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Famílias deixam rastro de poluição e degradação ambiental em terreno desocupado em Florianópolis

Duas viaturas da Polícia Militar – uma do Batalhão de Choque e outra do pelotão rodoviário – e a concentração de repórteres desde as primeiras horas do dia no lado oposto da rodovia, indicavam que as atenções na cidade estavam praticamente todas voltadas ao km 10 da SC-401. Atrás da porteira trancada com cadeado, homens mulheres e crianças foram convocados por fogos de artifício, às 7h50, para a assembleia que definiu os novos rumos do acampamento.

Como todos os olhos se voltavam para a entrada principal, demarcada pela bandeira vermelha, poucos sabiam da existência de um acesso lateral à área ocupada, no Morro do Capão. Foi pelo mesmo lugar que algumas famílias tentaram transferir o acampamento durante a noite de sexta-feira e no sábado à tarde.

Ainda há vestígios de “chãos de casa”, pequenos lotes demarcados para construção de barracos junto à encosta e à área alagadiça do manguezal. Também há marcas de roçadas e desmatamento de árvores nativas.

Cerca de 500 metros adiante, velhos caminhos de pescadores e picadas de gado escondidos entre as árvores levam aos fundos da ocupação. Os casebres podem ser vistos de lá, onde a faixa de manguezal separa dois tanques da antiga fazenda de camarão em cativeiro, desativada em 1992, do leito do rio Ratones, a segunda maior bacia hidrográfica da Ilha.

Pela geografia e aspectos do ecossistema local, na beira do rio, não há dúvidas de que se trata de APP e terras da União. Mesmo assim, são muitos os vestígios deixados pelo acampamento: armadilhas para caça silvestre – gambás, capivaras, tatus e cuícas – não parecem brincadeira de criança.

Também não pareceram infantis as três cabanas de pau erguidas em pontos estratégicos, a 300 metros nos fundos do acampamento, camufladas entre arbustos crescidos nas depressões que no passado formaram os tanques de criação e engorda de camarão. Em volta das barracas, provavelmente utilizadas como guaritas para vigiar a retaguarda do acampamento, estão acumulados lixo, como sacolas e garrafas de plástico, vidro, trapos de roupas, entulhos de construção, telhas quebradas, bacios.

Ossadas de novilhos e lixo

Apesar da privada improvisada em buraco rodeado de tábuas, fezes humanas se concentram em áreas alagadiças do manguezal. Levado pelo fluxo da maré ou enxurradas, o rastro fecal se estende às margens de canais e igarapés que deságuam no rio Ratones, antes de adentrar na área da Reserva Ecológica de Carijós, protegida por lei federal (94.656 de 20 de julho de 1987) e administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade).

Demarcadas por bandeirolas de plástico, duas áreas que somadas se aproximam do tamanho de um campo oficial de futebol (90 metros de comprimento por 50 metros de largura), foram aradas a mão, mas deixadas para trás, à espera do plantio. Na horta comunitária, também nada foi produzido.

Ossadas e couros de novilhos abatidos recentemente, a cerca de300 metros da margem norte do rio, no perímetro da área ocupada, são supostas pistas de abigeato (furto de gado). E resquícios de pequenas fogueiras nas proximidades sugerem a realização de churrascadas e festas sem convidados sob a copa dos arbustos.

Do lixo doméstico, principalmente garrafas pet, vidro, papel e latas, parte foi acondicionada isoladamente em sacolas de plástico pelas famílias, e jogadas ali mesmo, entre galhadas e raízes de mangue branco. Azuis ou amarelas, algumas boiaram na vala aberta ao lado da SC-401, por onde a água da chuva desce para chegar ao rio Ratones.

Ferragens e concreto são entulhos no manguezal

Pequenas comportas de pedras e sucatas da bomba principal são as únicas evidências da Paludo Agropesca, fazenda de produção em cativeiro que funcionou entre 1988 e 1992 no terreno agora reivindicado pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União). Do equipamento utilizado para bombear água do rio Ratones às áreas alagadas pelos tanques, sobraram apenas a estrutura de concreto e a ferragem carcomida das turbinas e tubulações de ferro.

Peças de cobre e fiação elétrica foram furtadas. Sem serventia há 22 anos, ferragens e base de concreto abandonadas em local de difícil acesso fazem parte da estrutura financiada pela extinta Sudepe (Superintendência de Desenvolvimento da Pesca) para desenvolvimento da pesca em cativeiro no Norte da Ilha. Hoje, formam estranho totem da poluição que ameaça a vida marinha no entorno e no interior da reserva de Carijós.

( Notícias do Dia Online, 16/04/2014)

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