Depois do lançamento da Cidade Sustentável Pedra Branca, em Palhoça, é a vez de Biguaçu ser escolhido para abrigar um bairro planejado na Grande Florianópolis.
Com projeto comandado pelo arquiteto Jaime Lerner, conhecido pelas mudanças arquitetônicas em Curitiba e pelo planejamento da Cidade X, do empresário Eike Batista, a intenção do Projeto Ativa Biguaçu, lançado ontem, em São José, é transformar um terreno de 388 mil metros quadrados em um loteamento com atrações que vão desde um polo de design a uma marina com espaço para visitantes.
De acordo com o engenheiro civil Eugênio Leal da Silva, diretor do projeto, o convite ao arquiteto foi feito há três anos, quando as construtoras Cota Empreendimentos e Beco Castelo, ambas de Florianópolis, decidiram investir na região. A intenção é que as obras comecem entre o final de 2014 e o início de 2015. O valor da obra não foi divulgado pelos parceiros.
– Escolhemos Biguaçu pelo potencial de crescimento. Além disso é mais fácil se deslocar para o Norte de Santa Catarina do que para o Sul, o que favorece a região do loteamento.
Entre as obras apresentadas por Lerner estão um polo de design, que reuniria empresas da área e cursos de design náutico e moveleiro, além de um mercado público e um píer com marina – capaz de abrigar barcos de visitantes. Paulo Kawahara, sócio da Jaime Lerner Arquitetos Associados, lembra que o projeto apresentado é inicial e pode ser moldado conforme os investimentos das construtoras interessadas em se associar à equipe.
– Pensamos neste loteamento para a primeira moradia e não apenas para veraneio. O projeto foi planejado para reunir o máximo de variedade quanto à renda da população e aos serviços oferecidos, mas sabemos que isto depende do que o mercado vai querer investir – afirma Kawahara.
(DC, 27/11/2013)
“Novas pontes só vão atrair mais carros”
De passagem em São José para a apresentação do Projeto Ativa Biguaçu, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner fala ao Diário Catarinense sobre o novo trabalho que tem foco na qualidade de vida , defende a utilização de um sistema aquaviário como alternativa para desafogar o trânsito da Grande Florianópolis e critica a qualidade do transporte público de Curitiba, referência mundial em planejamento.
Diário Catarinense – Quais os diferenciais urbanísticos do Projeto Ativa Biguaçu?
Jaime Lerner – O essencial é criar uma alternativa importante para a região da Grande Florianópolis. Com esse momento bom que o município está vivendo, é necessário resolver o problema de espaço da Ilha. Então, as alternativas precisam ser aproveitadas da melhor maneira e a localização do Ativa Biguaçu é estratégica: fácil acesso pela BR-101 ou por um sistema aquaviário a qualquer ponto da Ilha e bom urbanismo. Viver, trabalhar, recrear, tudo acontecendo junto.
DC – Uma das principais crises urbanas contemporâneas é a questão da mobilidade. Como melhorar isso em Florianópolis?
Lerner – Eu não vejo outra alternativa para a Grande Florianópolis que não tenha uma parte da mobilidade resolvida pelo sistema aquaviário. Não é com novas pontes que vamos resolver isto. Novas pontes só vão levar a novos pontos de congestionamento.
DC – Como ficou o projeto da Cidade X, do Eike Batista, que sua empresa de arquitetura planejou?
Lerner – Em função dos últimos acontecimentos, todos os empreendimentos ligados ao Porto Açu estão aguardando a solução dos problemas que aconteceram. Continuo achando que esse projeto que fizemos vai valer para o Porto, não importa quem esteja à frente, porque é uma obra necessária. Ela tem uma visão sustentável e quem quer que esteja à frente do projeto vai ter uma solução nesses moldes.
DC – O projeto foi concluído?
Lerner – Está sendo detalhado, agora demos uma parada para esperar o que vai acontecer. Fizemos um contrato da parte inicial do projeto e cumprimos. Agora aguardamos o momento dessa solução financeira.
DC – Curitiba ficou reconhecida internacionalmente como referência em urbanismo. Que ajustes teriam de ser feitos hoje no projeto para readequá-lo à população atual e às demandas de mobilidade?
Lerner – A visão que sempre tivemos de Curitiba era o compromisso permanente com a inovação. A cidade é a que mais apresentou soluções inovadoras e é referência no mundo inteiro, mas que precisava continuar apresentando essas soluções. Obviamente, o sistema caiu em qualidade e acho que essa queda sempre foi a procura de uma justificativa para o metrô, que não é necessário. Faltou continuar investindo na qualidade do município.
(DC, 27/11/2013)