O presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), Cleverson Siewert, diz que é impossível garantir que não haja falta de energia elétrica durante a temporada de verão de 2015-2016 em Santa Catarina. Segundo ele, o sistema tem capacidade de gerar energia para os mais de 8 milhões de turistas previstos para a temporada, mas fatores externos, como fortes chuvas e quedas de árvores, continuam a afetar a rede. A empresa diz investir em equipes e tecnologia para promover religamentos com agilidade.
O Grupo RBS elegeu seis grandes temas e promoveu debates com autoridades para moradores e veranistas saberem como deve ser este verão no estado. Além de fornecimento de luz, no projeto ‘De Olho no Verão’ foram debatidas questões ligadas ao abastecimento de água, segurança pública, trânsito, fornecimento de luz, distribuição de alimentos e aluguel de imóveis.
Veja o vídeo na íntegra da sabatina com o presidente da Celesc
Confira abaixo destaques da entrevista com Siewert.
Motivos de falta de luz
“O verão é uma época mais complexa para o gerenciamento do sistema elétrico. Mais complexo porque a gente vive um aumento de demanda, uma forte sazonalidade e problemas ligados ao clima. A gente tem dados estatísticos que mostram que tem 40% mais tempestades. Chuva, vento e raio. Tudo isso naturalmente mexe com o sistema elétrico. 99% do sistema elétrico brasileiro é aéreo, portanto, sujeito a preocupações.”
“Quando você tem uma grande tempestade, objetos podem ser arremessados na rede, pode ter um acidente e a energia pode acabar. Eu não posso garantir, ninguém pode garantir 100% de energia o tempo todo. Agora, o nosso objetivo é ter maior tempo possível e, quando não tiver, a recomposição de forma mais rápida.”
“Grande parte dos desligamentos é um galho de árvore, 40% dos desligamentos, ou objetos que batem na rede. Ao bater dá curto-circuito e desliga o sistema. Então a gente está trabalhando, sobretudo no interior e nos grandes ramais e troncos dos grandes centros, de fazer cabos protegidos para que quando haja esse batimento no cabo não ocasione desligamento.”
“Ainda existem em Florianópolis, no Norte da Ilha, muitas ligações irregulares. Então não estão cadastrados no nosso sistema. Não dá pra planejar adequadamente. Estamos fazendo parcerias com todos os órgãos de controle para que a gente possa coibir isso.”
“As vezes em que ficamos sem energia elétrica por defeito em alta tensão são menos de 5% das vezes. Então mostra que todo o trabalho tem sido feito adequadamente. Problemas podem acontecer. Em Balneário Camboriú nós tivemos um roubo na subestação. Infelizmente moradores de rua assaltaram.”
“5% das vezes que a gente fica sem energia é por conta de ninhos de joão-de-barro. Só Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm isso, o restante tem pouquíssima incidência. Nós só podemos tirar durante dois meses do ano com autorização do Ibama. Muitas vezes a gente acaba sofrendo por conta disso, mas também porque ambientalmente não é possível fazer essas retiradas.”
Investimentos
“Basicamente a Celesc trabalha em duas frentes maiores para recompor a infraestrutura para o verão. Primeiro, obras e investimentos. Segundo, mais pessoas disponíveis para recomposição do sistema quando eventualmente você tem algum tipo de problema.”
“Foram investidos ao longo desse ano R$ 250 milhões em obras em alta, média e baixa tensão. Novas subestações, novas linhas e manutenção do sistema. Devemos ter cerca de 20% a mais de profissionais disponíveis de dezembro até fevereiro, após o Carnaval, tanto no sistema elétrico quanto na área de atendimento, para que as pessoas possam acessar a companhia no momento oportuno.”
“São seis novas subestações, todas devem ficar prontas esse ano ainda. Eu diria que as duas principais ligadas ao verão são aqui na região, em Palhoça (Pinheira) e nos Ingleses (em Florianópolis). Essa subestação dos Ingleses não vai ficar completamente pronta até dezembro, mas estará com o transformador, que é a parte principal, energizada.”
“A Celesc investe cerca de R$ 170 milhões por ano em melhorias e em correções do que já existe.”
“Nós investimos cerca de R$ 12 milhões no ano em poda e roçada no Estado como um todo. Até 2010 a Celesc aplicava R$ 5 milhões por ano (…). Fizemos poda e roçada nos principais centros: Grande Florianópolis, Balneário Camboriú, ou seja, todo o litoral passou por uma minuciosa organização disso.”
“Nós temos um corpo técnico de mais ou menos 3,3 mil funcionários, todos próprios. Nós devemos ter ingresso de 150 novos eletricistas, todos terceirizados, contratados pelo período de dezembro até fevereiro de 2016, após o carnaval. A gente sempre tem isso. São mais ou menos 30 equipes extras, sobretudo no litoral, mas também no interior.”
“Entre eletricistas e atendimento são cerca de 300 funcionários a mais, todos terceirizados de dezembro até o final de fevereiro.”
