(Por Carlos Damião, Notícias do Dia Online, 01/02/2016)
A questão do esgoto em Canasvieiras já foi objeto de um inquérito policial federal, encaminhado posteriormente ao Ministério Público Federal. Para responder às dúvidas sobre a eficiência do sistema da Casan a Polícia Federal designou peritos engenheiros, que realizaram uma inspeção técnica na ETE durante os meses de setembro e outubro de 2010. Um dos questionamentos para o trabalho dos peritos era este: “Está havendo dano ao meio ambiente em decorrência da insuficiência na operação da estação (de tratamento de efluentes de Canasvieiras)?”. Tive acesso ao laudo completo, que é substancioso, tem 20 páginas, ricas em detalhes, incluindo a coleta e análise de amostras na ETE que serviram de base para a principal conclusão: a ineficiência da estação para tratamento de esgoto sanitário (isso há cinco anos!). Entre muitas observações realistas, a constatação de que, conforme as normas legais, “a ETE jamais poderia lançar seus efluentes nos corpos d’água circundantes (rio do Brás e rio Papaquara)”. Além dos exames laboratoriais, os peritos indicaram também outros fatores para o mau funcionamento, como a operação da ETE feita por apenas um funcionário, as instalações mal conservadas e a manutenção insuficiente. Mais ainda, conforme escreveram no laudo: “O gerenciamento (da ETE) é feito de forma empírica, com o resultado monitorado de forma deficiente”. Apontaram ainda que “há um prédio denominado de ‘laboratório’ na ETE, mas que está praticamente abandonado”.
Limpa-fossas
“Outro fator significativo é o recebimento de cargas de esgoto provenientes de caminhões limpa-fossa. Há um tráfego intenso desses caminhões diariamente na ETE, que trazem material retirado de estabelecimentos comerciais e residenciais, que são lançados no sistema depois da fase de desarenação, logo, não recebe tratamento”. Denúncia, aliás, publicada pelo ND há poucos dias, cinco anos depois da elaboração do laudo da Polícia Federal!
Os extravasores
A questão dos extravasores também estava presente à investigação técnica. Registra o laudo da PF: “Segundo técnicos (da Casan) esses extravasamentos ocorrem em dias de muita chuva, quando há um volume de contribuição muito grande, em função de ligações clandestinas, e o sistema de recalque não suporta tal volume, ou ainda, em momentos de falta de energia elétrica, quando as bombas das estações elevatórias param”.
ETE ineficiente
“De qualquer modo, as análises mostraram que o tratamento realizado não é eficaz e, por conseguinte, o lançamento do efluente líquido altera as condições dos cursos d’água e promove a poluição dos mesmos. (…) No caso de Canasvieiras, há três estações elevatórias que podem sofrer extravasamentos, sendo a principal a da bacia 2, cujos extravasamentos são feitos no rio do Brás, que deságua no mar, causando poluição”. Detalhe: ninguém foi responsabilizado de forma direta até hoje! E exatamente por isso continuamos à mercê da ineficiência e da incompetência.
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