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Metade dos mortos em acidentes de trânsito em Florianópolis é motociclista, alerta estudo

Os socorristas já sabem. Os médicos do hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, também. A cada 40 minutos, um motociclista acidentado chega à emergência da instituição. Esses números são regis­trados nos horários de pico, no início da manhã e fim da tarde. Em dias de chuva, os acidentes aumentam. As causas são as de sempre. Pressa. Imprudência. De­satenção. Bebida alcoólica.

Segundo estudo realizado no segundo semestre de 2013 por equipes da Rede Vida no Trânsito, metade dos mortos em acidente de tráfego em Florianópolis é motociclista. As principais causas de óbito de mo­tociclistas são o uso do corredor, excesso de velocidade e ingestão de bebida alcoólica. “As taxas de alcoolemia entre os motociclistas são altíssimas na Capital”, diz o coordenador da Rede Vida, Leonardo Pereira Gar­cia. O grupo intersetorial formado em março tem por objetivo reduzir as mortes no trânsito. A Rede Vida é composta pela Polícia Rodoviária Federal, Ministério Público, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Estadual, Instituto Médico Legal, Via Ci­clo, secretarias de saúde estadual e municipal, além de entidades civis. “Cada órgão guarda parte das in­formações. Pretendemos formar um único banco de dados”, afirma Pereira, ao destacar que, em média, 50 motociclistas morrem por ano na Capital.

Prejuízos para a saúde e para o bolso

No leito 523 A, do hospital Celso Ramos o autônomo Cláudio da Silva, 40 anos, se recupera das múltiplas fraturas, resultantes da batida contra uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, no dia 14 de julho. O acidente aconteceu por volta das 10h, em Barreiros, São José. Acostumado com a rota, Silva não recorda ao certo o que aconteceu enquanto fazia uma entrega de peixes para um cliente. “Quando vi o carro da PRF vinha contra mim. Não deu tempo de nada”, disse o paciente, que foi arremessado há mais de cinco metros de distância. Preocupado com o tempo de recuperação das fraturas, com o risco eminente de perda dos dedos e com a falta de renda obtida com a venda porta-a porta de frutos do mar, ele lamenta os prejuízos à saúde e ao bolso. “Não valeu a economia de tempo e dinheiro, eu sei. Mas era meu meio de ganhar a vida. Passei ali como faço há mais de dez anos. Respeitei a sinalização”, disse, ao ressaltar que nunca foi multado em seus 22 anos em cima da moto.

Entre seis e 12 meses serão necessários para que Cláudio, assim como grande parte dos feridos graves em acidentados de moto, se recupere das lesões. Essa é a estimativa do diretor do hospital Celso Ramos Libório Soncini. Em sua unidade são atendidos diariamente entre 10 e 12 motociclistas. A maioria dos casos são recebidos no horário de maior deslocamento dos motociclistas: entre as 6h e às 8h e das 18h e às 20h. “A cada 40 minutos uma vítima! Isso já é uma epidemia para a qual a vacina não está na Saúde. Para a da gripe A, encontramos imunização, mas para os acidentes de moto não é nem será conosco”, observou, ainda alarmado com o aumento de vítimas dos últimos quatros. Soncini destaca que a fila de espera para cirurgias de trauma estão zeradas há um ano, graças ao trabalho de intensificação de atendimento. “Os gráficos mostram que zeramos, mas não saímos da média de 12 motociclistas ao dia. Em dias de chuva os números são mais altos”, lamentou, ao detalhar ainda que mais de 53% dos 240 leitos do hospital são ocupados por motociclistas.

Guarda Municipal prepara palestra para motoboys

O chefe do setor de Educação da Guarda Municipal de Florianópolis, Valci Brasil disse que a Guarda analisa dados sobre acidentes envolvendo motociclistas para confeccionar uma palestra que será ministrada pelos agentes aos pilotos que transportam mercadorias, os motoboys, a partir do fim de agosto.  “Vamos ressaltar o que pode e o que não pode ser carregado e a segurança no trânsito entre outros pontos”, ressaltou. Brasil disse que nos encontros serão apresentados imagens de acidentes, e dados com os números de mortos e feridos.

O presidente da associação dos motociclistas de Florianópolis, Pedro Luis (Luis com S) Sabaciauskis defende aulas práticas e em situações reais de trânsito para treinar melhor os motociclistas que tiram a primeira habilitação.  “As aulas em circuito fechado, durante o dia e sem chuva estão longe da realidade”, reclamou.  O presidente lembra que os motoristas pecam pela falta de uso do sinal de seta e do retrovisor dos automóveis. Enquanto os motociclistas se arriscam pela falta de prática, atenção ou prudência.  “Os pilotos esquecem da fragilidade da moto e sempre perdem na briga do trânsito”, lamentou, ao lembrar que a Capital tem 2.500 motoboys.

Número de acidente envolvendo motociclistas nos dois hospitais com referencia em trauma da Grande Florianópolis:

Hospital Governador Celso Ramos- Florianópolis

Ano: 2013: 2.722

Ano: 2014: 2.315 (Até junho)

Hospital Homero de Miranda Gomes- São José

Ano: 2013: 3.518

Ano: 2014: 2.215 (Até junho)

Quantidade de motocicletas:

Florianópolis: 42.181

São José: 25.879

Palhoça: 17.680

Biguaçu: 8.021

Total: 93.761

(Notícias do Dia Online, 28/07/2014)

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