“Além disso, um reforço no call center que sempre foi uma questão delicada (..) Então mudamos o sistema, temos um novo fornecedor. Estamos hoje com indicador de 90% a 95% de atendimento (…) Hoje nós temos 200 posições de atendimento. Durante o verão são mais 100 posições para que possamos fazer frente a estas dificuldades.”
Capacidade do sistema e consumo
“Só para a gente ter uma ideia, em termos de quantidade de energia disponível, a Celesc tem hoje cerca de 6,8 mil MVA, o indicador de potência, disponível para consumo no estado. A demanda máxima que nós tivemos aqui foi de 4,7 mil MVA, em fevereiro de 2014. Significa que a gente tem uma ordem de grandeza de 30%, não de ociosidade, mas capacidade de recursividade. Ou seja, falhou uma subestação, eu remanejo para outra.”
“Nós estamos tendo queda de consumo, por parte dos nossos clientes. Ao longo dos últimos 15 anos a gente não tinha enxergado isso. Então obviamente tem a ver com todo cenário econômico. A tendência é que a gente não deve ultrapassar o que tivemos ao longo deste último ano de 2015. O que sugere que nosso sistema está preparado.”
“Temos cerca de 200 mil equipamentos de proteção no sistema elétrico da Celesc. Chaves fusíveis, religadores. São equipamentos que protegem a rede e principalmente as pessoas. Num eventual problema esse equipamento vai desligar o sistema para evitar que qualquer pessoa possa sofrer choque.”
“Quando acontece qualquer tipo de problema, nossos eletricistas precisam percorrer todo o alimentador, aquele caminho da energia, para ver se não tem cabo no chão, nenhum acidente, para entender o que está acontecendo e só depois é dado comando para o religamento.”
“Nós somos muito afetados por roubos. É impressionante, sobremaneira no Sul do Estado. Lá é muito roubo de fio como dos próprios transformadores. Então a gente tá criando mecanismo de proteção. Primeiro pro nosso sistema e segundo trabalhos fortemente com as polícias para tentar coibir isso. Existe uma lei aprovada na Alesc que pune de forma severa quem é receptador desse tipo de material. (…) Isso se resolve com conscientização.”
Tarifas
“A expectativa é não (tenha aumento da tarifa no verão). Nós não temos nenhum indicativo do órgão regulador que possa haver qualquer tipo de mudança no cenário ano que vem.”
“Não tem a ver com o verão, mas é um tema bastante importante, pois nós todos somos afetados por questões tarifárias. Basicamente as tarifas aumentaram no país a partir de 2013 por dois motivos: o primeiro foi mudanças regulatórias. O governo federal mudou o sistema, tirou a estabilidade. Segundo, falta de chuva.”
“Então quanto menos chuva, a tendência de mais bandeira vermelha se manter. Mas você pode pergunta: não está chovendo todo dia no Sul? O problema que a maioria dos nossos reservatórios, quase 80% deles, ficam no Sudeste, onde não tá chovendo muito. Então não adianta chover aqui no Sul, tem que chover lá no Sudeste para termos reservatórios com mais água.”
“Aqui em SC, no ano que vem vamos viver um período de revisão tarifária. As distribuidoras de energia a cada 4 anos passam por um processo assim. expectativa que todo o setor tem, a própria Aneel, é que possa haver uma queda (na tarifa) .”
“O horário de verão traz beneficio, mas quando a gente olha no bolso é muito pequeno. É um impacto maior no sistema global, no sistema interligado, mas nós sentimos isso menos.”
Dicas para economizar
“É importante que saibamos que qualquer um de nós, clientes da Celesc, podemos colocar na nossa casa um aerogerador, ou então painel solar e nós gerarmos nossa energia. Além disso, se gerarmos a mais que consumimos, podemos jogar na rede e ainda faturar um crédito para o mês seguinte. É uma tendência nova, tá disponível. Nós já temos alguns cases no estado de SC. São 100 residências com isso.”
“Uma residência média consome algo como 220 kilowats por mês, isso gera uma conta de R$ 150. Um equipamento custa R$ 15 mil. Ainda é caro, mas já foi R$ 30 mil. Amanhã com a tecnologia evoluindo pode ficar muito mais barato.”
“A Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] mostrou que mudando simplesmente nosso dia a dia, fechando a geladeira mais rápido, banho mais rápido, podemos economizar de 10% a 15% na nossa conta de luz mensal. Simples ações podem trazer maior eficiência energética e menor tarifa.”
“Vamos racionalizar o nosso uso dentro de casa. Aí já pensando em tarifa. Desligando a energia, fechando a geladeira, enfim, tomando banho mais rápido, ar condicionado em 24 graus. Mudando de 21 para 24 graus, você não sabe a diferença que faz. Isso não acontece. Do ponto de vista pessoal, de cada consumidor, a gente tem que ter um consumo mais racional.”
(G1 SC, 02/12/2015)
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