Ao capitanear ocupações de terras em Florianópolis e desencadear ânimos em setores e até episódio de revolta popular, a Ocupação Amarildo de Souza revela-se como uma mobilização ímpar de articulação, independência e tom revolucionário em que atuam os líderes e personagens principais.
O acampamento, atualmente localizado na região do Maciambu, em Palhoça, na Grande Florianópolis, é formado por uma comunidade híbrida articulada inicialmente por lideranças com trajetória pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e apoiada por um conjunto de grupos alinhados à esquerda política. A união de forças que solidifica a ocupação forma uma espécie de rede de apoio ao Amarildo.
Militantes do PCB, PSTU, PSOL e PT e instituições esquerdistas estão entre as lideranças que apoiam a ocupação. Destes, apenas dois, o PCB e o PSTU, admitem sem rodeios que prestam solidariedade ao movimento. Os demais têm integrantes circulando livremente nos acampamentos.
Vereadores e deputados estiveram em episódios importantes dos quatro meses da recente história da ocupação. Oficialmente, nenhum dos apoiadores confirmou que dá sustentação financeira aos Amarildos. Justificam que o suporte vem de doações para suprir as necessidades básicas dos envolvidos na luta.
No período em que o acampamento esteve instalado às margens da rodovia SC-401, no norte da Ilha – lugar considerado de forte potencial para receber grandes empreendimentos –, estudantes universitários, sindicalistas e militantes de partidos políticos dividiram espaço com algumas centenas de famílias que reivindicavam melhores condições de moradia e terra para plantio.
A bandeira “Terra, trabalho e teto” se confunde com os reclames urbanos e agrários do movimento. A reintegração de posse, reivindicada pelo empresário e ex-deputado Artêmio Paludo, acabou sendo concedida pela Justiça Agrária.
A ocupação chamou atenção pela proposta de questionar a propriedade da terra dentro de uma cidade, em um terreno a caminho das badaladas praias do norte da Ilha. A reivindicação refletiu o perfil de uma das principais lideranças da ocupação, Rui Fernando da Silva Junior, que militou pelo MST, embora tenha morado e trabalhado em cidades.
O movimento tem página no Facebook, usa a internet para divulgar as ações e também convocar outros manifestantes. Alguns dos personagens se identificam também como simpatizantes ao movimento Brigadas Populares, criado em Santa Catarina em 2011. Na internet, a entidade nega que esteja na coordenação do acampamento, mas admite apoio ao objetivo desenvolvendo, por exemplo, a divulgação no blog.
Na sexta-feira, uma nota publicada pelo Tribunal de Justiça deu um parâmetro do que tem significado o monitoramento do impasse pelo Estado, desde 23 de dezembro de 2013 até o dia 21 deste mês. A contenção e o acompanhamento dos ocupantes geraram um gasto de R$ 109 mil e mobilizaram 455 policiais militares.
Desde que se mudou para Palhoça, o movimento começou a perder força, com redução no número de participantes. Fontes que acompanham a ocupação afirmam que há uma grande pressão para que nenhum integrante deixe o acampamento.
(DC, 27/04/2014)
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