Nas suas reflexões praticamente diárias, muitas vezes compartilhadas nas redes sociais, o comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Araújo Gomes costuma fazer referências à “cidade invisível” que a PM patrulha.
O que é a cidade invisível, numa cidade celebrada nacional e internacionalmente pelo glamour de suas beachparties, por suas futilidades e subcelebridades etc. e tal? Poucos conhecem como a PM e as organizações não governamentais a tal cidade invisível, os cantos, recantos, ruelas, becos, morros.
Nela habitam trabalhadores e também aquilo que Karl Marx chamava de lumpemproletariado, o subproletariado, mal empregado ou desempregado. Sem falar nos bandidos, em geral traficantes de drogas ou armas.
No Carnaval, essa cidade invisível desce à concentração humana na região central, com todas as suas carências, procurando diversão fácil, barata e democrática.
Na noite de segunda e madrugada de terça, circulei entre esses foliões, muitos deles miseráveis, esfarrapados, drogados e bêbados, selvagens misturados às famílias e aos ambulantes… Passei por um baile funk no asfalto da Paulo Fontes: brigas, cheiro forte de maconha, misturado a outros odores, de urina, suor e álcool.
Havia muitos grupos de causar medo, pessoas ariscas à presença de estranhos entre elas, violentas e ameaçadoras, brigando por qualquer motivo, um olhar, um troco errado, um encontrão casual.
A situação era tão crítica que havia uma espécie de cerco policial informal, inclusive com PMs do Choque, prontos para entrar em ação, como ocorreu diversas vezes, na dispersão de brigas.
Ao sair desse miolo humano sufocante, a sensação era de voltar à normalidade e à claridade da cidade visível, aquela dos cartões postais, da qualidade de vida, das festas, dos camarotes; cidade que pouco se importa com a profundeza de seu abismo social.
(ND, 19/02/2015)
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