Turistas que visitaram as cidades do litoral catarinense no final do ano passaram por momentos que preferem esquecer. Dias que seriam de descanso e lazer se transformaram em reclamações e insatisfação por falta de serviços básicos, como ter água na torneira. Em entrevista ao Notícias do Dia, o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Valdir Walendowsky, admite que isso já era esperado, e afirma saber que alguns turistas podem não voltar mais ao Estado, mas garante que a maioria ainda elogia a estrutura da região.
Como o senhor vê o reflexo da falta de água no turismo em Santa Catarina?
Santa Catarina é um grande destino turístico nacional, e também internacional. Essa questão da água tem impacto nisso? Sim, algumas pessoas vão ficar chateadas. Só que o destino é muito maior do que essa falta de água. Alguns não vão vir porque passaram por algum problema, mas a maioria vai retornar. Essa é a avaliação do governo do Estado. Em novembro de 2008, com as enchentes, também sofremos bastante, mas o turismo se recuperou a tempo.
O governo não está minimizando um problema que afetou milhares de moradores e turistas nos últimos dias?
Não estamos minimizando, mas não dá para dizer que o turismo no Estado está perdido. Santa Catarina é um dos estados do Brasil que mais faz investimento em turismo.
Há como calcular as perdas do setor?
Impossível. Não existe fórmula mágica. Porque não é apenas nos hotéis, mas também nas casas alugadas e toda a cadeia ligada ao turismo. Mas reforço que o nosso destino é muito maior do que isso. Os serviços de água e luz são desafios, mas também temos que pensar em outros fatores relacionados ao turismo, como o atendimento em bares e restaurantes, por exemplo.
O que pode ser feito para evitar que isso se repita na próxima temporada? Não falta uma organização do governo estadual?
Muitas cidades têm seu abastecimento municipalizado, e nós não podemos fazer nada. Elas também apresentam problemas no serviço. Nem tudo é culpa da Casan.
O senhor acredita que o problema de água em Florianópolis possa ser a superlotação da cidade com turistas que gastam pouco?
Não podemos cercear a vinda de ninguém. Todos podem ir e vir, de acordo com a Constituição. Mas as cidades que são destinos turísticos têm que definir se vão pagar pedágio. Isso tem que ser discutido entre os envolvidos. Florianópolis é uma ilha que tem quase 50% de sua área como reserva ambiental. Então isso tem que ser pensado. Bombinhas, Penha e Balneário Camboriú também estão nessa situação.
O planejamento turístico do governo do Estado já conta com a falta de água na temporada?
Claro. Temos que olhar todo o lado econômico da empresa para entender isso. Outro ponto é o aumento da população. A demanda é muito alta. No Réveillon, a população de Florianópolis dobrou.
A função do Estado não seria cobrar que isso não ocorresse mais?
O governador [Raimundo Colombo] cobra. Eu não tenho esse poder.
Os caminhos para uma solução
A reação negativa dos turistas apresentada no relatório de ocupação hoteleira no final do ano da Fecomércio-SC (Federação de Comércios Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina) é o primeiro reflexo da falta de água na economia catarinense. Presidente e diretores de outras instituições pensam nas consequências e possíveis soluções para que o problema não volte a se repetir.
O comércio é o primeiro a sentir os efeitos do turismo. Para Sara Camargo, presidente da CDL-Florianópolis (Câmara dos Dirigentes Lojistas), o setor é o mais prejudicado. “Afeta um grande número de pessoas, funcionários e empresários. A única solução é planejar melhor”, disse.
Nesse setor, os negócios são afetados em cadeia, afirma Sander DeMira, presidente da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis). “O hotel fica sem hóspede, o taxista sem viagem, o restaurante sem cliente, e assim por diante. Temos que planejar e investir mais, e o resultado não vem rápido”, apontou.
Marcos Arzua, diretor-executivo da Fecomércio, comenta que as respostas devem ser discutidas com vários setores. “Não existe solução pronta, ou magia. Todos os envolvidos têm que saber das suas responsabilidades”, disse.
“Soube que aproximadamente 10% das reservas futuras em hotéis das regiões afetadas já foram canceladas. Uma saída que estamos tentando é incentivar um equilíbrio do turismo durante o ano, não concentrado”, revelou Maria Cláudia Evangelista, secretária de Turismo de Florianópolis. Ela espera que a cidade receba mais de 1,5 milhão de pessoas nos próximos três meses.
O secretário nacional de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Vinícius Lummertz, lembra que em 2007, quando era diretor da SC-Parcerias, propôs a criação de uma empresa de capital misto para administrar o sistema de água e saneamento da Capital. “O projeto foi vetado na Câmara de Vereadores, pois ainda há muito preconceito com o setor privado no nosso país”, afirmou.
(Notícias do Dia Online, 08/01/2014)
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