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Memória de Florianópolis: o patrimônio como parte da identidade dos manezinhos

(Por Carlos Damião, Notícias do Dia Online, 17/10/2015)

De que matéria prima é feita a memória? Essa questão me inquietou na semana em que a Ponte Hercílio Luz foi “vítima” de vigorosos ataques por parte de pessoas que, em geral, não têm qualquer relação de afeto com o monumento símbolo de Santa Catarina, muito menos com Florianópolis.

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O professor Paulo Fernando Lago referia-se, em seus escritos, ao que chamava de “patrimônio da saudade”: a velha ponte, a velha figueira, o velho sobrado, a velha igreja… Ele entendia esse patrimônio da saudade como a essência da nossa memória individual ou coletiva. E de fato, nenhum povo pode se sentir povo se não tiver personalidade, identidade local ou regional, vínculos afetivos – familiares ou sociais – com sua memória material ou imaterial.

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Outro dia um amigo da cidade me provocou, de forma desanimada: “Perdemos Florianópolis, não adianta chorar”. Mas, que diabos significa isso? Talvez o mesmo que dizia o Senador Alcides Ferreira, lá na década de 1970, conforme registro de Salim Miguel em uma de suas crônicas: “Não se conhece mais ninguém”. O Senador confessava sua tristeza durante as andanças cotidianas pela Rua Felipe Schmidt, Senadinho e arredores.

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O “perdemos Florianópolis” nunca fez tanto sentido quanto nos debates sobre a Ponte Hercílio Luz, em que se promoveu deliberada confusão entre os supostos desperdícios de recursos no passado e a importância do monumento construído entre 1922 e 1926, considerado um modelo mundial à arte da engenharia. Recebi críticas por causa do meu posicionamento em defesa da ponte. Algumas ofensivas, outras caluniosas, como tem sido comum entre pessoas que usam as redes sociais abusando da covardia, da intolerância e da mentira.

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A ponte é um caso ainda a ser esclarecido, quanto a eventuais desvios e malfeitos, e esse desafio cabe às autoridades do Judiciário. Mas não abandonaremos a luta pela sua reabilitação ao uso. E seguiremos causando espanto aos que torcem o nariz à nossa “manezice”, às nossas raízes, à nossa identidade, aos nossos vínculos mais imorredouros com Florianópolis e sua história.

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Continuaremos abraçando a memória dos nossos melhores dias, os nossos pontos de identidade, tudo aquilo que nos toca, nos aproxima e nos torna mais humanos, mais catarinenses, mais florianopolitanos ou desterrenses. Ah, sim, quanto a Desterro, nós a reconhecemos no que de melhor sobrou da aldeia que já fomos. Se alguém quiser exemplos materiais, basta olhar para as igrejas de São Francisco da Penitência e Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; para as fortalezas; para o núcleo central do Imperial Hospital de Caridade; Teatro Álvaro de Carvalho; prédio da Alfândega; boa parte do casario de Santo Antônio de Lisboa, da Rua Conselheiro Mafra, da Praça 15, do Ribeirão da Ilha e tantos outros elementos tão significativos.

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Isso tudo é parte da nossa personalidade, como a ponte, como a lendária Curva (ou Volta) do Madalona, a Chácara do Espanha, a figueira da Praça 15, o boi de mamão, as rendas e as rendeiras, os pescadores artesanais, o Mercado Público, a Irmandade e a Procissão do Senhor dos Passos… Quem vive Florianópolis com intensidade e sintonia amorosa, sem se prender ao espírito especulativo ou aventureiro, é da cidade, é da terra, é do presente, é do futuro.

 

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