(Por Sérgio da Costa Ramos, DC, 11/06/2015)
Há 30 anos ainda era possível sair de casa cinco minutos antes da hora. Tudo ficava ali – e para chegar bastava sair alguns minutinhos antes.
Era uma época que se dava ao luxo provinciano de ignorar a administração pública como ciência – e ser prefeito era pagar a folha, recolher o lixo e comparecer, de smoking, ao Baile Municipal. Atualmente, com uma região metropolitana de mais de um milhão de habitantes, de complexidade geográfica única, espremida entre o mar e a montanha, Floripa já não concebe administrações amadoras.
O ilhéu hoje sai de casa irritado – e já atrasado. Roda como se fosse um forasteiro em sua própria casa. Chegar em tempo requer, agora, pelo menos uma hora extra, dedicada aos labirintos do trânsito e ao seu habitual mau humor.
Toda vontade política e competência técnica, consolidadas num Ipuf em processo de reconstrução, serão necessárias para uma cidade vítima de esclerose múltipla, obstruída por armadilhas e labirintos.
Engraçado: governos fazem de tudo para vender automóveis. Incentivos fiscais e pagamento a perder de vista. Mas ninguém incentiva a quarta ponte. Ou, vá lá: um túnel submarino, ligando a Ilha ao continente. Incentiva-se o demônio, mas não se constrói mais caminhos por onde ele possa circular. Não é diabólico? Engessar tudo numa esclerótica paralisia? Seria esse o caminho?
Administrações públicas (do Estado e do município) inertes, paralisadas, preguiçosas, desligadas. Não se ouve uma palavra sobre o novo golpe tendo o Aeroporto Hercílio Luz como vítima. Um anunciado projeto de concessão, que na prática determina um reinício ao marco “zero”. Alegremente o governo do Estado incorpora a notícia do ministro do Planejamento: a licitação de um novo terminal “e um novo pátio para passageiros” (sic) acontecerá no primeiro trimestre de 2016, implicando investimento de R$ 1,1 bilhão.
Depois de iniciada a obra – e incluída no primeiro PAC, de 2007 –, a novidade significa que à atual paralisia seguir-se-ão “os primeiros estudos” para um novo edital. Quer dizer: a obra, sabotada e paralisada, não será reiniciada a não ser após o novo regime de concessão.
Com o empenho do ICMBio “melando” o acesso, e a avalanche burocrática a se iniciar lá para março de 2016, os “passageiros” não só ficarão esperando em pé pelo seu “pátio”, como terão que chegar a pé ao Aeroporto Internacional (!) Hercílio Luz.
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