As caieiras — fornalhas primitivas para produção artesanal de cal — funcionaram a todo vapor na orla da Ilha entre o século 17 e a década de 1960. Elas estão entre as tradições perdidas e quase esquecidas da cultura ilhéu. Mas o nome, apesar do número cada vez mais reduzido de pessoas que sabe seu significado e o que representava, continua em uso, como mostram os sinais de trânsito que indicam a Caieira da Barra do Sul, pertencente ao distrito do Ribeirão da Ilha, e a Caieira do Saco dos Limões.
Conchas de moluscos, principalmente berbigão, extraídas de sambaquis foram transformadas em pó e misturadas a óleo de baleia para formar a base da argamassa que reveste paredes de igrejas, fortalezas e casario histórico de Florianópolis. Importantes para a primeira etapa de urbanização da costa brasileira, as caieiras abriram caminho para dois tipos de degradação ambiental: o corte de árvores nativas, inclusive mangue, usadas como lenha; e a destruição de sítios arqueológicos pré-históricos.
“Também serviram como aterro das primeiras ruas urbanas”, acrescenta o arqueólogo Jeferson Batista, do Museu do Homem do Sambaqui, do Colégio Catarinense. A situação só muda na segunda metade do século passado, quando cientistas nacionais e estrangeiros alertaram sobre a importância do estudo da pré-história. Em 1961, a Lei 3.924 proibiu a destruição dos sítios, com desativação gradual dos fornos de cal, minério hoje extraído de rochas calcárias.
Pontos fumegantes se espalhavam também pela orla continental, de Governador Celso Ramos a Paulo Lopes, com grande concentração nas embocaduras dos rios Imaruí, Massiambu e Cubatão, em Palhoça. Em Florianópolis, só no Saco dos Limões eram oito, conta o pesquisador Nereu do Vale Pereira, 87. “A produção de cal era transportada em barcaças pela baía. As pessoas acreditavam que o cheiro forte que exalavam curava tuberculose”, emenda Gelci Peninha Coelho, 60, pupilo de Franklin Cascaes.
Em suas andanças pela Ilha, Cascaes mapeou caieiras inteiras e ruínas, trabalho extraviado antes da publicação, lamenta Peninha. Talvez a pesquisa dele incluíssem as caieiras do Jococa, do Modesto, do Venâncio e tantas outras que os artesãos Vilson Xavier, 80, e Emídio Ferreira, 66, conheceram entre a Costeira do Pirajubaé e a Barra do Sul.
Leia na íntegra em Notícias do Dia Online, 18/10/2015.
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