(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 23/04/2015)
O primeiro navegador a contemplar este poema insular chamado Ilha de Santa Catarina, feito de portos abrigados, enseadas, duas lagoas debruadas por dunas de ouro e 42 praias de areias prateadas, foi o veneziano Sebastiano Caboto, que registrou:
“São 10 léguas de comprimento por 3 de largura, uma ilha capilar e verde, cercada por praias de areia fina”.
Sua ancoragem na Baía Sul, que deveria ser de poucos dias, prolongou-se por quatro meses – de outubro de 1526 até fevereiro de 1527. Por pouco não se torna hóspede perpétuo da ilha, que se chamava, então, “dos Patos”.
Caboto batizou-a com o nome da patroa, sua mulher, Catarina. Estava arrebatado pela beleza do lugar. Entre a cabeleira das montanhas e o espelho das baías, vislumbrou o retrato da mulher, tão distante, na planura do mapa-múndi.
Depois do veneziano, o seu achado se transformou numa espécie de escala obrigatória entre os navegadores europeus que desciam o Atlântico, rumo ao Pacífico, contornando o Cabo Horn.
Um deles, o suíço-alemão Carl Gustav Seidler, aqui ancorou 24 vezes, a primeira delas em 1823. Chegou de madrugada, quando a joia estava oculta pelo breu da noite:
“A primeira luz revelou praias de areia fina, uma floresta ondulada pelas montanhas e algumas das paisagens que só poderiam ter sido concebidas pelo pincel do Criador”.
É fácil inebriar-se, como Caboto e Seidler. Brilhando sob o sol do outono, a Ilha resplandece em sua inigualável natureza, revelando sua carteira de identidade, onde consta a filiação ilustre: é a filha predileta do Criador.
Nada terá
No que não depende da sua bela natureza, a Ilha de Santa Catarina é a negação absoluta de uma rationale turística. É a terra do “já teve” e do “nunca terá”. Logo ali, em Camboriú, tem marina e teleférico. Em Itajaí, tem a Volvo Ocean Race e a Vila da Regata, Porto Belo é um consolidado polo de recepção turística.
Aqui, não é permitido nem desassorear o rio Itacorubi, para evitar a reincidência das enchentes no Santa Mônica. E hotel na Ponta do Coral parece ser “crime” tão grave quanto a construção de uma siderúrgica à beira-mar.
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