As gestões diferenciadas e os esforços das equipes técnicas fizeram as áreas de transplante e de obstetrícia no Estado serem destaques nacionais. A maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, que completa 60 anos em julho, é referência no país e já recebeu o título Hospital Amigo da Mulher por alcançar um período de cinco anos sem registro de mortalidade materna. No caso das doações de órgãos, Santa Catarina ficou na frente em diferentes aspectos por oito anos consecutivos e duas vezes em segundo lugar. O resultado de 2014 manteve mais uma vez a posição de liderança.
No ano passado, a SC transplantes realizou 1.386 transplantes e recebeu 202 doações multiorgânicas — quando uma pessoa doa mais de um órgão — ficando em primeiro lugar no país como o Estado com maior índice de doadores de órgãos para transplante. O número de doações é inédito até na América Latina, segundo o coordenador da SC Transplante, Joel de Andrade, e supera o histórico de Santa Catarina desde a implantação do Centro de Captação, Notificação e Distribuição de Órgãos e Tecidos.
Enquanto a média no Brasil é de 14,2 doadores efetivos por milhão, Santa Catarina é destaque com 32,3 doadores efetivos por milhão de habitante, mais do que o dobro da média nacional. Nos três primeiros meses deste ano, já foram 315 transplantes realizados, 72 a mais do que no mesmo período do ano passado.
A publicação anual da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) aponta Santa Catarina como o Estado que continua liderando o número de doadores efetivos e com o melhor percentual de efetivação no Brasil com uma taxa sempre crescente de notificação. E a taxa de não autorização vem diminuindo.
Ato de amor ao próximo
São mais de 300 pessoas envolvidas em todo o processo, desde a captação de doadores até o procedimento cirúrgico e o transplante efetivo. Nilson Roberto dos Santos, 51, faz parte dessas estatísticas positivas desde 2011, quando recebeu uma nova perspectiva de vida. Ele precisou de um novo fígado após enfrentar hepatite e um câncer e foi o primeiro paciente transplantado no Hospital Universitário. Recebeu o órgão de um jovem de 24 anos e é grato pelo gesto da família em permitir a doação em um momento tão delicado de perda. “Agradeço muito a essa família anônima, na hora da dor abençoou minha família e a de outro. Infelizmente eles perderam alguém, mas ele deu a vida para mais de sete pessoas. Eu estava desenganado, iria morrer e aprendi a reviver com 50 anos”.
Santos passou 18 dias internado e só voltou à rotina normal quase dois anos depois. Desde então, leva a vida de outra forma. Concluiu a faculdade de turismo e aprendeu a dançar, sua maior paixão e diversão hoje. Tem até uma agenda diária dos lugares que sai para dançar sertanejo universitário e músicas gaúchas à noite, na companhia da namorada. Deu uma pausa na vida agitada de representante comercial para se dedicar a si mesmo, fazer exercícios, plantar na horta de casa e viver.
Hoje, Santos fala a quem puder de como a doação salvou a sua vida e incentiva quem pode a se declarar doador. “Antes eu não entendia a importância, mas depois que eu fui agraciado com esse gesto, minha família toda é doadora”.
Humanização no atendimento mudou os índices
O médico Joel Andrade atribui o resultado da SC Transplantes a um trabalho que tem sido feito nos últimos anos, que ele considera fundamental: o treinamento para humanização no atendimento e um curso de comunicação de notícias em situações críticas, pelo qual mais de 600 pessoas já passaram.
Ele explica que esse trabalho é fundamental na hora de conversar com a família, que está hipersensibilizada com a morte de um ente querido, sobre a possível doação dos órgãos do paciente que morreu. Segundo o médico, no início do trabalho, a cada dez pessoas abordadas, sete diziam não para a doação. Hoje apenas 3,7, em média, dizem não.
Para ele, o título coloca ainda mais pressão para trabalhar e melhorar sempre. “Descobri que a nossa melhor ferramenta é o ouvido. Não se trata essa situação como qualquer, não se consegue resultado nessa área por acaso. As famílias estão sendo melhor atendidas e, assim, compreendem melhor o nosso trabalho e colaboram com isso. Temos imensa gratidão com a população”, diz. Andrade afirma que outro fator do desempenho nas doações é o intenso trabalho em equipe.
Atendimento à saúde da mulher também é referência nacional
Outra área da saúde de Santa Catarina que é destaque mesmo diante de dezenas de problemas enfrentados em todos os setores, é a maternidade Carmela Dutra em Florianópolis, que completa 60 anos em julho. A unidade é referência no Estado e ganhou diferentes prêmios e certificações no Brasil. Além de ser um hospital-escola reconhecido pelo Ministério da Educação, a maternidade é referência nacional e ganhou há dois anos o título Hospital Amigo da Mulher por ter mais de cinco anos sem registro de mortalidade materna.
São cerca de 350 a 400 atendimentos/nascimentos mês, além do atendimento exclusivo à saúde mulher na área de ginecologia e oncologia. O diretor da maternidade, Ricardo Maia Somways, afirma que a unidade se destaca pelo atendimento neonatal de alto risco, mas também por não ser apenas maternidade, mas ter uma equipe voltada para a saúde da mulher. Ele afirma que na área da oncologia feminina, mama e pélvica, a Carmela, como é mais conhecida, se tornou um braço do Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas).
A unidade também é reconhecida pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e OMS (Organização Mundial da Saúde) como hospital amigo da criança há 20 anos pela promoção e incentivo ao aleitamento materno – a certificação é avaliada anualmente – e tem estrela ouro – um tipo de nota de maior qualificação dentro do padrão do Ministério da Saúde – para o banco de leite que foi o primeiro do Estado e arrecada cerca de 60 litros por mês. “Temos as mesmas dificuldade que outras unidades, mas um corpo clinico e equipe engajada. O título serve como reconhecimento e estímulo para que trabalhemos cada vez melhor”, afirma o diretor.
Para ele o título também ajuda para que o Estado e outras instituições governamentais ou não olhem para a maternidade com a devida importância devido ao trabalho envolvido. Além disso, o vínculo com as mães e criança é agregador e impulsiona ainda mais a equipe, principalmente no banco de leite. Eduarda de Ávila Fujinara, 24, ganhou Luiza há menos de uma semana e ficou feliz de estar em um hospital referência: “Desde o início, quando engravidei, me disseram para ter o bebê aqui e foi ótimo. A orientação que a gente recebe, principalmente como mãe de primeira viagem, é muito boa, temos muita atenção”.
Para Ana Patrícia Gonçalves, 21, a experiência foi repetida com Pedro de cinco dias de vida. É o segundo filho dela nascido na Carmela. Na primeira gestação o atendimento também já havia sido “O carinho que eles tem com a gente é muito importante, me ajudou muito no início na amamentação e agora estou recebendo todo apoio aqui de novo”. “Dizemos que é a mãe Carmela, as pessoas criam essa confiança. Sentem-se acolhidas e nós amamos o que fazemos, não estamos aqui só para ganhar dinheiro exercendo a profissão. Tem carinho e dedicação envolvidos”, explica Jaqueline Locks, 50, enfermeira coordenadora do banco de leite, há 23 anos na Carmela.
Saiba mais sobre a doação de órgãos: sctransplantes.saude.sc.gov.br
( Notícias do Dia Online, 25/04/2015)
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