Há 36 dias, um novo cronograma de obras da Ponte Hercílio Luz chegava à sede do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra). Em seis folhas, a construtora Espaço Aberto tentava provar, em dados técnicos que, apesar dos atrasos iniciais, era possível entregar o patrimônio até dezembro, conforme a proposta inicial. Urgente à época, a análise do documento até hoje não foi concluída pelo Deinfra.
O presidente do órgão, Paulo Meller, diz que a averiguação do cronograma foi dividida em duas etapas devido à complexidade da obra de restauração. Apenas uma teria sido levada até o governador Raimundo Colombo. A segunda, ainda em análise, não tem data para ser finalizada.
DC está de olho
O Diário Catarinense tem acompanhado o passo a passo dos entraves
25 DE FEVEREIRO
Após o governador Raimundo Colombo ameaçar rescindir contrato com a empresa responsável pelo restauro da Ponte Hercílio Luz em decorrência do atraso nas obras, o presidente da construtora responsável, Espaço Aberto, Paulo Ney Almeida, garantiu que as obras não iriam atrasar e que empresa faria as adequações necessárias no cronograma de trabalho para isso.
– Já analisamos a situação e constatamos que é possível entregar a obra em dezembro para abertura do fluxo de veículos – disse.
A partir disso, o governador Raimundo Colombo deu nova chance à Espaço Aberto, estabelecendo prazos para a empreiteira apresentar o novo cronograma.
5 DE MARÇO
Engenheiros do consórcio protocolaram o novo cronograma no Deinfra, que iria verificar se o que estava no documento era realmente possível de ser colocado em prática, a partir de uma análise que levaria entre uma e duas semanas.
O presidente do departamento, Paulo Meller, e o engenheiro Wenceslau Diotallévy, fiscal que desde 2008 acompanha as obras na ponte, relacionaram os nomes dos consultores que iriam ajudá-los a
analisar a fundo os novos prazos propostos pela empresa em uma força-tarefa.
O próximo passo era apresentar o cronograma ao governador com uma análise sobre se seria realmente possível entregar a obra até o final de 2014. Durante a entrega, o engenheiro da empresa, Gleison Lemos, reafirmou que a obra seria entregue em dezembro, e que se faltasse algum acabamento, este seria feito com o tráfego liberado.
(DC, 09/04/2014)
Entrevista com Paulo Meller, presidente do Deinfra
Em entrevista por telefone, Paulo Meller desistiu de dar prazos concretos: não sabe quando termina a análise do cronograma nem garante mais que as obras da ponte serão concluídas este ano.
Diário Catarinense – O cronograma da obra já foi apresentado ao governador?
Paulo Meller – Já apresentei informalmente a ele uma primeira etapa do cronograma, que chamamos de Ponte Segura – que é o que está em andamento agora, com os quatro blocos que levantam a estrutura para sustentar o vão central. Essa parte está pronta e OK. Paralelo a isso, estamos analisando o restante do cronograma apresentado por eles (Espaço Aberto).
DC – E por que não se analisou todo o cronograma de uma vez?
Meller – Porque a partir do momento que a gente conclui, o cronograma é parte integrante do contrato e tem que ser seguido à risca. Aí não posso depois penalizar a empresa por uma coisa que a culpa não é dela. Vou te dar um exemplo: a Usiminas é que vai produzir o aço para as barras de olhais. Esse aço não é uma produção que ela faz normalmente. A empresa vai ter que parar de produzir o que ela faz para fazer algo especial para nós. Depois disso, esse aço bruto vai para outra empresa do mesmo grupo que também vai parar o que está fazendo para cortar do tamanho que queremos, fazer os furos, tirar os cantos, colocar resina para acabamento. É complexo.
DC – Mas isso já não deveria ter sido levado ao governador? O cronograma está com vocês para análise desde o dia 6 de março.
Meller – Eu levei ao governador a situação e a nossa ideia de dividir a análise do cronograma em duas partes e ele entendeu. Não posso botar o governador em fria. Não vou levar a ele uma data que pode não se cumprir. Para isso preciso estar seguro das coisas. Estamos tratando de uma ponte de mais de 80 anos. Nós ainda vamos ter surpresas durante a obra, não tenho dúvidas.
DC – Mas na época se falou em urgência. O Deinfra não encarou como urgência?
Meller – Encaramos como urgência. Tanto é que o governador quis rescindir o contrato. Mas demos um voto de confiança para a empresa, que nos apresentou uma nova proposta. O que temos acordado com ela agora está sendo cumprido.
DC – E esta segunda etapa da análise vai ser concluída quando?
Meller – Quero que seja o mais rápido possível. Não posso dar prazo. Daqui a pouco surge outra coisa aqui e ali e estou com um volume muito grande de obras. São mais de 200 aqui no Estado.
DC – Existe alguma chance desse contrato ser rescindido?
Meller – Não posso te afirmar isso porque a empresa, hoje, está fazendo aquilo que acordou conosco. Na parte da ponte segura, ela não está atrasada.
DC – E quais as chances da obra não ser entregue no prazo?
Meller – Não posso te afirmar ainda. Mas em breve vou procurar vocês e vou dizer. Não dá para dizer ainda, tá?
DC – Mas os planos de se entregar este ano ainda, já foram descartados?
Meller – Descartado, não. Mas estamos analisando com muito carinho isso. Não podemos falar em datas ainda. Preciso dessas outras informações, das empresas, fornecedores e fabricantes.
DC – É isso que poderia provocar mais um atraso?
Meller – Não só isso. É isso, equipamentos, outros testes que precisam ser refeitos. Essa obra é muito complexa. Tenho 32 anos de engenharia e esse é o maior desafio da minha vida profissional.
(DC, 09/04/2014)
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