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08/06/2015
Ala norte do Mercado Público de Florianópolis aposta na reabertura da ala sul para melhorar vendas
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Crescimento da Grande Florianópolis garante boas vendas para as lojas de rua na cidade

Já não há pescadores do interior da Ilha e colonos de Antônio Carlos entrando para comprar com dinheiro vivo, mas também não é mais preciso usar o “orelhão” na hora de fazer uma consulta ao SPC. Numa época em que tecidos e roupas finas já podem ser encontrados em lojinhas de Águas Mornas e Biguaçu e em que os carnês foram substituídos por cartões de crédito e débito, o comércio de rua de Florianópolis mantém um público numeroso, fiel e sempre ansioso por novidades e promoções, o que diminui os estragos da concorrência e da capilarização do varejo. O crescimento da população na região garante a sobrevivência do segmento mesmo com os sobressaltos da economia, que freia as vendas, e com o estrangulamento urbano, que dificulta a mobilidade e trava os deslocamentos pela cidade.

Vendendo tecidos, armarinhos, materiais para embalagem e toda sorte de itens para confecção, construção e reparos, o comércio das ruas Conselheiro Mafra e Francisco Tolentino é um formigueiro humano que vem ou vai para o Ticen (Terminal de Integração do Centro) e que tem no Mercado Público uma referência fundamental. Há lojas centenárias que pouco mudaram seu modelo de negócio e outras bem tradicionais que passaram a admitir vendedoras, por exemplo, porque muitas mulheres preferem ser atendidas por mulheres. Também é possível encontrar funcionários com 40 anos de casa e gerentes na faixa dos 20 que vêm dando prosseguimento a uma tradição familiar que veio da origem, no Líbano dos antepassados.

Uma dessas instituições, a Casa Bush, na rua Conselheiro Mafra, vende para pessoas de três ou quatro gerações da mesma família e virou, mesmo com a muvuca do atende-embala-entrega, um ponto de encontro de fregueses históricos. “Muitos vêm apenas para matar a saudade, o que é muito gratificante para nós”, diz o proprietário e gerente Ricardo Michel. Mesmo nos períodos em que a chuva e o vento sul retêm as pessoas em casa, o movimento é generoso. A Bush tem, talvez, o alvará de funcionamento mais antigo da cidade: 13 de outubro de 1880.

Gerações de compradores

A Casa Busch nasceu como selaria e sapataria, serviços baseados em couro que deixaram de existir por conveniências de mercado. Ricardo Michel, o atual proprietário, pertence à quinta geração da família e se reporta ao avô Frederico Bush Schmithausen e ao pai Jorge José Michel para falar do gosto pelo comércio e da correção que sempre caracterizaram o estabelecimento e seus donos. Descendente de libaneses, ele diz que o perfil da loja, que vende produtos de vinil, plásticos para mesas, bolhas para embalagens, espumas e produtos afins, é o de rua. “A gente sabe onde está pisando”, afirma ao reforçar que não está disposto a fazer uma ampla adequação dos produtos para mudar de endereço. A cidade mudou, ficou um pouco mais desumana, mas a clientela simples e apressada está sempre ali, batendo ponto nos balcões da loja.

Na Bush, o artesão Miguel Braga da Motta compra cola, tecidos, forrações, TNT e outros produtos há 20 anos, desde que se mudou de Porto Alegre para cá. Ele produz itens para festas, letreiros para fachadas, decoração de ambientes e até maquetes, e encontra na loja da Conselheiro Mafra o que precisa quando vai repor os estoques de material. “A época é boa para o artesanato, embora muitos cortem as festas logo que chega a crise”, ressalta. Ele pede mais atenção dos governos ao segmento, porque “ele gera empregos e beneficia o comércio e toda a economia”.

No balcão, aos 79 anos

No outro lado da praça 15 de Novembro, a Casa Elias é resultado da saga de outra família de libaneses que se fixou em Santo Amaro da Imperatriz em 1920, depois de breves períodos na Passagem do Maciambu e no Alto Aririú, em Palhoça. Aberta em 1960, a loja pioneira era a preferida dos agricultores do município e também de São Bonifácio, Anitápolis, São Pedro de Alcântara, Angelina, Bom Retiro e Alfredo Wagner. Na época, Palhoça ainda não fazia frente a Santo Amaro no comércio popular. Cinco anos depois, o comerciante Nazir Felício Elias abriu duas unidades na Ilha, focando nas confecções, e atualmente, aos 79, ainda administra pessoalmente seu negócio fazendo as cobranças no fundo do estabelecimento, na rua João Pinto.

Elias se lembra bem dos tempos em que moradores dos Ingleses e Canasvieiras venciam 40 quilômetros de poeira ou lama para fazer compras no Centro. A região onde está estabelecido já foi o motor do comércio na Capital. “Até 1965 não havia lojas de tecidos na Conselheiro Mafra e o Mercado Público só vendia armarinhos”, conta. Ele não reclama, mas sua casa é uma das tantas prejudicadas pelo esvaziamento do lado Leste da praça, depois que o Ticen foi inaugurado próximo ao Mercado. A queixa que faz diz respeito ao calçadão. “Todos prometem, mas ninguém melhora a rua, que é a mais feia da cidade”, afirma.

