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Casarão onde funciona um dos bares mais clássicos de Florianópolis ganhará novo destino

Os quase trinta anos de histórias, fregueses ilustres, bebida e comida de qualidade proporcionados por um dos bares mais clássicos da Capital poderão em breve ficar somente na memória de quem passar pela esquina da rua Deputado Antônio Edu Vieira com a Aldo Alves, no bairro Saco dos Limões. Os sócios do Armazém Vieira, Wolfgang Schrader, 72 anos, e Renato Grasso Bollo, 69, de uns meses para cá têm estudado formas de finalmente poder viver a aposentadoria sem estarem amarrados a um local que exige 100% de atenção aos detalhes e paciência para burocracias. E de uma revista que falava sobre as maravilhas turísticas da cidade chilena de Valparaíso veio a ideia. Ou o que eles chamam de plano A.

Na conhecida praça Sotomayor, dividindo espaço com o Monumento a Los Héroes de Iquique, um imponente casarão datado de 1876, sede da Compañía Sud Americana de Vapores, chama atenção por sua beleza original e pelo que foi acrescentado a ele em 1990: de dentro de suas paredes históricas brotam 13 andares de um moderno edifício com paredes envidraçadas.

“Quando o Schrader me mostrou eu fiquei surpreso, porque vou a Valparaíso uma vez ao ano e nunca tinha visto aquilo”, conta Renato, que é chileno. E mesmo visitando a praça depois de saber da existência do “puxadinho vertical”, ainda não era possível vê-lo com facilidade devido à forma discreta com que foi construído. A partir da ideia, os sócios, que são engenheiros por formação, começaram a estruturar um projeto, já encaminhado ao Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), para dar um destino semelhante ao casarão de 1840, tombado pelo patrimônio histórico, onde desde 1985 funciona o Armazém Vieira.

“Pensamos em várias possibilidades, vender para alguém que assumisse tudo ou então passar para uma empresa, até que vimos essa imagem na revista. O fato de meu sócio não ter visto isso quando passou por lá é uma prova do quão pouco isso afeta a paisagem”, pontua Schrader. Para ele, essa foi uma maneira inteligente que o Chile encontrou de preservar o patrimônio histórico e ao mesmo tempo de tornar o espaço realmente útil nos dias de hoje. “Acho que é uma das soluções mais geniais, tem outras parecidas também em Santiago, mas não lembro de algo assim no Brasil. Aqui as casas tombadas costumam desmoronar”, completa.

Caso o projeto seja aprovado e saia do papel, uma das preocupações da dupla é como explorar o espaço comercialmente mantendo um padrão de qualidade por parte das empresas que por ali se instalarem. Mas antes de tudo eles sabem que é importante a população entender e absorver aos poucos a ideia.

Caso seja reprovado, há ainda planos B, C ou D, mas nenhum inclui a permanência do bar no formato em que se encontra. Não existe a possibilidade de a dupla de engenheiros aposentados seguir administrando por muito tempo o espaço como ele é hoje. “O bar sobreviveria se alguém o assumisse. Tem uma hora que enche o saco, temos vontade de continuar a viver”, diz Schrader.

Três décadas de história

Wolfgang Schrader e Renato Grasso Bollo se conheceram no final da década de 1970, já em Florianópolis, quando trabalhavam como engenheiros na Eletrosul. Junto com a amizade veio o plano de abrir juntos um negócio que pudessem administrar sem deixar seus empregos, e investir em uma fábrica de cachaça pareceu uma ideia promissora. “Eu passava por aqui e dizia ‘vou comprar essa casa e montar minha fábrica de cachaça’, e as pessoas diziam para eu não fazer isso porque iria falir na certa. Não tinha nada aqui na época”, lembra Renato. Mas em 1983, Schrader encarou com ele o desafio: compraram a casa, dividida entre herdeiros que precisaram ser convencidos a vender sua parte do patrimônio, e foram juntos até a prefeitura pedir o tombamento para colocarem ali uma fábrica de cachaça e um bar. Depois da exaustiva reforma, em abril de 1985 abria o Armazém Vieir0a, produzindo a cachaça que mais tarde figuraria entre as melhores do país.

Ao longo de quase três décadas os proprietários construíram um nome e uma reputação de causar orgulho. Entre os clientes já tiveram políticos e autoridades influentes de vários Estados do Brasil e exterior, empresários de sucesso, donos de grandes redes de lojas, e todo tipo de gente interessada em boa comida e bebida. “Sempre fomos discretos, quando alguém vinha aqui não saía no jornal no dia seguinte. Temos respeito pelos frequentadores e até hoje só teve uma única briga aqui dentro”, destaca Schrader.

Para eles, apesar do nome construído e do respeito conquistado, o que deve ficar do Armazém Vieira são mesmo essas memórias. E enquanto nenhum dos planos se concretiza, o trabalho sério e a preocupação em bem servir seguirão intactos.

(ND , 30/06/2014)

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