamento de multa de 25$000 a 50$000 mil reis. Konder também estipulou um “passe mensal” na ponte para animais de montaria e bicicletas, respectivamente, ao custo de 6$000 e 5$000 mil reis.
Mas tudo mudou em 1936, quando o pedágio foi proibido no país. O governador Nereu Ramos comunicou a mudança aos deputados: “Extinta a taxa de pedágio por força de dispositivo constitucional, pesou a conservação da ponte sobre o orçamento do estado, que lhe consignou, no corrente exercício, a verba de 90:000$000 (noventa contos de reis)”.
A partir daí, o alto custo de manutenção, a dependência do Tesouro, aliada à vontade política do guardião do cofre público, levaram à degradação da estrutura daquela que era para ter sido a Ponte da Independência, mas que foi denominada “Hercílio Luz” para homenagear o governador “engenheiro de obras públicas” que morreu no exercício do mandato, em 1924.
(Agência ALESC , 17/08/2016)
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