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A ligação entre dois mundos

(Por Visor, DC, 16/07/2015)

Acompanhei atentamente, por dever de ofício no estúdio da TVCOM, os quatro discursos durante a solenidade da ponte Anita Garibaldi, uma cerimônia quase espartana no quesito rapapés e salamaleques. Começou às 11h30min e durou pouco mais de 40 minutos.A turma chegou, se acomodou, fotos, falatório, aplausos (com vaias ao fundo) e pronto. Estava inaugurada. Durante o tempo em que permaneceu no palco, a presidente Dilma Rousseff parecia feliz. No discurso deixou transparecer claramente o momento delicado que o país atravessa. Em apenas dois minutos, pronunciou a palavra dificuldade sete vezes. E disso ela bem entende.

Por mais paradoxal que possa parecer, foi em Santa Catarina, justo o Estado com o maior grau de rejeição, que ela recebeu mais manifestações de carinho e apoio do que críticas e xingamentos.

Em especial nos pronunciamentos do prefeito de Laguna, Everaldo dos Santos, e do governador Raimundo Colombo. Claro que a claque de quase mil convidados foi selecionada a dedo para adentrar na área do evento, espécie de tenda dos milagres em que todos celebravam um país melhor e que dá certo. Um marciano que chegasse naquele momento se surpreenderia com a popularidade da presidente da República na parte coberta.

A turma não menos ruidosa, a dos protestos, estava posicionada do lado de fora a poucos metros, quase debaixo da ponte. Sem metáforas.

Durante as falas, uma outra mulher rivalizou com Dilma nas citações: Anita Garibaldi, a Heroína de Dois Mundos. Todos falaram da mulher guerreira e coisa e tal. Parecia até uma invocação à República Juliana tamanho o entusiasmo dos oradores com a lagunense ilustre (mais na Itália do que aqui). Do prefeito, ela ganhou um quadro com a imagem clássica da combatente no lombo de um cavalo com o filho no colo.

Foi como se a presidente encontrasse naquele evento, no meio da uma ponte, um bálsamo para aliviar a dor de feridas profundas, que estão longe de cicatrizar.

Dilma está acuada por conta de tantas crises numa só: a política, a econômica e a ética. Mesmo de improviso, deu sinais de que acusou o golpe, mas ainda não entregou os pontos. Mirou direto no coração dos peemedebistas ao lembrar do ex-governador Luiz Henrique e demonstrou todo o seu apreço por Colombo, talvez o governador mais próximo dela atualmente no país.

Chegou a provocar calafrios na assessoria quase ao final do pronunciamento, quando se meteu a filosofar. “O que é uma ponte? Uma ponte une, fortalece”, concluiu. Ufa, pensaram os mais próximos, escaldados por conta das recentes escorregadelas com mandiocas e teses evolutivas que fariam Darwin revirar no túmulo.

A passagem da presidente por SC foi rápida. À tarde já tinha agenda em Brasília. Quem conversou com ela ao final do evento garante que estava precisando de um pouco de carinho. E ganhou. Na terra de Anita, Dilma percebeu que só resta uma chance ao governo para chegar vivo a 2018: construir com urgência urgentíssima pontes que unam novamente o Brasil, dividido como nunca. Talvez seja tarde demais e nem exista ambiente para tanto.

O cenário é imprevisível. E ninguém arrisca dizer como será o dia seguinte a um eventual fim do governo. Por enquanto, a única certeza que se tem é que haverá menos congestionamentos no sul graças à ponte Anita Garibaldi.

 

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