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(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 01/10/2015)

Um videogame na forma de enigma foi caoticamente planejado para Floripa nos últimos 40 anos, quando o aterro da Baía Sul nasceu para se transformar em… garagem de ônibus.

Floripa cresceu com o requinte de resultar numa cidade ainda pequena, mas com todos os inconvenientes de uma grande metrópole. Cidade insular e portuária – sem portos ou transporte marítimo –, sobre a Ilha se abateram todas as pragas do progresso predatório. Pior: um progresso deformado, associado ao carrapato de uma ecoteologia caolha que acaba provocando exatamente o que deveria evitar: a degradação ambiental.

Some-se a todos esses males o da monocultura automotiva, velha arteriosclerose do Brasil, com direito a incentivos fiscais. Dá mais carro em Floripa do que chuchu na cerca ou urtiga em campo de ervas daninhas. Nas ruelas da velha Desterro não cabem mais carros. Ironia: no mar que abraça a Ilha, faltam barcos.

– Sobra mar pra poca batera, mo Deugi… – reclama um Mané, com gosto de sal na boca e maresia no coração.

Um estudo acadêmico diagnosticou que Floripa é, proporcionalmente, a cidade de menor mobilidade urbana entre as 27 capitais brasileiras. Pior: é a vice-campeã de engarrafamentos em todo o mundo, superada apenas por uma conflagrada cidade tailandesa.

Na Ilha, os bebês já nascem com quatro rodas. E os automóveis dão em árvore, já madurinhos. Ou em até 60 meses, a perder de vista. Uns e outros já nascem no limitado berçário citadino: ruas e ruelas comprimidas entre o mar e a montanha, ladeiras e baixios.

O automóvel pode não ser um animal domesticável. Mas existe. Come, metaboliza, excreta, respira, move-se e reage a estímulos externos, governados por este Homo transitus que nada tem de cordial.

Caberá ao administrador sério criar um sistema para – mesmo ao peso de natural impopularidade – começar a hierarquizar o trânsito em benefício do transporte coletivo, penalizando pecuniariamente o acesso de carros com passageiro único ao centro da cidade e ao seu entorno.

Traduza-se: limitar o uso do automóvel na Ilha sob pena desse “animal” assumir a prefeitura e governar por um único decreto: o do engarrafamento permanente, sem começo, meio ou fim.

É tarefa para meio século. Com o agravante de que não temos todo esse tempo.

 

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