Comprar uma embarcação não é a maior dificuldade para quem pretende explorar o mar em Santa Catarina. Há iates e lanchas de vários modelos e orçamentos. Porém, na contramão desse cenário, está a via crucis para encontrar marinas ou garagens náuticas disponíveis no Estado. Em Florianópolis, os estabelecimentos estão superlotados e revelam a falta de infraestrutura no setor.
O Diário Catarinense ligou para as 14 garagens náuticas da Capital e constatou que a média de ocupação varia entre 90% e 100% (mapa na página ao lado) antes da chegada do verão, período de maior movimento. Essa falta de espaço leva proprietários de embarcações para outras cidades.
Nerivaldo Nelson da Silva, da Marina Blue Fox, em Florianópolis, passa pelo mesmo drama todos os anos: ter de dizer não aos clientes. Com 130 vagas no norte da Ilha, raramente tem espaço sobrando.
– Sempre indico Balneário Camboriú e Porto Belo. Tenho cliente que deixa o barco em Balneário porque não tem condições de deixar aqui – lamenta.
O presidente do Instituto de Marinas do Brasil e membro do Comitê Internacional de Marinas, Cláudio Brasil do Amaral, destaca que a falta de vaga é um problema que se estende por todo o litoral brasileiro, mas tem afetado SC nas duas últimas décadas. Mais do que isso, alerta que o colapso na área já está acontecendo, e não é algo para o futuro.
Segundo ele, a demanda reprimida é tão grande no Estado que mesmo antes de uma marina ser construída já tem uma lista de espera de vagas.
Impacto no turismo de Santa Catarina
Sem ter um valor exato das perdas para o Estado, o consultor em desenvolvimento náutico Ernesto São Thiago acredita que as cifras deixadas de ganhar todos os anos por falta de local para os turistas atracarem os barcos são muito altas.
– Florianópolis tem vocação para ser o maior destino náutico no Brasil por causa de sua posição geográfica: entre o Rio de Janeiro e Punta del Leste – confirma.
O consultor acrescenta que já propôs ao Estado a elaboração de um plano para o desenvolvimento do turismo naútico, incluindo a costa marítima e os rios. A ideia é identificar áreas para a atividade e reservá-las.
O presidente da Santur, entidade responsável pela divulgação turística do Estado, Valdir Walendowsky, diz que as embarcações representam aluguel, postos de trabalho e trazem dinheiro para o Estado.
– Os barcos poderiam vir aqui agregar mais valor às cidades.
Se as embarcações acima de 70 pés passam ao lado de Florianópolis por não conseguir nem abastecer, solucionar este problema não é uma tarefa fácil e vai além da vontade dos empresários. Segundo o consultor Ernesto São Thiago, abrir este tipo de negócio é uma batalha.
– Não temos uma legislação que estimule esse mercado. Os órgãos não conversam entre si – lamenta.
Daniel Vinícius, gerente de avaliação de impacto ambiental da Fatma, explica que para todos os tipos de licenciamento há regras. No caso das marinas, o empresário precisa de autorização da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) porque vai mexer em áreas da União. Também é preciso um alvará de construção da prefeitura e autorização do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ficando com a fundação o papel de analisar o licenciamento ambiental.
Embarcações nas garagens informais
Apesar de possuírem mais vagas do que Florianópolis, as cidades de Porto Belo e Balneário Camboriú também sofrem com a falta de espaço. A lotação poderia ser maior se não houvesse embarcações em garagens informais, segundo o conselheiro do Iate Clube Porto Belo, Hans Dieter Didjurgeit. Ele afirma que muitas pessoas acabam guardando em casa ou em outros locais porque não há espaço para todos.
Ele explica que o poder aquisitivo das pessoas aumentou nos últimos anos e as marinas ou garagens não suportam a quantidade de lanchas.
Obra de marina é embargada pela prefeitura
O empreendimento do empresário Ronaldo Daux foi embargado na semana passada pela prefeitura de Florianópolis. Estavam em construção uma marina e um clube náutico na Ponta do Ataliba, ao lado do Parque de Coqueiros, região continental.
A marina com capacidade para 200 embarcações de 30 pés e custando cerca de R$ 20 milhões deve ser discutida sem precisar ir para Justiça, segundo Daux. O empresário defende que o alvará de construção era válido e que foi aprovado na última gestão.
Em contrapartida, o presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Dalmo Vieira Filho, explica que o empreendimento estava sem alvará e que não se pode fazer “vista grossa” para este problema de documentação. A explicação para a retirada da autorização é de que o documento está no montante que foi revogado neste ano. Agora, o único caminho é começar o processo novamente.
(DC, 05/11/2013)
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