A diminuição em 27% dos investimentos do governo estadual no último ano, e os recentes problemas de abastecimento de água em cidades do litoral catarinense são algumas das justificativas do secretário nacional de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Vinícius Lummertz, para apoiar a entrada da iniciativa privada em setores estratégicos dos governos, como as companhias de água e energia elétrica. Para ele, o poder público deveria ser apenas um regulador das ações dessas empresas.
Lummertz ainda afirma que isso não acontece por preconceito contra o setor privado. Sem essas mudanças, ele acredita que nenhum gestor poderá resolver problemas bem conhecidos de quem visita o litoral catarinense no verão, como falta de mobilidade, água e energia. Ele diz também que em muitos lugares o turista é tratado como um invasor. Confira os principais trechos da entrevista que o secretário concedeu ontem ao Notícias do Dia.
A precariedade do abastecimento deixou muitos turistas sem água em Florianópolis e outras cidades do litoral catarinense. Órgãos públicos e governos minimizaram a situação, mas nenhum chegou a pedir desculpas oficialmente. Por quê?
O problema do turismo é ainda não fazer parte da preocupação central dos governos. É visto como uma atividade periférica. Em alguns lugares, ainda há um preconceito com o turista, o tratam como um invasor. Isso é reflexo do nosso atraso.
Qual a solução para esse problema da falta de estrutura em Florianópolis?
Esse preconceito com o turista também acontece com o setor privado. Em 2007, quando eu era diretor da SC-Parcerias, propus a criação de uma empresa de economia mista para gerir o abastecimento de água na cidade. Mas a ideia foi recebida com críticas. Para fazer algumas áreas funcionarem, é preciso investimento, algo que está sempre amarrado quando falamos do setor público. Por exemplo, a Celesc tem uma rede de distribuição muito boa, mas a geração é praticamente inexistente. Para fazer isso, é preciso dinheiro. Se o modelo não funciona, o gestor não pode fazer milagres.
Então o senhor acredita que a privatização seria a única saída para alguns setores, como o abastecimento de água?
Sim. Podemos comparar a freeway [BR-290], no Rio Grande do Sul, que tem pedágio há 35 anos. Na época, nem se cogitava fazer o mesmo aqui em Florianópolis. Hoje, temos pedágio sem uma rodovia com a mesma capacidade. Se o governo não tem dinheiro, a solução é criar atrativos para o setor privado fazer os investimentos necessários.
Falta investimento para o turismo?
Santa Catarina diminuiu em 27% os investimentos públicos em turismo no último ano. Esse setor movimenta R$ 2 bilhões por ano em Florianópolis, e isso é aproximadamente 12,5% do que é gerado na cidade. Esse é um dos percentuais mais altos do país. No entanto, apenas 17% dos investimentos no Brasil vão para esse setor, quando o ideal seria 25%. Há países, como a China, que chegam a aplicar 50% dos investimentos em turismo. Damos todo tipo de incentivo para a indústria, mas esquecemos do turismo. Falta uma visão de mais respeito ao turismo quanto economia.
O que também prejudica o setor?
Precisamos de um modelo de crescimento. Antes de planejar, é preciso saber aonde se quer chegar. Santa Catarina continua aproveitando o velho turismo de belezas naturais, e isso é pouco. O governo federal tomou uma boa iniciativa em promover grandes eventos, como a Copa do Mundo.
Mas esses grandes eventos não podem se tornar um tiro no pé? O turista, após ver o jogo em estádios modernos, sai e encontra problema de mobilidade e demora horas para voltar ao hotel, que talvez esteja sem água e energia.
Acredito que não. A Copa das Confederações foi muito bem avaliada, porque esses eventos são mais televisivos. O número de pessoas que saem de casa não é tão grande. São dois bilhões de pessoas assistindo na televisão e apenas 50 mil no estádio. Não podemos ver essa questão pelo lado negativo. O que precisamos entender é que esses grandes eventos aumentam a nossa consciência sobre a qualidade do turismo. É uma ótima oportunidade para amadurecermos.
Quais os projetos da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo para Florianópolis?
O mais recente é um plano para apoiar a divulgação da cidade por meio da internet. Além disso, temos obras estruturais que refletem no turismo da Capital, como a duplicação das rodovias.
A língua ainda é um entrave para o catarinense na hora de receber o turista estrangeiro?
De acordo com o linguista norte-americano Noam Chomsky, a língua é inata. Se você ensinar para uma criança quatro idiomas ao mesmo tempo, ela vai aprender. Mas é preciso praticar. Nós não temos um turismo internacional importante, com exceção da língua espanhola por causa dos países vizinhos. O catarinense acaba se virando nessa área, até pela proximidade das duas línguas. Muitos turistas elogiaram a receptividade do povo brasileiro na Copa das Confederações, mas houve uma grande dificuldade de comunicação e isso foi criticado pela Fifa.
(Notícias do Dia Online, 09/01/2014)
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