O sustento de Noeli Terezinha da Costa Leite, 47 anos, sofreu na última temporada de verão um duro golpe com o desabastecimento de água que atingiu muitas regiões de Florianópolis, especialmente o Norte da Ilha. Dona de uma lavanderia em Canasvieiras, entre dezembro e janeiro ela chegava a perder três dias de trabalho por semana devido à falta de água. Com a proximidade do verão e da chegada de turistas à Capital, Noeli e milhares de pessoas querem saber se faltará água nos meses mais quentes. A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), responsável pelo abastecimento, afirma que salvo quedas de energia e chuva muito forte, o abastecimento de água no verão está garantido.
A afirmação da Casan, no entanto, contrasta com o fato de que a companhia não sabe exatamente a capacidade de oferta de água que os dois principais mananciais da cidade, o do rio Pilões e do rio Cubatão, cuja água é tratada na ETA (Estação de Tratamento de Água) do Morro dos Quadros, em Palhoça, ainda têm a oferecer à população. “O planejamento da Casan é para que não falte água no verão, mas nem sempre isso é possível, pois às vezes chuva forte pode arrebentar as adutoras. Assim, não é possível agora garantir que não faltará água no verão, mas o trabalho é para que não falte”, explica o gerente de abastecimento da Casan, Fábio Krieger, que desconhece a oferta de água nos mananciais que abastecem a Capital.
Atualmente, a Casan trabalha na construção de duas adutoras que prometem, em até três anos, resolver definitivamente o problema de abastecimento em Florianópolis. O problema é que apenas um trecho de adutora, entre o Shopping Iguatemi e o elevado do bairro João Paulo, num trecho de 3,5 quilômetros, deve ficar pronto para a temporada 2014/2015. As obras se estenderão até dezembro. “Esse ramal do Iguatemi ao Tecnópolis levará uma vazão emergencial do Centro, que não consome muita água no verão, ao Norte da Ilha. Vamos administrar de onde se usa menos para onde o consumo é maior”, diz Krieger.
“É preciso saber qual a oferta que temos”, diz professor da UFSC
O engenheiro Luiz Sérgio Philippi, membro do departamento de engenharia sanitária e ambiental da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), afirma que antes de buscar formas de atender a demanda de consumo de água por parte da população, é preciso saber ao certo o tamanho da oferta disponível. “É preciso uma perspectiva que indique o que ainda resta para ser captado nos mananciais da cidade, que são utilizados para captação de água há muitos anos. Se existir água, as adutoras podem resolver o problemas. Caso contrário, as adutoras não terão como ser abastecidas”, adverte.
A falta de estudos e levantamentos que indiquem a real capacidade dos principais mananciais de Florianópolis preocupa o gerente de abastecimento da Casan, Fábio Krieger. Diante disso, ele revela que em julho a companhia contratou uma empresa para fazer o levantamento da capacidade de abastecimento dos mananciais dos rios Pilões e Cubatão, que são utilizados como abastecedores de água na Capital desde a década de 1940. “A empresa que está fazendo o estudo tem até julho de 2015 para nos entregar o parecer definitivo da real capacidade dos mananciais. A partir disso, faremos o nosso planejamento”, afirma.
Adutoras são esperança da Casan para resolver problema
Apesar de apenas um trecho das adutoras em construção estar previsto para ser concluído este ano, Fábio Krieger afirma que outras medidas vêm sendo tomadas no Norte da Ilha para garantir o abastecimento. Uma delas, explica, é a troca de todas as motobombas desgastadas e ainda a aquisição de peças reservas. “Faremos também melhorias na instalação das redes já existentes, e o mapeamento supervisório do sistema, com uma tecnologia que aponte os locais onde a vazão está fraca e possamos atuar junto aos pontos críticos”, explica.
Com vazão projetada de até 500 litros por segundo, a adutora para o bairro Itacorubi tem diâmetros de 400 a 800 milímetros, totalizando 9,5 quilômetros de extensão – apenas 3,5 quilômetros estarão prontos para o verão -, desde a ponte Pedro Ivo até o Itacorubi. No Continente, a partir do bairro Forquilhinhas, em São José, em um percurso de 3,7 quilômetros, será implantada uma macroadutora com diâmetro de 1.200 milímetros. Acoplada às adutoras do Continente e do Itacorubi, uma terceira tubulação levará água ao Norte da Ilha.
Essa adutora, que deve ficar pronta em 2016, terá diâmetro de 700 milímetros e extensão de 23 quilômetros, seguindo a partir do bairro João Paulo até praia de Canasvieiras. “Eu não acredito que teremos água em todo o verão, até porque no Réveillon faltar água em Canasvieiras é que nem usar roupa branca na virada do ano”, diz Noeli Terezinha da Costa Leite.
( Notícias do Dia Online, 09/09/2014)
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