Uma “supertemporada”. Essa é a avaliação do setor turístico sobre este verão em Santa Catarina. De acordo com a Secretaria Estadual de Turismo, 5,5 milhões de turistas já passaram pelo estado até o fim de janeiro. É possível que esse número alcance a previsão de inicial de 8 milhões de pessoas, mais do que a população do estado, hoje em 6,7 milhões de habitantes.
Os números da temporada foram tema do último debate da série “De Olho no Verão”, que reuniu nesta quinta (18), na sede da RBS TV em Florianópolis, representantes da Secretaria de Turismo de Florianópolis, do Conselho Estadual de Turismo, da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Santa Catarina (Abih-SC) e da Fecomércio-SC
“Para a hotelaria, seguramente foi a melhor temporada dos últimos 20 anos. A taxa média de ocupação em janeiro foi de 92% na cidade como um todo”, disse João Eduardo Moritz, presidente do Conselho Deliberativo da Abih-SC. “Está sendo uma supertemporada”, completou a secretária de Turismo de Florianópolios, Zena Becker.
Apesar das praias cheias, problemas como a falta de balneabilidade em alguns pontos e constantes engarrafamentos em rodovias provocados pelo excesso de veículos são questões ainda a serem resolvidas e que impactam diretamente o setor.
Para além da economia
“Ouvi bastante que foi uma supertemporada, maravilhosa, a melhor dos últimos 20 anos. Mas quero lembrar que uma supertemporada, para mim, não é só do ponto de vista econômico”, disse o professor Vinícius de Lucca, integrante do Conselho Estadual de Turismo.
Segundo de Lucca, é preciso considerar também o aspecto cultural, social, ambiental do turismo. “Se formos observar por essas três diferentes óticas, não foi uma temporada tão fantástica assim. Tivemos problemas de saneamento básico mais pontuais, mas isso maculou a imagem. Outro aspecto: será que a sociedade está contente com o modelo turístico que a gente vive em Florianópolis?”, questionou o professor.
“Eu tenho certeza que é diferente da visão da maioria dos hoteleiros e do poder público. A sociedade não está satisfeita, vamos discutir e avançar em modelos mais sustentáveis. Se continuar mais cinco anos assim, ninguém vai estar sorrindo ao fim de mais uma temporada”, ponderou Vinícius de Lucca.
“A porta de entrada do turismo em Santa Catarina é Florianópolis, por terra, ar e mar”, lembrou Moritz, destacando a falta de infraestrutura. “Por terra não temos estrada, a BR-101 continua um problema sério. Por ar, nosso aeroporto tem as mesmas discussões de 20 anos atrás. Por mar, não temos uma marina, é uma dificuldade para ter um porto. Vemos a quantidade de navios em Porto Belo e Itajaí. E Florianópolis no zero”, criticou Moritz.
Argentinos salvaram
Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Santa Catarina indica que os argentinos salvaram a temporada no chamado “verão da crise”. “Continuamos ainda recebendo turistas argentinos diariamente em Florianópolis”, disse Moritz.
De acordo com a Fecomércio, a estimativa é de que os turistas argentinos gastem no estado cerca de R$ 1 bilhão.
Segundo o representante da Abih-SC,os argentinos têm vindo veio não só pelo dólar, que encareceu viagens para os Estados Unidos e Europa, mas também porque o governo argentino liberou a taxa dos cartões de crédito para quem viaja e facilitou a compra de moeda estrangeira. “Além disso, há a facilidade de locomoção”, acrescentou Moritz.
Perfil do turista
“O perfil do turista é difícil de definir. A hora em que se elege uma determinada praia, como Jurerê Internacional, que tem um perfil de turismo elitizado, ela foi estigmatizada. O turismo social, ele vem em massa”, disse a a secretária de turismo de Florianópolis, Zena Becker.
“É preciso criar uma cultura de cidade de turismo. Será que queremos mesmo que Florianópolis seja uma cidade turística? Se quero, tenho que me adequar a alguns momentos de pico”, disse a secretária.
De Lucca, do Conselho Estadual de Turismo, lembrou que o turismo de eventos traz mais pessoas de março a novembro do que de dezembro a fevereiro. “A gente tem evento praticamente o ano inteiro e segmentos de menor impacto: cicloturismo, observação de pássaros, por exemplo”, pontuou De Lucca.
Moritz defendeu a necessidade de se definir o tipo de turismo que se quer para a cidade. “Não adianta ter um destino turístico que seja de massa e elitizado ao mesmo tempo. Não existe, na minha maneira de ver. O município tem que definir o que ele quer”, disse o presidente do conselho deliberativo da Abih-SC.
(G1 Santa Catarina, 18/02/2016)
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