[Sergio da Costa Ramos- DC– 13/01/2014]
No Brasil, vivemos uma temporada de absurdos e inversões. Uma interrupção na energia elétrica durante inacreditáveis 55 horas em 2003 ou de um acumulado de 14 horas, em Canasvieiras, ao longo deste verão, não despertaram motivação para uma única passeata. Faltou água e luz, falta saúde e educação, mas o monopólio dos protestos parece estar restrito à organização em rede.
Assim como milhões saíram às ruas muito justamente em junho de 2013, o manifesto comandado à partir da web tornou-se um anticlímax, dominado por grupos antissociais, como os Black-Blocs, por exemplo, que quebram tudo em nome de nada.
Meia dúzia de filhinhos de papai da Beira-Mar podem interromper o trânsito na maior avenida da cidade por melhores mesadas. Outra meia dúzia de excluídos da favela do Siri podem fazer a mesma coisa nas ruas de Canasvieiras, por tudo ou por nada. O Estado não intervirá, restaurando o direito maior dois demais cidadãos: o de ir e vir em liberdade.
Foi Fernando Sabino (O Encontro Marcado), quem, adido cultural em Londres, cunhou a melhor definição que se conhece da Inglaterra: “é aquele reino bizarro, que parece ter a medida certa para todas as coisas”.
Para organizar protestos, por exemplo, o cidadão tem todo o direito de protestar, nos lugares certos. Num canto do Hyde Park, cabeceira da principal rua comercial da cidade, a Oxford Street, pode-se protagonizar um comício com milhares de manifestantes, demolindo o reino, a Rainha Elizabeth II e o enjoado príncipe Charles, aí incluídos o primeiro ministro de plantão ou, eventualmente, o bardo Shakespeare. Ninguém vai importunar os manifestantes.
Agora, tenham o nome que tiver, Black-Blocs ou desempregados do bairro do Brixton (a favela de Londres), serão removidos pela força se alguém se atrever a interromper o trânsito em Oxford ou Piccadilly Circus.
Todos já sabemos e estamos a espera de uma Copa do Mundo com protestos organizados em rede – contra as redes da Fifa. Ora, não é proibido protestar contra uma entidade que pode ser tudo, menos simpática. Corrupção existe no mundo, seja na construção de um estádio ou de um hospital. E ambos são necessários, desde que edificados com exação.
O que não pode ser permitido é o quebra-quebra e o confronto contra aqueles que desejam chegar aos estádios para, pacificamente, assistir a esta paixão nacional que é um bom jogo de futebol.
Há mentes toscas achando que podem melar a Copa, sem melar a própria democracia.
Água e lucro
O ex-diretor da Casan e correto ex-vereador Afonso Veiga Filho fez contundente declaração à RBS, afirmando que de longa data havia o plano, estratégico para a empresa, de construção de reservatórios para estoque e distribuição d’água no norte da Ilha – e que foi por falta desses reservatórios que as torneiras secaram em Canasvieiras.
A agência reguladora, criada para acompanhar as atividades da concessionária, não notou a omissão de desastradas gestões da companhia. Depois do prejuízo consumado contra o contribuinte, resolveu multar a Casan, mas não exige a medida saneadora dos reservatórios.
Ora, quem vai pagar essa multa são os usuários, pelo aumento da tarifa ou pela falta de qualidade nos serviços. Quando poderia aperfeiçoar sua estrutura nos balneários, a concessionária contabilizou lucros para distribuí-los em forma de dividendos para diretores e funcionários.
Tivesse reinvestido em reservatórios, não haveria dividendos, mas fornecimento d’água. O lucro seria naquilo que a empresa hoje não possui: credibilidade.
Livro aéreo
Pelo menos uma boa notícia surge de onde menos se espera: a Infraero está implementando em seus aeroportos campanha de incentivo à leitura, na qual fornece livros de uma estante postada nos terminais, para que passageiros leiam enquanto aguardam o embarque. Se estiverem gostando, podem levar o livro para bordo e devolver no destino. A campanha chama-se Bookcrossing – O Livro Viajante da Infraero.
No Hercílio Luz, nem é preciso dizer, a campanha ainda não aterrissou.
Um dia, no novo terminal, quem sabe…
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