Ao contrário do que pensam os empresários do setor turístico, os banhos não tomados mesmo com temperaturas passando dos 30ºC entre o Natal e o Réveillon e as cenas de caminhões-pipas chegando às casas para suprir a falta de água em Florianópolis e em outras cidades litorâneas não devem prejudicar o turismo de SC nas visões dos secretários de Estado de Planejamento, Murilo Flores, e de Turismo, Valdir Walendowsky. Para os dois, o Estado precisa caminhar para um trabalho de qualificar o turista que chega ao Estado.
Diário Catarinense – Já foram calculados os prejuízos para o turismo de Santa Catarina por causa da falta de água e de luz?
Valdir Walendowsky – É difícil calcular isso. Tivemos também um grande problema em 2008 com as enchentes. Também foi feito um alarde todo, mas nosso destino é muito bom e recuperamos toda a nossa imagem em 2008. Nem por isso deixamos de promover o turismo, até porque não fazemos só para o verão.
DC – Mas não chegou nem a arranhar a imagem do turismo em SC?
Walendowsky – O problema foi muito pontual. A gente não pode se eximir de problemas, mas não é culpar só o Estado, até porque muitas situações ocorreram por falta de competência dos municípios em relação à água.
Murilo Flores – Saneamento básico é de responsabilidade municipal. A Casan é uma empresa onde o maior acionista é o governo do Estado, mas ela é contratada pelos municípios. Como o governo do Estado é o maior acionista, tem que assumir as ações e os problemas. A Casan está numa recuperação, que exige um esforço de longo prazo. Você pega um local que tem 400 mil pessoas e no Ano-Novo vira um milhão, se você construir uma estrutura para um milhão e ficar ociosa o ano inteiro quem vai pagar é o contribuinte catarinense. Tem que medir custo e benefício. Se compensa pela renda que o turismo vai trazer, tem que investir.
DC – Atrair turista não é de hoje. Quando é planejada a vinda do turista para cá, não há conversa com outros setores?
Walendowsky – Tem o lado todo imobiliário que não é turismo e não conversa com o setor turístico. Nós temos as nossas reuniões dentro do governo durante o ano todo. Quanto eu falei que ia crescer o turismo nessa temporada, eu falei como se comportava o mercado. Coincidiu uma extensão do feriadão, onde há uns anos as fábricas não estavam dando férias coletivas e nesse ano deram, inclusive fora de SC. Estávamos acompanhando os voos. Era a previsão de um crescimento.
Flores – Vi alguém reclamando sobre a ideia de limitação, como já ocorre em Fernando de Noronha. A pergunta que a gente tem que fazer é qual o turismo que a gente quer? Se faz esse turismo de massa como na Ilha de SC não há infraestrutura que chegue. Temos que focar mais em qualidade e trazer mais receita para a Ilha. Mobilidade urbana a gente não dá conta no dia a dia do ano. Como vai resolver o problema de Florianópolis com esse povo?
DC – Não interessa o turismo de massa?
Flores – Temos que qualificar mais esse turismo. Vá a locais parecidos com Florianópolis e veja como o turismo é tratado. Estamos atrasados em 20 anos ao pensar nisso. Mas isso não é uma culpa exclusiva de governos. Eles têm falhado ao longo do tempo em não fazer com que investimentos em infraestrutura ande mais rápido.
DC – Mas vai recuar em chamar turistas para o Estado?
Walendowsky – O nosso trabalho é em cima do turista qualificado, que tem poder aquisitivo maior. Mas não podemos cercear a vinda de ninguém. Perfil do nosso trabalho é ir onde a gente quer atingir, buscar cada vez mais um turista com um gasto médio diário maior.
Flores – A cidade não suporta um turismo baseado num gasto pequeno, mas ganha na quantidade.
DC – E em relação à declaração do presidente da Casan, Dalírio Beber, que insinuou que os problemas acabariam quando os turistas fossem embora? A solução é tirar os turistas?
Walendowsky – Desconheço. A questão das pessoas irem para algum lugar dentro do Brasil está na Constituição. Elas vão para onde quiserem. Não tem como cercear a vontade da pessoa em ir para algum lugar. O turismo para SC tem um lado econômico muito forte e social também. Não vejo fórmula de tirar, não tem como fazer isso. Temos que cada vez mais aprimorar todo o trabalho de investimento para melhorarmos a qualidade do turismo nas cidades.
DC – Medidas mais urgentes para evitar que isso volte a se repetir no feriadão do Carnaval em março, há algo sendo feito?
Walendowsky – Saímos de uma reunião da Celesc agora (ontem), o presidente apresentou todo um trabalho de ações para minimizar problemas técnicos. São investimentos que estão sendo feitos e programados. Estão com uma série de equipes a mais do que foram previstas. Mas tudo que podiam fazer a Celesc já fez: ampliação de equipe técnica para ficar de plantão.
DC – Com a Casan já houve essa conversa?
Walendowsky – Estamos aguardando uma reunião. Quarta-feira uma equipe técnica da Casan junto com a Celesc vai fazer uma varredura do Norte da Ilha. São duas equipes técnicas para solucionar possíveis problemas que podem ocorrer.
Flores – A Casan está fazendo investimentos, mas não vai atender ao Carnaval. São R$ 33 milhões só em água. São duas obras em licitação, como no Norte da Ilha, e uma em andamento. São de médio prazo.
DC – Não vai ser necessária uma campanha de recuperação da imagem?
Walendowsky – De forma alguma. Não será preciso. O Estado é muito forte no conceito de imagem. Não será preciso fazer uma campanha para melhorar a imagem.
(DC, 07/01/2014)
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