O governo de Santa Catarina não pensa em alternativas que não seja a reforma da ponte Hercílio Luz e seu retorno ao tráfego. Este é o resumo da atual avaliação do poder público, que repele a ideia de derrubar a estrutura e construir uma nova ligação entre a Ilha e o continente nos mesmos moldes da que foi inaugurada em 1926. O posicionamento, no entanto, não impede que especialistas e entidades públicas questionem a validade da manutenção do cartão-postal.
O Ministério Público de Contas (MPTC) investigou os gastos com reformas e diz que a soma de investimentos na tentativa de reabrir a ponte é R$ 562,5 milhões. O órgão acredita que esse dinheiro poderia custear a construção de novas e mais eficientes pontes. A de Laguna, por exemplo, tinha um custo inicial previsto em R$ 598 milhões e fechou em R$ 775 milhões, mas tem o triplo de comprimento da Hercílio Luz. Já a JK, em Brasília, foi erguida com R$ 160 milhões que, corrigidos para hoje, chegaria a R$ 360 milhões, mesmo com as suspeitas de superfaturamento que recaem sobre o projeto. “Com os impactos financeiros da reforma da ponte Hercílio Luz, pode-se afirmar, pelo menos três pontes poderiam ter sido construídas. Tais números denotam a desproporção e a falta de razoabilidade na gestão pública da referida obra”, afirma o procurador Diogo Ringenberg na investigação.
O secretário estadual de Infraestrutura, João Carlos Ecker (leia a entrevista ao lado), defende a continuidade das obras. Explica que a Empa está prestes a finalizar os pilares de sustentação da primeira etapa da reforma, enquanto que negociações estão em andamento para definir quem finalizará o projeto. Além disso, o cartão-postal é tombado como patrimônio histórico municipal, estadual e federal.
APROVEITAMENTO DOS ACESSOS
Para o especialista em mobilidade urbana Werner Kraus Junior, que colaborou na investigação do MPTC, a reforma da Hercílio Luz contribuiria para desafogar o trânsito entre o continente e a parte insular da capital, mas somente para pedestres, ciclistas e transporte público. Diz também que uma nova ponte pênsil, com as mesmas características da original, seria mais eficiente e comprometeria menos o orçamento estadual.
– Sugiro a construção do museu da travessia que abordasse a importância da ponte Hercílio Luz para SC. Mas entendo que ela poderia ser desmontada e substituída por uma nova. A sociedade civil poderia reavaliar o tombamento.
Em poucas palavras, o ex-presidente da Associação Catarinense de Engenheiros Aníbal Borin afirma que deveriam ser aproveitados os atuais acessos existentes para que a Hercílio Luz fosse reconstruída do zero.
– Se essa ponte fosse demolida e feita uma igual, só que com quatro pistas de tráfego, o custo global seria menor. E ninguém mais falaria em quarta ponte – argumenta Borin.
(DC, 30/09/2015)
Entrevista João Carlos Ecker, Secretário de Estado de Infraestrutura.
Diário Catarinense – O governo do Estado já pensou em desmontar a Ponte Hercílio Luz?
João Carlos Ecker – No governo não se pensa em derrubar a Ponte Hercílio Luz. Sim, o pessoal levanta essa possibilidade. Eu e o governador fomos ao EUA, estivemos com a empresa que executou o projeto na década de 1920. Eles têm todo o histórico da ponte e dão um valor extraordinário para essa estrutura. Muitas pessoas dizem que tem que derrubar. Claro, as pessoas querem uma solução para a ponte. São 33 anos de interdição. Mas agora nós estamos tocando uma obra tranquila. Uma empresa está trabalhando na etapa Ponte Segura. E para a recuperação total estamos em negociação com a American Bridge.
DC – E como está as negociação com American Bridge?
Ecker –Ela ainda não apresentou para o Estado o estudo final do projeto que nós temos. Nós estamos aguardando.
DC – Mais de meio bilhão foi investido na Hercílio Luz. Diante deste valor, não é de se pensar em outras alternativas para a estrutura, que continua deteriorada após aplicação deste dinheiro?
Ecker –Eu sei, mas é difícil para nós pensarmos em outras alternativas quando nós estamos executando obras ali. Estamos justamente trabalhando na estrutura para segurar a ponte. A intenção do governador é colocar essa ponte em funcionamento. Eu não participei de nenhuma conversa pensando em algo diferente. Por enquanto, não tem Plano B. Outra coisa: o custo para tirar essa ponte também seria muito alto.
DC – Como o governo está articulando essa situação envolvendo a estrutura?
Ecker – Mais importante é aguardarmos os resultados da negociação. Teria que ter um laudo muito forte de que não valeria a pena sua manutenção, pois ela é um patrimônio histórico. O que eu posso te dizer é que se fosse algo fácil ela não estaria interditada por três décadas. Posso dizer também que há uma vontade enorme do governo em concluir essa obra, com valores razoáveis.
DC – A Empa irá concluir a primeira etapa da obra no prazo contratado?
Ecker – A empresa Empa está tocando muito bem a obra, seguindo o cronograma de 180 dias. Enquanto isso, estamos aguardando também um posicionamento da americana para a segunda fase da restauração.
( DC, 30/09/2015)
O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) garante que a colocação das estacas de sustentação embaixo do cartão-postal da Capital catarinense estará terminada até dia 8 de outubro. Essa etapa está sendo executada pela empresa mineira Empa S/A Serviços de Engenharia, membro do grupo português Teixeira Duarte, que assinou um contrato emergencial, ou seja sem a necessidade de licitação, com o governo do Estado em 19 de fevereiro deste ano, após a rescisão com a Construtora Espaço Aberto, e da desistência da TDB Produtos e Serviços e da Construtura Rocha. A obra chamada de “Ponte Segura” foi fechada no valor de R$ 10,3 milhões e é parte essencial da reforma da ponte. O restauro da estrutura só poderá ser efetivamente iniciado após a colocação desses quatro pilares de sustentação.
O Estado ainda espera uma proposta da empresa americana American Bridge, responsável pela construção da ponte entre os anos de 1922 e 1926, sobre a restauração da estrutura. Técnicos da empresa sediada em Pittsburgh já fizeram três visitas à ponte este ano para avaliar as condições. Por meio da assessoria, o Estado afirmou que não há um prazo para a entrega da proposta. Um total de R$ 130 milhões está reservado para a próxima etapa da obra.
DUAS PROPOSTAS DE RESTAURAÇÃO
Uma avaliação e proposta da Empa também é esperada pelo Estado. Segundo o Deinfra, a construtora mineira deve entregar o documento antes da conclusão da etapa Ponte Segura. No caso de as duas empreiteiras entregarem propostas, a escolha ficará pela de menor valor. Procuradas, nenhuma das duas construtoras confirmaram se irão entregar uma proposta para o restauro da ponte Hercílio Luz.
(DC, 30/09/2015)
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