Projetos querem melhorar centro histórico

Se tem bom movimento, o comércio antigo da Capital paga o preço da expansão do varejo nos bairros, balneários e municípios vizinhos, da concorrência dos shoppings centers e da falta de investimentos em obras que melhorem a cara da cidade. Executar essa última tarefa é papel da prefeitura, mas a Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis) exerce um papel propositivo importante. Por isso, junto com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), vem debatendo opções de revitalização que atraiam mais os moradores e os turistas. “O comércio de rua está estagnado, mas tende a melhorar com o projeto Empreender, baseado num conceito alemão de associativismo que discute as necessidades locais”, diz Gerson Appel, dono de farmácia que representa uma parte do comércio do centro histórico na Acif.

A cada duas semanas, parte dos 80 lojistas que fazem parte do Núcleo Territorial de Lojistas das Ruas Conselheiro Mafra e Francisco Tolentino, que compreende a área que vai da rua 7 de Setembro à Padre Roma, se reúne para tratar de planos de trabalho e discutir demandas comuns em áreas como limpeza, segurança e capacitação de recursos humanos. Aquela região conta com estabelecimentos antigos, anteriores à criação do núcleo, como a Casa das Sombrinhas, a gráfica Infograf e a Casa do Fogão, todas com clientes fiéis, moradores do Centro e gente que usa o Ticen diariamente. A área deve seu dinamismo, também, ao grande número de serviços, que não são o foco dos shopping centers.

A expectativa, ali, é pela reabertura total do Mercado Público, que deve dar nova dinâmica ao comércio da Conselheiro Mafra e Francisco Tolentino. Os investimentos em segurança e a expansão das oportunidades deixarão, segundo Appel, esta área da cidade num patamar próximo ao dos shopping em termos de prestígio e importância. As melhorias previstas na iluminação pública podem dar outro aspecto ao cenário, e projetos semelhantes ao que mudou para melhor a rua Vidal Ramos estão em fase de estudos. Também os recursos federais prometidos para a revitalização do centro antigo, com a recuperação de edifícios históricos, vão ajudar.

Na rua, com sofisticação

A Kotzias Tecidos, uma das lojas mais tradicionais de Florianópolis, mantém na rua Felipe Schmidt o padrão que tem no Beiramar Shopping, mas a proprietária Moscopiá Kotzias sabe que o público pode variar. “A qualidade é a mesma, o Centro da cidade ainda tem um perfil sofisticado e os preços se equivalem”, afirma. O que muda é um ou outro produto que é exclusivo da loja do shopping, além da clientela que vem de fora, nos fins de semana, para comprar o que a casa traz do exterior – estamparias inglesas, sedas italianas, rendas orientais, tecidos que não são encontrados em outros estabelecimentos do ramo. “Oferecer produtos do mundo inteiro é um dos nossos diferenciais”, destaca Moscopiá.

A queda nas vendas que veio com a crise não chegou a abalar a loja centenária (ela foi criada em 1908 pelo avô da lojista, Anastácio Kotzias, nascido na ilha grega de Kastelorizon), porque muitas pessoas trocaram as compras no exterior por aquisições em seu estabelecimento, sem perder o padrão. “Casamentos e formaturas são momentos únicos, e há famílias que fazem questão de comprar comigo”, diz ela. Esses diferenciais não impedem Moscopiá de criticar a falta de carinho com o centro da Capital. “Precisamos valorizar as coisas boas que temos. As ruas centrais não têm atrativos, assim como o aterro. Nas grandes cidades do mundo a parte histórica merece atenção e é ali que se estabelecem as melhores lojas. Tem muita gente dando boas ideias, mas eles precisam ser aproveitadas”.

Quando a tradição impera

Entre as lojas do Centro com muita história está a Casa Coelho, que há 56 anos vende tecidos, confecções, armarinhos, cortinas, tapetes e artigos para presentes, antes na rua Conselheiro Mafra (o prédio pegou fogo em 1998), agora na Deodoro. Empresa familiar administrada por Nídia Teresinha Lima, ela tem funcionárias com 40 anos de casa e outras, como Maria Albertina Crescêncio, que se aposentou mas continua ali, onde entrou há 33 anos. Nídia diz que a concorrência aumentou nos últimos anos, mas que o crescimento da cidade contrabalançou e novos clientes se agregaram aos que tradicionalmente compravam ali. “Hoje, além da crise, o problema são os fornecedores, que aumentam os preços por conta, às vezes em até 50% de uma só vez”, reclama.

Outra loja tradicional é a Casa Boa Vista, que vende tecidos e traz o DNA de Jorge Cherem Sobrinho, de sangue libanês. Hoje, o estabelecimento é tocado pelo neto Jorge Henrique Cherem, 27 anos, que destaca a boa localização como fator preponderante para manter o negócio. Aberta na rua Álvaro de Carvalho, esquina com Francisco Tolentino, a Ferramental foi uma casa de produtos de pesca que mudou para ferragens por causa do perfil que a cidade ganhou nas últimas décadas. Criada há 37 anos, a loja ainda atrai clientes que vêm de longe, como Laguna e Garopaba, para fazer compras ali.

( Notícias do Dia Online, 07/06/2015)

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