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Ponte Hercílio Luz, a velha senhora

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 04/09/2015)

A ponte Hercílio Luz, bela escultura, faz parte da eterna novela brasileira da inapetência para a boa administração.

Espanta ouvir pessoas, supostamente dotadas de bom QI, pregando a demolição da ponte Hercílio Luz. Parecem ignorar que tudo teria o seu custo, até a sua queda. Quanto custaria deixar cair, ou desmontar, além do custo patrimonial, moral, estético e histórico?

Custa restaurá-la. A sua desmontagem controlada também teria um alto custo. E quanto custaria o escândalo de sua queda, a obstrução do canal do Estreito com a retorcida traquitanda de ferros, as duas torres atrapalhando o tráfego marítimo, semiafundadas na lama da indecisão?

Custa crer que cabeças tecnicamente dotadas se refiram à ponte apenas como um bibelô da paisagem – e não como um equipamento válido para ajudar no desembaraço da imobilidade urbana.

Sua restauração é de alta complexidade técnica, o que não convalida tanto atraso e tantos imbróglios – que se arrastam há mais de três décadas.

Se durante mais de meio século, entre 1926 e 1982, ela suportou o trânsito e a tonelagem de milhares de veículos, leves e pesados, sobre o seu dorso, por que, restaurada, não haveria de retomar o seu pleno papel de desobstruidora de caminhos?

Há méritos de alguns poucos governos neste período – e o mérito maior cingirá a administração que, de fato, recuperar o monumento, restaurando-o – oh, sonho, quem sabe para, digamos, o dia 13 de maio de 2017?

Teremos, é claro, que superar a neblina mental dos que desprezam “velharias”, ou dos que gostariam de repartir o dinheiro da restauração com suas paróquias de retorno eleitoral. Houve heresias até de um secretário de infraestrutura que propunha transformar a ponte num poleiro “cultural”, que abrigasse lojinhas de souvenir e um palco para performances. Ora, quem quer ir a um museu ou teatro, certamente prefere frequentar prédios próprios e devidamente abrigados. Imagine-se o Vento Sul abatendo-se sobre uma peça de teatro, um recital de orquestra sinfônica ou a pré-estreia da peça Esta Noite Choveu Prata?

São pessoas incapazes de raciocinar com os valores da tradição. Em Lisboa, deixariam apodrecer o Mosteiro dos Jerônimos. Em Paris, venderiam a Torre Eiffel como sucata. Em Roma, demoliriam o Coliseu, “aquela ruína”.

 

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