Com faturamento anual de R$ 11,4 bilhões, o setor de tecnologia já responde por 5% do PIB catarinense. E em 2015, ano da pior retração econômica do país em 25 anos, as empresas em Santa Catarina seguiram um caminho inverso. Encerraram o período com crescimento de 3,6% na geração de empregos, o melhor resultado do país em 2015 na média dos últimos três anos.
Os dados fazem parte de um estudo realizado pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) em parceria com a Neoway que será divulgado hoje durante a posse da nova diretoria da entidade. A instituição completou três décadas este ano.Entre os três maiores polos catarinenses, o levantamento também traz boas notícias. Em Florianópolis, o crescimento de novas vagas foi o mais expressivo entre as 13 principais cidades brasileiras ligadas ao setor. Na capital catarinense, o índice de aumento de vagas ficou em 6,9%, com Blumenau na segunda posição (3%) e Joinville na quinta colocação (0,7%).
Para o secretário-executivo da Acate, Gabriel Santos, o setor tecnológico tem características que fazem com que sofra menos em períodos de crise econômica. A explicação é simples: em tempo de vacas magras, as empresas buscam soluções para cortar custos. Soluções essas que são providas pela área de inovação.
— Se um restaurante tem 10 garçons e precisa cortar custos, muitas vezes a automatização dos serviços pode ajudar no aumento da eficiência. É um exemplo básico, mas que explicar porque os investimentos não param — afirma Santos.
Startups conferem dinâmica ao setor
Além dos investimentos, cresce exponencialmente também o número de empresas. Santa Catarina fechou 2015 com 2.899 delas. E são de todos os tamanhos, embora a maioria seja de pequenos empreendedores. Exemplo é o Youper. A startup foi criada em Florianópolis no começo do ano passado pelo psiquiatra José Hamilton Vargas e pelo desenvolvedor Diego Dotta para ajudar pessoas a combater ansiedade e depressão por meio de um aplicativo para smartphones. Trata-se de um programa online com atividades que ajudam na melhora da autoestima e na capacidade de autoavaliação. Em alguns casos, a ferramenta sugere o encontro com um profissional. Para Vargas, como médico, é uma forma de multiplicar seus braços e ajudar mais pessoas. Além disso, os negócios vão muito bem, obrigado.
— Além dos dois sócios-fundadores, temos um funcionário, mas estamos captando investimento para ampliar a equipe. Hoje já são cerca de 4 mil usuários em todo o mundo — conta o empreendedor.
Florianópolis, Joinville e Blumenau concentram 78% das empresas
Embora o crescimento do número de empresas de tecnologia ocorra em todo o Estado, 78% delas ainda se concentram nas regiões de Florianópolis, Blumenau e Joinville. Na Capital, estão 31% dos negócios, que respondem por 37% do faturamento, e têm como focos principais o desenvolvimento de softwares, empresas de big data e o marketing digital. Já na maior cidade do Estado, no Norte catarinense, o ramo da tecnologia é mais voltado para o desenvolvimento de soluções para as indústrias locais, tanto em software quanto em hardware.
Em Blumenau, o setor se desenvolveu com foco nas soluções de gestão para companhias (ERP – Enterprise Resource Planning). É o caso da Senior Sistemas, uma das maiores empresas catarinenses da área, com 28 anos de mercado, faturamento anual de R$ 224 milhões e quase 1,3 mil funcionários diretos. De acordo com o CEO da empresa, Carlênio Castello Branco, os investimentos nos últimos anos têm buscado a diversificação dos negócios, com a entrada no mercado de logística com a aquisição de outras duas firmas menores, além do desenvolvimento dos softwares de acesso e segurança.
– Desde o ano passado, também temos o nosso programa de aceleração de startups, baseado em Florianópolis. Selecionamos três para fazer uma nova rodada de investimentos. Uma ligada ao agronegócio, a segunda nas telecomunicações e outra de e-commerce. Estamos investindo em novos negócios — afirma Castello Branco, destacando o crescimento de 16% da empresa no ano de 2015.
Para o secretário-executivo da Acate, Gabriel Santos, existe uma tendência de diversificação ainda maior das empresas pelo Estado nos próximos anos, com a formação de novos polos. Como exemplos, ele cita Chapecó, com mais de 100 empresas instaladas, e Lages, com aproximadamente 40.
Incentivo à inovação é desafio do setor
Apesar de registrar índices de crescimentos superiores aos demais setores da economia, a tecnologia também tem desafios pela frente. Para o gestor do programa Start-up SC, do Sebrae, Alexandre Souza, falta incentivo à inovação por parte dos entes governamentais. Com isso, há dificuldade para alcançar o nível de maturidade de outros mercados, como o europeu e o norte-americano. Outro ponto negativo, segundo ele, é a falta de estímulo ao empreendedorismo nas universidades. Mesmo com esses entraves, o setor avança.
— Desde que lançamos o programa, em 2012, houve uma grande evolução, principalmente na gestão dos negócios. Havia bons desenvolvedores, técnicos, mas pecavam na gestão. Já melhorou muito — diz Souza.
Entre os representantes da tecnologia e inovação catarinense, que emprega mais de 47 mil pessoas, a expectativa é de que o setor ultrapasse num futuro próximos áreas já consolidadas da economia catarinense, como o agronegócio e a construção civil. Esses setores respondem, respectivamente, por uma fatia entre 6% e 7% do PIB atualmente.
— Nós vamos continuar crescendo, mesmo com crise. (O tempo para isso) vai depender do ritmo de crescimento deles — afirma Gabriel Santos, da Acate.
Uma nova diretoria da Acate toma posse hoje, em Florianópolis, em cerimônia marcada para 18h30 na sede da entidade. No lugar de Guilherme Bernard, assume a presidência Daniel Leipnitz, que já projeta desafios para o novo mandato:
— Um dos objetivos será criar uma marca da tecnologia para Santa Catarina, para que a gente possa divulgar não só no Estado, mas também no resto do país e até mesmo no exterior. O outro desafio é unir os polos para a construção dessa marca. Queremos acabar com as rixas internas.
(DC, 09/06/2016)
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