Dois anos após a temporada de verão que ficou marcada por uma série de problemas no fornecimento de água e energia elétrica em diversas cidades catarinenses, o poder público traça os preparativos finais para evitar um possível colapso nestes serviços básicos diante da onda de turistas que se desloca para o litoral do Estado entre os meses de dezembro e fevereiro. Para este ano, órgãos como a Casan e a Celesc trabalham com uma perspectiva de 20% a 30% de aumento no número de veranistas durante a alta temporada na comparação com o ano passado.
Com o dólar em alta, as autoridades esperam também que brasileiros optem por viajar dentro das fronteiras do país e que mais vizinhos da Argentina, Paraguai e Uruguai aproveitem a desvalorização da moeda para desfrutar do verão em SC. Soma-se a isso a previsão de uma temporada com temperaturas bastante elevadas, o que acarreta em maior consumo de água e eletricidade nos balneários do Estado.
Diante desse cenário, o Grupo RBS preparou uma série de entrevistas em que cobra das autoridades o planejamento adequado para assegurar uma temporada sem problemas em Santa Catarina. Batizada como De Olho no Verão, ela se estende até o fim de semana (veja abaixo). Produzida em parceria entre o Diário Catarinense, a RBS TV, G1 e CBN Diário, a série questiona lideranças de seis setores do Estado sobre temas de importância para o turismo em SC.
O presidente da Casan, Valter Gallina, abre a série. Ele reconhece que há desafios previstos e imprevistos a serem enfrentados, mas afirma que está seguro quanto ao atual sistema de fornecimento de água no Estado. De acordo com ele, foram investidos cerca de R$ 60 milhões em melhorias da estrutura no decorrer do ano e mais R$ 2 bilhões em saneamento básico.
No verão de 2013 para 2014, várias cidades catarinenses sofreram com o desabastecimento de água. Quais foram as lições que a Casan aprendeu com os erros do passado e o que ela pode aplicar hoje?
Eu acho que a lição foi fazer um grande planejamento e um grande investimento. Esse foi o principal aprendizado. E fomos buscar alternativas. Por exemplo, no Norte da Ilha, em Florianópolis, onde talvez tenha sido o principal foco de problema do verão 2013 e 2014, e dos verões anteriores, praticamente todo o verão faltou água, com exceção do último. Daí nós fizemos a famosa obra, de aproximadamente 10 anos de planejamento, que vai ficar pronta antes do dia 20 de dezembro, ainda na primeira quinzena de dezembro, que é o floco decantador. Essa obra vai ter condição de tratar mais de 50% da água. A gente traz em média 2,2 mil litros de água por segundo e nós vamos ter condições de aumentar mais mil litros. Obviamente a gente não vai ter condições de transportar toda essa água. Está em execução uma adutora de 1,2 mil milímetros no valor de R$ 23 milhões – de São José para próximo da ponte, passando pela beira-mar de São José, saindo mais ou menos de Forquilhinha, e outra de 800 milímetros que sai da ponte e vai pela Beira-Mar Norte para o Itacorubi, que também vai estar em execução, essa é uma outra obra em torno de R$ 22 milhões.
A gente tem uma perda de água de 33%, de acordo com o último relatório da Casan. Esse volume, que poderia ser distribuído na rede, é desperdiçado por questões como vazamento. Quais são as medidas efetivas que vocês vão fazer neste verão para tentar amenizar esse problema?
Na realidade o nível de perdas, a média nacional, é em torno de 42%. Nós somos a sexta estatal do Brasil em nível de perdas. A primeira tem em torno de 27%. Nós queremos buscar no próximo ano de 2016 a primeira colocação em nível de perdas. A Inglaterra, que é um país de primeiro mundo, tem em torno de 26%, 27%. As perdas são um problema crucial no mundo todo, mas nós buscamos, já tivemos perda de 42%, e de 10 anos para cá, reduzimos. Como que é feita a diminuição da quantidade de perdas? O primeiro é manual com os geofones, que são esses grandes estetoscópios. Os nossos técnicos vão a campo da meia-noite às 4h, quando tem pouco trânsito, e tem que correr a rede para ver onde tem turbulência, onde tem vazamento.
O problema da água ocorre pela consciência das pessoas na hora de dar aquela economizada, mas também por quem aluga os imóveis. Se o imóvel for preparado para receber cinco, seis pessoas e receber 15, fica uma situação inviável, não é? Acha que caberia uma situação de legislação nesse sentido?
Uma legislação já existe. Temos que fazê-la cumprir. Nós tivemos um grande encontro com todas as imobiliárias do Norte da Ilha pedindo e fazendo um apelo para essas imobiliárias para que realmente fiscalizem quem for alugar. No momento que o locatário estiver no local, verifique quantas pessoas tem. Temos provas que no verão de 2015 apartamentos de dois quartos com 20 pessoas. Assim fica difícil montar uma estratégia. Nós fomos muito bem recebidos pelas imobiliárias, já estão montando estratégias em cima disso.
O senhor citou vários investimentos no Estado, como o sistema floco decantador, mas hoje, se tudo der errado, a Casan tem um plano de emergência? Com caminhões-pipa, com geradores? Qual é a estratégia caso o planejamento não de certo?
Como em anos anteriores, nós ficamos muito reféns de energia elétrica, que quando falta energia elétrica em uma estação de tratamento de água ou em um poço, quando volta a energia elétrica, volta para as residência, mas água não. Se faltar luz por duas horas, por exemplo, nesta época do ano, o sistema entra em colapso, e eu vou ficar dois dias sem água, imagina como fazer para recuperar isso tudo. Por isso nós locamos 43 geradores, em toda a região litorânea do Estado, especificamente para Florianópolis nós locamos 24 geradores e vão estar instalados até o dia 15 de dezembro. Se faltar energia, o gerador automaticamente entra em operação no sistema. Nós também vamos ter 14 caminhões-pipa no Norte da Ilha, quatro caminhões na região de Porto Belo e Bombinhas, nós vamos ter caminhão na região de Barra Velha.
Em maio foi solicitado um acréscimo de 13,24% na conta de água. Como é que vai ser esse verão?
Infelizmente só foi aprovado 11, 8%, que não era o necessário, mas obviamente a gente atendeu o que as agências reguladoras colocaram. Não vai ter um centavo de acréscimo, nós estamos fazendo a nossa obrigação, de fazer investimentos, nós estamos investindo nesse momento, apenas em água, para dar segurança ao morador e ao turista, R$ 60 milhões. É um quantitativo para atender 800 mil pessoas normal, não no final de ano, no final de ano é outro 800 mil. Se está comprovado que a população triplica, nós não poupamos esforços para fazer isso. São recursos próprios da Casan, mas era uma segurança que nós tínhamos que dar para a população da região litorânea de Santa Catarina.
Quanto ao abastecimento, o senhor disse que a situação está tranquila. Qual o desafio da Casan atualmente?
Tranquilo não está, pode ter certeza. Vocês podem ter certeza que eu não durmo do dia 23 ao dia 3. Sempre têm os problemas pontuais. Nós não temos horário. Nós temos a convicção do bom trabalho elaborado e vamos monitorar o que ocorre. O presidente, os diretores, todo mundo fica de plantão, porque nós temos que dar exemplo. Então não há tranquilidade, mas a convicção que fizemos um bom planejamento, um bom trabalho e bastante investimento. Por isso temos a convicção que vamos passar um verão relativamente tranquilo.
(DC, 30/11/2015)
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