A Ilha-Capital precisa de planos ambiciosos, projetos que aliem expertises arquitetônicas e socioecológicas, mas que pensem a Ilha para o homem e sua mobilidade.
Precisamos de administradores que consigam superar o drama catarinense e brasileiro de vencer o cipoal de obstáculos para a realização de obras públicas necessárias ao desenvolvimento humano – em tempo e custo hábeis. Infelizmente, o que vemos são os costumeiros chupins e cabos eleitorais, exercendo suas boquinhas e uma corrupção que se tornou endêmica.
Vista do céu, viçosa e verdejante, a Ilha parece mesmo a antessala do Éden. Mas no labirinto de suas ruelas ancestrais, a cidade revela parentesco com uma ratoeira de becos e enigmas, cada vez mais indecifráveis, com esta conta de mil novos veículos “dando em árvore” todo mês.
Produto do homem, a Floripa que se vive em terra firme é cada vez mais um monumento ao “engessamento” arterial. Contraímos todas as mazelas da grande metrópole, sendo, ainda, uma cidade de porte médio.
Em matéria de circulação urbana, estamos caminhando, céleres, para o colapso absoluto e para uma dramática catatonia – que é a morte em vida.
Um Plano Diretor, concebido com o ânimo comunitário dos que se dispõem a construir – e não apenas “obstruir” –, deveria ser a obsessão do Executivo e do Legislativo. Uma criteriosa, desapaixonada e “desideologizada” lei de ocupação do solo, com expansão da cidade para o leste. A construção da Via Parque, debruando o Campeche até o Rio Vermelho, pela orla, marcaria uma “interiorização” controlada.
Mudança que seria assinalada pela prioridade ao transporte de massa – pelo sistema BRT, Bus Rapid Transit, que é o mais barato e factível. E com o centro da cidade chegando ao norte e ao sul da Ilha, não apenas por rodovias e túneis, mas também pela via marítima.
É preciso trabalhar, tirar os projetos do papel. Algo como dar sequência às “Doze Tarefas de Hércules”, missões quase impossíveis, que desafiam a imaginação dos políticos pouco acostumados ao trabalho – a não ser o eleitoral.
Se a alma não fosse pequena, tudo seria possível. Desde que não prevalecesse a picuinha, a ecoteocracia, a preguiça – e o ânimo do “deixa estar pra ver como é que fica”.
Assim como convive com o obscurantismo, Floripa corre o risco de se tornar apenas o endereço predileto de sinaleiras mal reguladas, “pardais”, lombadas e galinhas pretas.
(Da coluna de Sérgio da Costa Ramos, DC, 05/12/2015)
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