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Sondagem do subsolo dá início a estudos para retirar comportas do rio Ratones, em Florianópolis

Conchas e areia predominam entre os sedimentos marinhos coletados durante a primeira etapa de sondagens geológicas junto às cabeceiras das pontes sobre os rios Ratones e Papaquara, na SC-402, principal acesso a Jurerê e praias vizinhas, em Florianópolis. Realizado por técnicos da Sotepa, a empreiteira contratada por licitação do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), o trabalho representa o início dos estudos para elaboração do projeto de engenharia de retirada das comportas construídas entre as décadas de 1950 e 1960 para alteração do curso original dos principais abastecedores da maior bacia hidrográfica da Ilha de Santa Catarina.

Segundo projeção dos técnicos responsáveis pela sondagem, a laje de rocha dura (granito) está a aproximadamente 60 metros de profundidade. As perfurações atingirão 25 metros do subsolo, em área protegida pela Estação Ecológica de Carijós, administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade). O estudo, conforme explicação do engenheiro Luiz Antônio Vieira, do Deinfra, apresentará a estratigrafia, ou seja, os diferentes sedimentos sobrepostos no terreno.

Para o chefe de Carijós, oceanógrafo Sílvio de Souza, 40, o início das perfurações e sondagens do subsolo é um importante passo no processo para a revitalização do rio Ratones e seus afluentes. “Trata-se da mais importante obra de regeneração ambiental de Florianópolis. Deinfra e governo do Estado compreenderam que a retirada das comportas é fundamental para a recuperação e proteção ambiental da estação ecológica e seu entorno”, afirma Souza.

Em fevereiro de 2015, a Vara Ambiental da Justiça Federal em Santa Catarina homologou acordo assinado pelo juiz Marcelo Krás Borges e representantes do Deinfra, do ICMBio e da Defensoria Pública da União, em nome da Associação dos Pescadores do Rio Ratones. Naquela ocasião, foi estipulado prazo de um ano para a efetiva desobstrução do vão central das duas pontes de concreto para retomada natural da hidrodinâmica das marés e regeneração ambiental do leito do rio e da gleba de manguezal localizados no entorno de Carijós [trecho de várzea entre a SC-402 e as localidades de Canto do Lamin, em Canasvieiras, Vargem Pequena, Ratones e Sambaqui].

Repovoação dos rios do entorno de Carijós

Os recursos para esta primeira etapa dos trabalhos, R$ 300 mil, foram garantidos pelo Grupo Gestor do Estado por meio do Deinfra. A sondagem, explica o engenheiro Luiz Antônio Vieira, definirá como serão retiradas vigas e colunas de concreto que sustentam os diques, sem afetar a estrutura das pontes.

A exemplo do representante do ICMBio, moradores da região também comemoram o início das sondagens. Para o presidente da Associação dos Pescadores do Rio Ratones, Virgílio Manoel Santos, 64, a retirada das comportas possibilitará a repovoação dos rios do entorno de Carijós.  “Sem as barreiras, os cardumes aparecerão novamente rio acima, evitando a pescaria ilegal e conflitos com a fiscalização da estação ecológica”, diz.

Instaladas entre as décadas de 1950 e 1960, a função das comportas seria conter o avanço da maré alta em áreas destinadas às atividades agropecuárias e ocupação imobiliária.

Entre as consequências ambientais, pescadores e técnicos apontam o assoreamento e o desaparecimento de peixes comuns naquele ecossistema – tainhas, robalos, pescadas, bagres e camarões. A pedido dos pescadores, a ação civil pública da Defensoria Pública da União incluía a retomada do curso original e desassoreamento do local conhecido como Poço das Pedras e construção da terceira ponte na SC-402, entre as duas já existentes. Análises técnicas do ICMBio, contudo, desaconselharam a interferência, que poderia causar grave desastre ambiental com liberação de grandes quantidades de carbono e nitrogênio.

( Notícias do Dia Online, 12/06/2015)

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