Às vésperas de completar um ano do levante ocorrido na Universidade Federal de Santa Catarina, o Ministério Público Federal deve se pronunciar sobre o ocorrido ainda este mês. O confronto aconteceu quando alunos e professores tentavam impedir a detenção de três estudantes pela Polícia Federal.
O procurador federal João Marques Brandão Neto mantém sigilo sobre o conteúdo e afirmou que antes do dia 25 de março a denúncia será encaminhada à Justiça Federal. Ele não quis adiantar nada sobre a decisão que vai adotar, apenas afirmou que o inquérito é complexo porque envolve muita gente, mas deixou claro que alguém vai ser denunciado.
Os policiais detiveram um aluno com um cigarro de maconha e foram conduzi-lo para a sede da PF, os colegas do estudante e alguns professores se revoltaram, travando uma batalha contra os policiais federais que acionaram a Polícia Militar para conter a onda de fúria. Ocorreram excessos de ambas as partes: viaturas danificadas e virada, gás de pimenta e bombas de gás lançadas contra a multidão e policiais e alunos feridos. A ação da polícia foi repudiada pela reitora Roselane Neckel.
A movimentação da Polícia Federal no campus de Florianópolis, coordenada pelo delegado Paulo César Barcellos Cassiano Júnior, rendeu trocas de farpas entre a UFSC e a PF. Os federais foram ao campus identificar e reprimir o tráfico de drogas. Na época, Cassiano ressaltou que a “UFSC é um antro de prática de crimes” e afirmou que não iria permitir que a reitora transformasse a universidade em uma “república de maconheiros”. Ele ainda falou, na ocasião, que não havia necessidade de mandado judicial para entrar no campus porque “o crime (consumo de droga) estava ocorrendo”.
Caos e preocupação
De acordo com a Polícia Federal, as investigações no campus aconteciam há meses, por meio de monitoramento de câmeras. “Estávamos no campus a pedido da reitoria, para coibir o tráfico de drogas, não para entrar em confronto com os alunos”, afirmou na época o delegado Ildo Rosa, responsável pela comunicação social da PF.
Em meio ao caos que ser formou na época, o semblante de preocupação de professores e alunos representava bem o espanto que o cenário provocou em todos. Professora de literatura francesa, Rosa Alice Mosimann, 70 anos, não imaginava viver para ver as cenas surreais. “Existe muita violência no campus, assaltos, furtos e uso de drogas. Mas nada justifica uma ação como essa da polícia”.
Paulo Pinheiro Machado, professor de história, ficou em meio ao fogo cruzado. Corajoso, tentou impedir os policiais de avançarem. Foi atingido no rosto com um jato de spray de pimenta.
No local do conflito, próximo ao CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas), funciona uma creche, onde dezenas de mães buscavam seus filhos. Assustadas, as crianças permaneciam na porta da unidade acompanhando tudo de longe. Todos estes detalhes serão analisados pelo procurador federal que vai decidir quem será denunciando por danos ao patrimônio e alguns casos de lesão.
( Notícias do Dia Online, 06/03/2015)
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