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25/09/2014
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Cidade e esclerose

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 25/09/2014)

Há 30 anos ainda era possível “sair de casa cinco minutos antes da hora”. Tudo ficava “ali” – e para chegar bastava sair alguns minutinhos antes.

Era uma época que se dava ao luxo provinciano de ignorar a administração pública como ciência – e ser prefeito era pagar a folha, recolher o lixo e comparecer, de smoking, ao Baile Municipal.

Hoje, uma Capital de mais de meio milhão de habitantes, de complexidade geográfica única, espremida entre o mar e a montanha, Floripa já não concebe administrações amadoras.

O ilhéu sai de casa irritado – e já atrasado. Roda como se fosse um forasteiro em sua própria casa. Chegar em tempo requer, agora, pelo menos uma hora extra, dedicada aos labirintos do trânsito e ao seu habitual mau humor.

Toda vontade política e competência técnica, consolidadas num Ipuf em processo de reconstrução, serão necessárias para uma cidade vítima de esclerose múltipla, obstruída por armadilhas e labirintos.

Engraçado: governos fazem de tudo para vender automóveis. Incentivos fiscais e pagamento a perder de vista. Mas ninguém incentiva a quarta ponte. Ou, vá lá: um túnel submarino, ligando a Ilha ao continente. Incentiva-se o “demônio”, mas não se constrói mais caminhos por onde ele possa circular. Não é diabólico?

Engessar tudo numa esclerótica paralisia? Seria esse o caminho?

Um Plano Diretor não deveria ser um cartapácio de centenas de artigos e quatrocentas emendas, tratando até mesmo do recolhimento do lixo. Deixem os “adjetivos” para a legislação ordinária. O Plano é uma Lei Substantiva, para enumerar diretrizes e rumos para o futuro, disciplinando o presente: basicamente existe para zelar por uma ocupação do solo racional e civilizada, gabaritos e zoneamentos para construção – com indispensáveis estudos de “impacto” de vizinhança” –, balizar os caminhos que a cidade vai tomar em sua expansão, ocupar-se da mobilidade urbana e de seus meios de transporte e, mais importante, zelar pelo bom manejo do meio ambiente, adotando uma “visão prospectiva do futuro”.

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“Assembleias” intermináveis foram úteis na Grécia antiga, quando Atenas tinha o tamanho de uma praça. O tempo não fica esperando por decisões que não se materializam e que podem ser aperfeiçoadas no decorrer da jornada. Só a omissão produz um mal irrecorrível: significa, simplesmente, a “contratação” de um labirinto sem saída.

É onde vivemos.

 

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