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Casan concentra despejo de efluentes no rio Papaquara

O rio Papaquara está recebendo perto de 100% do esgoto tratado que sai da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) em Canasvieiras. Até semana passada, eram cerca de 50%. Isso porque a outra metade ia para o rio do Brás. Mas, durante a limpeza do canal artificial que liga a ETE ao Papaquara, a Prefeitura de Florianópolis tapou o tubo que levava parte do efluente para o rio do Brás. O Papaquara segue para o rio Ratones, que adentra a Estação Ecológica (Esec) de Carijós e deságua entre a Ponta do Sambaqui e o Pontal da Daniela.

A Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Fatma) e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) já emitiram relatórios mostrando que há mais fósforo, surfactantes e óleos no efluente da ETE de Canasvieiras que o permitido por lei. Na vistoria da Justiça Federal na ETE (ler abaixo) nesta quarta-feira (20.1), o superintendente Regional de Negócios da Região Metropolitana da Grande Florianópolis da Casan, Lucas Barros Arruda, afirmou que o problema do excesso de fósforo foi resolvido, com a adição do tratamento terciário.
Mapa mostra efluente saindo da ETE e indo parte em direção ao rio Papaquara (chega) e parte em direção ao rio do Brás (agora não chega mais). Arte: Anita Martins e Edu Cavalcanti/Especial para o Daqui na Rede.

O chefe da Esec, Sílvio de Souza, está realizando monitoramento diário do rio Papaquara. Na semana passada, quando manchas esbranquiçadas surgiram na Baía Norte, ele não havia constatado mudanças na situação do rio. “Mas agora mudou. Uma pluma de esgoto que estava estagnada desceu cerca de 200 metros, passou por baixo da SC-401 e está na altura da rodovia Virgílio Várzea, no Canto do Lamin”, informa. Esse esgoto ainda não chegou à Esec.

Souza explica que, por um lado, essa movimentação é boa, pois faz a água do rio fluir e se oxigenar. “Mas, no curto prazo, deve aumentar a contaminação”, alerta. A Esec abriga aproximadamente 500 espécies de animais – entre eles, jacaré-do-papo amarelo, lontra, ratão-do-banhado e graxaim –, além de muitos exemplares da flora de manguezais e restingas.

Juiz vistoria rio do Brás e ouve moradores

O juiz federal Marcelo Krás Borges realizou, nesta quarta-feira (20.1), uma vistoria na foz do rio do Brás, ao lado do trapiche da praia de Canasvieiras, na Estação Elevatória de Esgoto (EEE), localizada alguns metros rio acima, e na ETE, que fica ao lado do Sapiens Park. A inspeção está ligada à ação civil pública de 2014 do Ministério Público Federal (MPF), que investiga o tratamento de esgoto da Casan em Canasvieiras.
Integrantes de movimento que cobra saneamento básico em Florianópolis expõem faixa dentro da ETE de Canasvieiras. Foto: Edu Cavalcanti/Especial para o Daqui na Rede.

O juiz foi acompanhado da perita Bernadete Regina Steinwandter, especialista em saneamento básico, e do promotor do MPF João Marques Brandão Neto, além de funcionários da Casan e de outros órgãos públicos. Moradores de vários bairros do Norte da Ilha, que organizaram um movimento para exigir melhorias no saneamento básico de Florianópolis, acompanharam o procedimento. Eles, inclusive, abriram uma faixa de protesto ao lado da EEE e dentro da ETE.

Na beira do rio do Brás, que está com coloração escura e mau cheiro, Borges comentou com Brandão Neto: “Está sujo mesmo”. Em seguida, foi abordado por um morador que lhe falou que a ETE é subdimensionada e a EEE não funciona bem. “A Casan diz que a culpa é apenas das ligações clandestinas, e não é verdade”, afirmou. Ele ainda pediu que não apenas as instituições, mas também seus presidentes sejam responsabilizados.

Outro morador, que vive em um apartamento de cobertura ao lado do rio do Brás, informou Borges que possui fotos e vídeos “para incriminar tanto a Casan quanto a Prefeitura”. Uma outra pessoa ainda convidou “o pessoal da Casan para trazer suas famílias e tomar um banho de mar aqui”. Já na EEE, mais um residente de Canasvieiras pediu a atenção do juiz e apontou para um cano onde diz ver esgoto in natura frequentemente. Os nomes de alguns desses indivíduos foram anotados pela equipe da Justiça Federal para possíveis depoimentos.
Vistoria na ETE de Canasvieiras. Foto: Edu Cavalcanti/Especial para o Daqui na Rede.

Lucas Barros Arruda e outros empregados da companhia explicaram ao juiz o funcionamento da EEE e ETE, respondendo a alguns questionamentos. Borges pediu que eles sejam rápidos na entrega da documentação solicitada pela perita, que prevê entregar seu laudo nos próximos 15 dias. O prazo pode ser prorrogado.

Bernadete diz que vai utilizar os laudos de efluentes (esgoto tratado que sai da ETE) feitos pela Casan, descartando uma análise independente. O chefe da Esec de Carijós acredita que o ideal seria uma análise independente, com coleta de hora em hora, durante dois dias. “Poderia ser feita também no fim de semana, até para conferir se a ETE suporta toda essa vazão que dizem”, ressalta.

(Daqui na Rede, 21/01/2016)

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