A Polícia Federal é pródiga na escolha dos nomes de suas operações. A de terça (9), em Florianópolis, é mais um primor: Operação Onipresença. O trabalho da PF na Capital resulta de um longo tempo de investigações sobre a prática, muito comum por parte de médicos, de não cumprimento da jornada de trabalho no Hospital Universitário. Concursados, bem remunerados (média de R$ 20 mil ao mês), muitos deles sequer apareciam no HU para dar uma satisfação ou marcar presença: só recebiam o salário, enquanto atuavam em consultórios particulares no período em que deveriam cumprir o expediente público federal. Como disse o delegado Allan Dias, o mesmo da Operação Ave de Rapina, o hospital não tem carência de médicos, tem carência de comparecimento dos profissionais. Enquanto isso, a população que mais precisa dos serviços médicos, justamente a parcela mais pobre, tinha – e tem – de amargar longos dias, até meses, à espera de um atendimento específico. Claro que todos os investigados têm direito a ampla defesa, mas, caso comprovada a culpa, devem responder judicial, ética e profissionalmente pelos desvios.
Criticar é fácil
Desvios de conduta são combatidos de forma até raivosa por alguns segmentos que representam os médicos quando se trata de criticar o governo federal e os políticos de modo geral. Mas não são poucos os profissionais dessa categoria que têm cometido irregularidades no exercício profissional. Um dos líderes mais incendiários do movimento contra o Mais Médicos, por exemplo, foi flagrado em 2014 numa situação semelhante à investigada pela PF em Florianópolis.
Inclusão médica
Por que o governo federal criou o Mais Médicos? A partir de uma constatação muito simples: os profissionais brasileiros, em ampla maioria, não querem trabalhar no interior. Querem ficar próximos dos grandes centros urbanos, de preferência no litoral. Não são poucas as prefeituras do Oeste catarinense, por exemplo, que promovem concursos públicos, com salários de R$ 18 mil ou mais, mas não conseguem preencher as vagas. Por isso surgiu o Mais Médicos, com todos os defeitos que possa ter, é o único programa eficiente de inclusão médica no Brasil.
(Por Carlos Damião, ND Online, 09/06/2015)
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1 Comentário
Muito boa esta matéria.