(Editorial, DC, 11/08/2013)
O governo da Alemanha anunciou nesta semana a construção de uma rodovia exclusiva para bicicletas, como alternativa para o desafogo do tráfego numa das áreas mais movimentadas do país, entre as cidades de Dortmund e Duisburg, dois importantes centros industriais do país mais próspero da Europa. O projeto denominado Radler B-1 será implantado não apenas para aliviar o trânsito, mas também como instrumento de combate à poluição atmosférica. A cicloestrada será implantada paralelamente a um dos trechos mais movimentados da A40, uma das principais rodovias da Europa, e servirá de estímulo para que os alemães usem bicicletas para chegar aos seus locais de trabalho.
A conclusão da nova estrada está prevista para 2021, mas a decisão de construí-la, anunciada pelo ministro de Economia, Energia, Construção e Transporte do país, Harry Voigtsberger, tem um significado histórico porque representa um enfrentamento à lógica do automóvel. Pela primeira vez, um grande investimento público está sendo feito num transporte que não polui e que proporciona vida saudável para seus usuários. Pela primeira vez desde que o automóvel foi inventado, no final do século 19, espaços públicos estão sendo pensados para uma máquina de tração humana.
A iniciativa alemã é mais do que bem-vinda num momento em que a sociedade humana questiona o consumo desenfreado, a pressa irracional e o preço em vidas humanas que o automóvel cobra da humanidade. O Brasil tem todos os motivos para olhar essa ideia com atenção. Nosso trânsito ceifa cerca de 50 mil vidas anualmente, deixando um contingente incontável de sequelados. Os congestionamentos diários nas estradas brasileiras representam prejuízos consideráveis para a economia e desgaste físico e emocional para as pessoas que se deslocam diariamente pelas estradas e cidades.
Por aqui, infelizmente, a bicicleta ainda não alcançou o prestígio de contar com vias próprias, a não ser trechos estreitos e reduzidos em meio ao trânsito das grandes cidades. Há uma crescente preocupação dos administradores municipais, pressionados pelos usuários, de implantar ciclovias, mas ainda são raras as pistas de boa qualidade, em que o ciclista não precisa disputar espaço com skatistas, pedestres e até animais de estimação. Nada preocupa mais, porém, do que a segurança. Em sua maioria, as pistas para bikes têm tráfego de automóveis nas proximidades ou são cruzadas por veículos, o que costuma gerar acidentes e uma permanente animosidade entre ciclistas e condutores.
Por isso a solução alemã, que já encontra ressonância em outros países europeus, merece ser considerada como alternativa para o trânsito cada vez mais intenso e letal de veículos motorizados em nosso país.
O Brasil tem todos os motivos para olhar a ideia alemã com atenção. Nosso trânsito ceifa cerca de 50 mil vidas por ano, deixando um contingente incontável de sequelados.
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