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Santa Catarina é referência no país em transplante de rins

Nem mesmo os 11 anos de tratamento com hemodiálise e a espera por um transplante de rim tiram a paz e a esperança de Harumi Alice Sadahira. A paulista de 54 anos, moradora de Palmas (TO), há 20, teve os rins comprometidos devido ao aumento da pressão arterial. Como não existem unidades de transplante em Palmas, Harumi só conseguiu ajuda na unidade que a Fundação Pró-Rim, de Joinville, mantém no Tocantins. Os contatos com a sede, em Santa Catarina, foram feitos de lá e, com a aposentadoria do marido, foi possível mudar de estado e aguardar por um rim.

“É possível entrar numa lista de espera por transplante, num local onde a cirurgia é oferecida, mas é preciso estar neste local em questão de poucas horas, senão não há condições do rim ser transplantado. Morar em Palmas dificultava minha locomoção para qualquer outro lugar. Como a Pró-Rim, de Joinville, é um centro de referência no Brasil, decidi vir para cá”, conta.

Harumi faz parte dos 10% da população mundial que sofrem de Doença Renal Crônica (DRC). O distúrbio é caracterizado pela perda progressiva e irreversível das funções dos rins. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, esse índice pode subir para 30% a 50% em pessoas acima de 65 anos, já que o risco de desenvolver problemas renais aumenta com o envelhecimento. E para alertar a população sobre esses índices e informar sobre prevenção, 12 de março é lembrado como o Dia Mundial do Rim.
Apesar de apresentar um painel elevado, o que significa ter um alto índice de rejeição, Harumi alimenta esperanças de vencer esta etapa com saldo positivo. “Minha família é reduzida, meus filhos não têm idade exigida no quadro para doação e só tenho uma irmã, portanto preciso aguardar um rim de cadáver. Mas, mesmo com essas dificuldades, sei de casos de pessoas que tinham um painel alto e conseguiram um rim. Confio nisso, levo uma vida normal, aceito essa condição e tenho muita esperança. Não podemos desistir, encaro a máquina de hemodiálise como um óculos que preciso usar sistematicamente.”

Como a doença se manifesta

A principal característica da Doença Renal Crônica é ser praticamente assintomática. Por ser considerada uma doença silenciosa, cerca de 70% dos pacientes que iniciam a diálise só descobriram a DRC quando já estavam com a função renal comprometida, o que leva a um acúmulo de líquidos e resíduos no organismo. Essa doença afeta a maioria dos sistemas e funções do corpo, inclusive a produção de glóbulos vermelhos, o controle da pressão arterial, a quantidade de vitamina D e a saúde dos ossos.

Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia apontam que uma em cada dez pessoas tem algum tipo de comprometimento no sistema renal. Atualmente, cerca de 100 mil pessoas passam pelo tratamento da diálise no país. Diabetes, pressão alta e doenças cardíacas são algumas condições que podem prejudicar os rins. Por isso, a melhor alternativa para preservar as funções renais é a prevenção.

Marcos Alexandre Vieira, diretor clínico da Fundação Pró-Rim, alerta para alguns sintomas. “Quando a pessoa tem o que nós chamamos de nicturia (eliminação de volume de urina aumentado durante a noite), ela não está conseguindo concentrar a urina e pode estar com alguma alteração nos rins; edema, inchaço nas pernas, pressão arterial descontrolada também podem se configurar em fator de risco ou sintoma de doença renal.”

De acordo com o médico, quem apresenta a retinopatia diabética, quando a diabetes já atingiu os olhos, tem grandes chances de desenvolver doença renal. A perda de sangue e de proteínas na urina é, ainda, apontada por ele como um sintoma importante.

Prevenção e qualidade de vida

A Doença Renal Crônica é um desafio não só para o paciente, mas para a sua família. Todos precisam aprender a lidar com as novas condições impostas pelo tratamento. Geralmente, ocorre uma alteração importante no cotidiano: a pessoa precisa abandonar algumas atividades e lidar com as sessões de quatro horas de hemodiálise, ao menos três vezes por semana.

A aceitação da doença é o primeiro passo para que o paciente obtenha qualidade de vida durante o tratamento, conforme avalia doutor Hercílio Alexandre da Luz Filho. “A cada sessão de hemodiálise, o paciente retira do organismo toxinas e líquidos que caberiam aos rins filtrar. O bem-estar do paciente passa ainda por uma dieta balanceada, conforme indicação de nutricionistas, e que ele adquira a consciência de que a alimentação vai ajudar a garantir uma diálise tranquila.”

Entre as principais mudanças está também o controle na quantidade de líquido que se pode ingerir. Além disso, alguns alimentos precisam ser preparados de forma diferente e outros limitados na quantidade. Há recomendações que se estendem para as pessoas sem problemas nos rins: evitar o abuso de álcool, não fumar (acelera o processo de aterosclerose em todas as artérias do organismo inclusive no rim que é um órgão muito irrigado), fazer caminhadas e evitar ao máximo o estress.

De acordo com doutor Hercílio, pensar positivo e ver a diálise como um método de tratamento é igualmente crucial. Para prolongar a vida e o bem-estar, deve-se seguir as orientações médicas e usar as medicações corretamente. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), no Brasil existem mais de 14 milhões de diabéticos e aparecem 500 novos casos por dia. Se não controlada, a diabetes pode causar danos a muitas partes do corpo, especialmente aos rins. Podem ocorrer também o desenvolvimento de pressão sanguínea alta e endurecimento das artérias (arteriosclerose).

“Dentre as várias complicações do diabetes, vale destacar a nefropatia diabética, uma complicação no rim que leva à perda de proteínas na urina e que, com passar do tempo, pode piorar a situação do órgão e parar seu funcionamento. O primeiro sinal de Doença Renal Crônica em pessoas com diabetes é a presença de albumina na urina. Ela está presente muito antes de existir evidência de insuficiência renal nos exames de sangue normais solicitados no consultório médico.”

A nefropatia diabética pode também ser um sinal precoce de anormalidades nos vasos sanguíneos, por isso é importante que se realize exame de urina para detectar microalbumina (microalbuminúrica) anualmente, além de um exame de sangue comum para creatinina sérica, a fim de se estimar a capacidade de filtração dos rins — a denominada Taxa de Filtração Glomerular (TFG).

A melhor orientação continua sendo a prevenção, da criança ao idoso: beber ao menos dois litros de água por dia, realizar atividades físicas supervisionadas, ter uma dieta equilibrada e realizar o exame de creatinina regularmente. O uso sistemático de antiinflamatórios e antibióticos é lembrado pelo doutor Marcos Alexandre Vieira como uma das causas de danos aos rins.

No Dia Mundial do Rim, atividades educativas e preventivas com o objetivo de chamar atenção da sociedade para a saúde dos rins, como exames gratuitos, palestras e entrega de panfletos são realizadas.

Este ano, a campanha mundial “1 em 10. O rim envelhece, assim como nós” ressalta a importância do cuidado com os rins frente ao envelhecimento. A ideia central é chamar a atenção para a alta prevalência da DRC, especialmente entre os idosos. Segundo o IBGE, cerca de 10% da população brasileira tem mais de 65 anos de idade, período de maior incidência.

(Agência AL, 12/03/2015)

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