Dividir as vias públicas com pedestres e carros é tarefa diária dos ciclistas de Florianópolis, que lidam com a falta de infraestrutura nas ruas da Capital. A estudante de psicologia, Larissa de Cézar, 23, está sempre em alerta. Ela passa diariamente de bicicleta pela rótula da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), na praça Santos Dumont, onde morreu a ciclista e universitária Lylyan Karlinski em julho deste ano. Para avaliar e discutir a estrutura necessária que garantirá a mobilidade e segurança dos ciclistas na Capital, o prefeito em exercício, João Amin, assinou nesta terça (1) o decreto de lei n° 12.177 com o objetivo de fortalecer o Pró-Bici, com a Comissão Municipal de Mobilidade por Bicicleta.
A Comissão, criada em 2011 com o decreto de lei n° 8.867, será ampliada e começará a operar assim que for publicado no Diário Oficial, ainda esta semana. O grupo irá reunir representantes de órgãos da Prefeitura como o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), a Fundação Franklin Cascaes, a Guarda Municipal, secretarias da prefeitura, e ainda entidades civis, como a Viaciclo (Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis) e a Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). O Ipuf será o órgão gestor da comissão permanente, onde também serão realizados os encontros.
Hoje, Florianópolis conta com 50 quilômetros de ciclofaixas e ciclovias, incluindo a de Coqueiros, no Continente, inaugurada em julho mas que só funciona aos domingos. “O Pró-Bici será responsável por analisar, consultar e elaborar estudos para futuras obras de melhorias do transporte de bicicletas na região e também adaptações de projetos que ainda serão implementados para melhorar a qualidade de vida dos ciclistas na cidade”, explicou Amin.
Falta de bicicletários também prejudica
Para a estudante de psicologia Larissa de Cézar, 23, a Comissão criada pela prefeitura é necessária para melhorar a qualidade de vida de todos os ciclistas. O trajeto que ela faz de casa, no bairro Itacorubi, até a Universidade leva em torno de 20 minutos. Ao longo do percurso, ela enfrenta a falta de ciclovias e ciclofaixas, sinalização deficitária e desrespeito das leis de trânsito. Pontos que geram insegurança diária. “Adoro andar de bicicleta, mas é um perigo constante. Os trajetos são complicados, não tem opções para os ciclistas e falta educação para os motoristas e pedestres no trânsito”, argumentou.
Outra reclamação é a inexistência de bicicletários na Capital. “Quando saio de bicicleta, não tenho onde deixá-la. Acabo colocando-a em postes, sempre de qualquer jeito”, comentou. O projeto da prefeitura, o Floribike, que disponibilizaria bicicletas para aluguel em diversos pontos da cidade, foi cancelado na semana passada por falta de propostas e de empresas interessadas. Um novo edital deve ser apresentado até o fim do ano. O projeto inicial previa 1.300 suportes para 664 bicicletas distribuídas em 68 pontos de aluguel e 111 estações na região central e nos bairros que cercam a UFSC.
Ainda quando oficializou a licitação do Floribike, em março deste ano, o prefeito Cesar Souza Júnior, garantiu que “todas as obras viárias executadas pela atual administração serão pensadas e projetadas para o uso da bicicleta”.
Medo e insegurança ao andar de bicicleta
Na avenida Madre Benvenuta, no Santa Mônica, a situação é preocupante. O estudante Guilherme Burg Mayer, 21, percorre o trajeto do bairro Itacorubi até a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) todos os dias. Além de sofrer com a falta de ciclovias e ciclofaixas, ele precisa enfrentar os bueiros, buracos, além de ter que desviar de poças de água em dias de chuva.
Por causa desses fatores e do trânsito intenso, por vezes o estudante tem que subir em calçadas para desviar dos problemas de estrutura, dividindo o espaço público com os pedestres. “É muito arriscado andar de bicicleta em Florianópolis. Estou acostumado, mas o medo e a insegurança são sentimentos que aparecem todos os dias”.
Para a engenheira sanitária Branda Vieira, 25, a falta de conhecimento da população sobre as leis para ciclistas e o “amor ao carro” fazem com que a cultura dos automóveis seja valorizada. “As vias da cidade não são pensadas para incentivar as pessoas a usar bicicletas, pelo contrário. Há lugares que eu gostaria de passar pedalando, mas não dá”, disse.
Membros da Pró-Bici
Órgãos municipais:
– Três representantes do Ipuf, sendo um deles o Superintendente que presidirá a Comissão
– Dois representantes da Guarda Municipal de Florianópolis (GMF)
– Um representante da Secretaria Municipal de Obras
– Um representante da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana
– Um representante da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável
– Um representante da Secretaria Municipal de Educação
– Um representante da Fundação Municipal de Esporte (FME)
– Um representante da Fundação Cultural de Florianópolis do Meio Ambiente (Floram)
– Um representante da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC)
Sociedade civil
– Nove membros associados à Viaciclo (Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis). Estes representantes serão divididos da seguinte forma: um representante da Viacilo; um da Bike Anjo Floripa; um representante de grupos de ciclistas; um do Cesusc; um do Grupo CicloBrasil (da Udesc); um do movimento Bicicletada/Massa Crítica; um representante de empresa de turismo por bicicleta; um de empresa comercial de bicicleta; e um da área de esportes.
– Um representante local da União de Ciclistas do Brasil (UCB)
– Um representante da Associação de Skate da Grande Florianópolis (ASGF)
– Um representante da Federação Catarinense de Hóquei e Patinação (FCHP)
– Um representante da empresa prestadora do serviço de bicicletas coletivas da Capital
– Um representante do Floripa Acessível
– Um representante da Câmara de Dirigentes Lojista (CDL)
(ND, 02/10/2013)